terça-feira, 4 de junho de 2013

Publicado em 04/06/2013

EDITORIAL:
TEMPO DE REFLETIR

Geraldo Elísio escreve no "Novojornal". Prêmio Esso Regional de jornalismo, passado e presente embasam as suas análises

Por Geraldo Elísio
“Se queremos progredir, não devemos repetir a história, mas fazer uma história nova.”  - Mahatma Gandhi

Na qualidade de repórter não disponho de Poder (e nem quero), não uso armas – apenas caneta, o que alguns consideram arma letal – e conto com um guarda costa, Deus. Assim sendo, restrinjo-me ao que posso e devo fazer apurar, obter provas e divulgar fatos, e, em sendo possível apresentar sugestões.
Terça feira (3) assisti a uma Audiência Pública da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas Gerais para tratar da questão da criminalização e da judicialização dos movimentos grevistas em Minas Gerais, em flagrante contraste com as normas legais previstas na Constituição Federal.
Sem ser a Teresa Batista personagem de Jorge Amado e muito menos procurando o repouso do guerreiro, com o vírus da reportagem inoculado em minhas veias, nem mesmo a monotonia da monocórdia repetição comportamental de lados antagônicos e episódios históricos – geradores de tédio – me abatem. E ainda me dou ao luxo ou desperdício (?) de sugerir.
São vastos os espaços nas paredes do Palácio da Inconfidência, ou seja, Assembleia Legislativa de Minas Gerais o que motiva a minha pretensão. Na parte frontal, apontando para a Praça Carlos Chagas, no Bairro Santo Agostinho, em Belo Horizonte, alguém poderia mandar afixar em letras maiúsculas de bronze ou em dourado a frase “O PRIMEIRO COMPROMISSO DE MINAS É COM A LIBERDADE”, pronunciada pelo doutor Tancredo Neves da sacada do Palácio da Liberdade em seu discurso de posse quando se elegeu governador de Minas Gerais em 1982, depois de vencer o ex-ministro e senador Eliseu Resende. Um belo dístico na realidade escrito pelo jornalista Mauro Santayana, gost wraiter do governador então empossado, discurso que dias antes fora entregue ao falecido ex-deputado estadual e conselheiro do Tribunal de Contas de Minas Gerais, João Bosco Murta Lages em forma de manuscrito em algumas folhas de papel A-4 que Murta Lages morreu lamentando não tê-las guardado. Pessoalmente várias vezes ele me disse isto.
A sugestão deriva não apenas da beleza conceitual da frase, da aceitação tácita assimilada pelo doutor Tancredo Neves, mas igualmente como um sinal de alerta permanentemente aceso no Estado de Minas Gerais onde ao contrário do que se diz são fomentados todos os movimentos a retardar os avanços libertários aqui gerados. Qualquer semelhança com Herodes em termos de infanticídio às propostas de avanços populares não é uma mera coincidência, mas uma exata realidade que perpassa pelo argentarismo.
Felipe dos Santos foi massacrado. Tiradentes, patrono da Polícia Militar de Minas Gerais idem. Aliás, ao falarmos em Tiradentes, quem se deu ao trabalho de ler as Cartas Chilenas um poema herói-cômico (espécie de paródia do gênero épico) anônimo, através de vários estudos especializados e trabalhos acadêmicos chega à conclusão de ser isto envolvimento dos intelectuais da Inconfidência Mineira. Critilo, que de Santiago do Chile escreve a Doroteu, na Espanha, censurando os desmandos de “Fanfarrão Minésio”, acusado de “corrupção, e quebra de hierarquias” de acordo com a hipótese mais aceita seria Tomás Antônio Gonzaga. Doroteu o também poeta e inconfidente Cláudio Manoel da Costa.
E “Fanfarrão Minésio” quem seria. Nada mais nada menos do que o governante corrupto de Minas no período colonial de 1783-1788, dom Luís da Cunha Pacheco e Menezes, o homem que perdeu prestígio e foi posto a correr da região em virtude da atuação de um dos Andradas de Barbacena que redigiu um duro libelo contra ele. Sua irmã dona Quitinha foi morar em Viçosa onde, sobre a proteção política abriu o primeiro bordel de Minas Gerais. Luiz da Cunha Pacheco e Meneses foi para a região de Teófilo Otoni e em linhagem genealógica vem a ser  dos ancestrais mais próximos do ex-governador e atual senador  por Minas Gerais, Aécio Neves, via o pai dele Aécio Neves da Cunha. Questões de DNA, mas não se trata de repetir a fábula do Lobo e o Cordeiro, de Jean da La Fontaine. Freud diz que coincidências são armações do inconsciente. Não sou psicanalista, não me enveredo pelo caminho da psicanálise para abordar coincidências, mas que elas existem, existem. Afinal tenho descendência espanhola remota. Além de freqüentar e possuir biblioteca a internet e a Wikipédia são um bom conjunto de informações.
Mas fechado o parênteses voltemos à necessidade da frase O PRIMEIRO COMPROMISSO DE MINAS É COM A LIBERDADE. Mesmo Tiradentes sendo o patrono da PMMG isto não nos livra de sermos vítima de uma eterna cobiça internacional quanto às nossas potencialidades naturais, o que nos faz vítimas empobrecidas da nossa riqueza. A secretaria de estado norte americana Hillary Clinton disse que o nióbio de Araxá é área de interesse dos EUA e não vi nenhum parlamentar mineiro (federal ou estadual) se pronunciar a respeito, bem como o governo federal do PT.
A Revolução de 30 foi arquitetada com a decisiva participação da PMMG. A Revolução Constitucionalista de 32 também empregando as forças da Polícia Militar de Minas Gerais. E o grande golpe civil militar de 64, além do reacionarismo de setores conservadores gestado muito mais no ventre da PM em colaboração com agentes estrangeiros do que no âmbito do Exército Nacional por parte de alguns setores alinhados a Washington. O que de forma alguma serve como atenuante, estando mais para agravante.
E agora que forças civis e militares se esquecem do passado e negligenciam a história a frase O PRIMEIRO COMPROMISSO DE MINAS É COM A LIBERDADE se faz necessário perpetuar. Afinal o esquema montado pelo coronel PM “Praxedes  e seus Arapongas Amestrados”, às vezes em colaboração com a promotora Vanessa Fusco, se tem absoluto apoio de todos quanto ao combate a crimes cibernéticos a exemplo de tráficos de drogas, de pessoas, de órgãos humanos, terrorismo e pedofilia, no que eles são elogiáveis, ao se desvencilhar destas vertentes para cair na bisbilhotice de sindicalistas em busca de melhores salários o que é literalmente constitucional e salutar, e tentando de forma anticonstitucional rastrear fontes de jornalistas preocupados com o dever de denunciar corrupções seja lá de quem for deixa amplos espaços à reflexões históricas e das dimensões que tais infrações poderão alcançar.  Nada tenho a ver com o pensamento programático e ideológico da antiga União Democrática Nacional – UDN- além da amizade com vários udenistas. Mas a frase ícone de que “O preço da liberdade é a eterna vigilância” faz sentido, mesmo porque toda moeda tem duas faces além de suas bordas.
De resto me aferro ao dito por Bakunin, pois  "Sou um amante fanático da liberdade, considerando-a como o único espaço onde podem crescer e desenvolver-se a inteligência, a dignidade e a felicidade dos homens; não esta liberdade formal, outorgada e regulamentada pelo Estado, mentira eterna que, em realidade, representa apenas o privilégio de alguns, apoiada na escravidão de todos; (...) só aceito uma única liberdade que possa ser realmente digna desse nome, a liberdade que consiste no pleno desenvolvimento de todas as potencialidades materiais, intelectuais e morais que se encontrem em estado latente em cada um (...)"
Sugiro ainda que os parlamentares e o povo a quem eles representam, sem passionalismo pensem no tema.
Este espaço é permanentemente aberto ao democrático direito de resposta a todas as pessoas e instituições aqui citadas.

geraldo.elisio@novojornal.com