Publicado em 17/09/2013
Governo de Minas
desviou R$ 30 milhões do
Ministério do Trabalho
TCU e Polícia
Federal comprovam que entidade do governo de Minas, Idene, junto com Oscip
(IMDC) desviaram através de nota fria R$30 milhões
O
esquema de fraudes com recursos públicos que derrubou cinco integrantes da
cúpula do Ministério do Trabalho desviou pelo menos R$ 10,6 milhões, em um
único convênio no valor de 17,5 milhões firmado com a Oscip IMDC por intermédio
do Idene (Instituto de Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas), um órgão
do governo de Minas.
Relatório
da Operação Esopo, da Polícia Federal, obtido pela reportagem, mostra que, em
2008 e 2009, o Idene assinou com o Ministério do Trabalho dois convênios que
totalizam R$ 38,1 milhões para execução do ProJovem em cidades do Norte e no
Vale do Jequitinhonha, regiões mais pobres do estado. O Idene contratou, com
dispensa de licitação, o IMDC, organização que está no centro da rede montada
para desviar recursos, denunciada na Operação Esopo.
Na segunda-feira, depois de outras denúncias de
irregularidades em convênios da pasta envolvendo a mulher do ministro Manuel
Dias, Dalva Dias, um interlocutor próximo chefe da pasta avalia que sua
situação fica insustentável quando o problema chega “dentro de casa”.
Reportagem publicada pelo jornal “O Estado de S. Paulo” revelou a existência de
um processo de investigação no Tribunal de Contas de Santa Catarina (TCE-SC),
que aponta a participação de Dalva, quanto era secretária de Assistência Social,
Trabalho e Habitação do Estado, em contratos com entidades ligadas ao PDT, sem
licitação e uso indevido de dinheiro público.
No caso dos convênios no interior de Minas, após
nova investigação, o Tribunal de Contas da União (TCU) quer a devolução de R$
30,8 milhões. O valor é mais alto porque, na avaliação da Corte de Contas, o
órgão público e a Oscip não apresentaram documentação para comprovar a
aplicação dos recursos.
Diretor do Idene à época dos contratos, Walter
Antonio Adão foi preso na Operação Esopo. Ele assumiu o órgão em 2007, no
segundo mandato do governador Aécio Neves, e ficou no cargo até 2011. Os R$
17,5 milhões esquadrinhados pela PF constam do contrato 03/2010, assinado entre
o órgão mineiro e a Oscip. A fatia desviada foi paga a quatro empresas de
fachada e a contas do próprio IMDC.
Mesma sistemática de fraude foi aplicada para
desviar recursos do ministério do Trabalho por meio de convênios com
prefeituras, segundo a PF.
Em Minas, a empresa que mais recebeu recursos no
contrato da Idene foi a PR Transportes (PRT), em um total de R$ 4,1 milhões,
registrada à época em nome de dois motoristas, que não possui ônibus ou vans e
está habilitada para o transporte de carga, não de pessoas.
Do total repassado
à empresa, R$ 3,2 milhões foram pagos em cheques, que foram endossados e
sacados na boca do caixa, de acordo com o relatório. Um nome foi registrado
pela agência bancária como responsável pelo saque: Fernando Mendes dos Santos.
Trata-se de um sócio de Deivson Oliveira Vidal, o dono do IMDC, em uma empresa
de consultoria chamada Conquistar.
“Os cheques emitidos para pagamento dos serviços
foram endossados por quem de direito da PRT para que Fernando realizasse os
saques. Assim, o dinheiro retorna para as mãos de Deivson sem ao menos passar
pelas contas da PRT”, escreveu a PF no relatório.
Foi Fernando, também, quem sacou parte dos R$ 2,1
milhões repassados à empresa Sol Nascente Ltda. a título de “fornecimento de
insumos”. A empresa estava registrada em nome de dois laranjas, segundo a PF, e
foi aberta menos de seis meses antes da assinatura de contrato com o IMDC.
Mesmo sem ter funcionários e registrada em nome de
uma balconista de farmácia, a Gráfica Indianara Ltda. recebeu R$ 1,8 milhões
para produzir apostilas. Segundo o Idene, deveriam custar no máximo R$ 7,02,
cada, mas foram pagos R$$ 35,69, cada. Quatro cheques de R$ 470,5 mil pagos
pela Oscip à empresa foram endossados e sacados em dinheiro. Por Fernando
Mendes dos Santos.
O mesmo que ainda sacou cheques que totalizam R$
637,6 mil pagos à AOM Indústria e Comércio por 26,4 mil camisetas e 13 mil
mochilas do ProJovem. No endereço da empresa, funciona uma empresa de moda que
diz não ter qualquer relação com a AOM, de acordo com a PF.
A transferência direta de recursos para outras
contas do próprio IMDC também era uma das formas de desvio. Parte desses
valores eram repassados à Conquistar para prestação de serviços de consultoria.
Pelo menos R$ 633,2 mil do ProJovem desapareceram dessa forma.
“Se Deivson é o presidente do IMDC e maior
acionista da Conquistar, podemos concluir que ele recebe dinheiro para prestar
‘consultoria’ para ele mesmo”, escreveram os investigadores.
Foco das denúncias no Ministério do Trabalho, o PDT
é aliado do PSDB em Minas. Em função dos indícios de fraude na execução do
ProJovem, o TCU cobra, desde fevereiro deste ano, de Deivson Vidal e do
ex-diretor do Idene, Walter Adão, a devolução de R$ 30,8 milhões aos cofres
públicos.
Por meio de nota, o governo de Minas informou que
colabora com as investigações e que, em 2011, a gestão de contratos do IMDC foi
investigado pela Controladoria-Geral do Estado (CGE). O IMDC chegou a ser
incluído no cadastro de fornecedores impedidos de licitar com o estado em 2012,
mas a medida foi suspensa por decisão liminar da Justiça, segundo o governo.
Advogados de dirigentes do IMDC não foram localizados.
As informações são do O Globo.