sábado, 15 de junho de 2013

Publicado em 14/06/2013




Editorial:

JURISIMPRUDÊNCIA

Por Geraldo Elísio

''O homem sábio rejeita a imprudência, cumpre suas obrigações e não desrespeita seus limites. '' - Lubs


Os mais jovens não sabem quem foi dona Zezé em Belo Horizonte, uma honorável prostituta dona de um rendez vous – lugar de encontro como era chamado – quase na esquina de Avenida Francisco Sá com Avenida Assis Chateubriand e que durou até quase o início dos anos 90. Situava-se em frente ao extinto Diário Católico, onde eu trabalhei também. De vez em quando algum repórter ou mesmo editores e diretores sumiam e eram encontrados lá cumprindo pauta. Em tempos de sexo reprimido as garotas de programa que lá batiam ponto, escolhidas a dedo pela beleza e perfeição do corpo, tinham como dever funcional ser absolutamente liberais atendendo a todas as exigências dos fregueses. Daí o sucesso do rendez vous.

Mas não estou aqui para contar história da vida boêmia da Capital dos mineiros. Ao procurar um livro em minha biblioteca bati os olhos em Festival de Besteiras que Assola o País, uma coletânea de episódios ridículos ocorridos no Brasil após o golpe civil militar de 1964. A obra é de autoria do jornalista carioca Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta. Lá podemos ver que: A minissaia era lançada no Rio e execrada em Belo Horizonte, onde o Delegado de Costumes (inclusive costumes femininos) declarava aos jornais que prenderia o costureiro francês Pierre Cardin (bicharoca parisiense responsável pelo referido lançamento), caso aparecesse na capital mineira para dar espetáculos obscenos, com seus vestidos decotados e saias curtas. E acrescentava furioso: A tradição de moral e pudor dos mineiros será preservada sempre. Toda essa cocorocada iria influenciar um deputado estadual de lá — Lourival Pereira da Silva — que fez um discurso na Câmara sobre o tema Ninguém levantará a saia da mulher mineira.

Entretanto, cocorocada mesmo é a atitude da Justiça de Minas Gerais de proibir manifestações e greves por ocasião dos jogos da Copa das Confederações. Até onde eu sei a Constituição Brasileira garante o direito de greve, obviamente com algumas ressalvas, mas sem explicitar os dias em que elas podem ou não ocorrer. Sei que o governador Antonio Anastasia é professor de Direito Constitucional. Sei igualmente que ele é por demais ocupado, mas se dispuser de um tempinho gostaria de receber uma explicação, da mesma forma que gostaria de esclarecimentos do Meritíssimo presidente do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais e do ilustre presidente da Seção Mineira da Ordem dos Advogados do Brasil quanto a legalidade (?) da medida.

Mas enquanto aguardo se eles responderão ou não, vamos a uma informação de uma fonte da própria Polícia Militar de Minas Gerais.

- A decisão judicial submissa ao palácio do governo e aos interesses do ex-senador e atual senador Aécio Neves e de sua irmã Sinhá Andrea Frau Goebbels Neves, a Mãos de Tesoura não objetiva apenas evitar que a mídia mostre ao mundo que Minas Gerais se transformou em um lupanar, tendo outros objetivos mais sólidos. Segundo a fonte, Minas Gerais têm uma carência de no mínimo 100 mil homens para o exercício de um patrulhamento razoável e o Estado não dispõe de dinheiro para contratar esta gente. Em 1964 a PMMG dispunha de 40 mil homens e hoje o número se eleva em menos de 10%, sendo que a oficialidade superior não deseja aumentos de contingentes por que isto terá forte influência em suas futuras campanhas salariais.

A propósito se indaga: em havendo uma greve de policiais – militares e civis – que de fato ganham muito mal e precisam como os professores, médicos e paramédicos ganhar condignamente como de resto todos os trabalhadores, quem irá detê-los com balas de borracha? O Exército, a Marinha ou a Aeronáutica? Ou um batalhão de Escoteiros Sempre Alerta, seguindo as orientações de Baden Pawel, o criador do escotismo.

Mais, diz o nosso informante:
- Para não destruir o estado de excelência publicitária construído por Andréa Neves, a Mãos de Tesoura, a grande verdade é que Minas não têm policiamento suficiente diante do quadro atual para proteger Belo Horizonte, reprimir manifestações e greves e ainda por cima patrulhar estádios de futebol sob os olhares vigilantes da imprensa mundial.

Mas isto também é outro capítulo da farsa. Se necessário basta pedir o auxílio da Força de Segurança Nacional, mas fazer isto implica em dar o braço a torcer e confessar que dona Zezé administrava melhor o seu rendez vouz que os atuais dirigentes mineiros administram o Estado, o que não é compatível com a estrutura da caríssima publicidade paga por Andréa Neves. Sei que o Novojornal não deixará de publicar isto. De Estado este povo que está aí não entende nada. De zona Dona Zezé entendia e muito, administrando bem. 
De resto la nave vá, mesmo Minas Gerais não dispondo de mar.