domingo, 29 de setembro de 2013

UM DOS POLÍTICOS QUE MAIS LUTA POR UMA EDUCAÇÃO DE PRIMEIRO MUNDO EM NOSSO PAÍS. SÓ UMA PERFEITA EDUCAÇÃO FAZ O SER HUMANO LIVRE E JUSTO.

PUBLICADO EM 27/09/13

Os políticos 
estamos cegos para as ruas
Cristovam Buarque

Os políticos brasileiros estão endividados com os eleitores, sem bússola para o futuro, sitiados pela população e indiferentes diante da indignação.
Endividados pelo passivo acumulado por décadas de descaso com os interesses do povo, por ações, omissões ou incompetência. 
Depois de mais de cem anos de República, construímos um país rico na renda nacional, mas pobre na renda per capita e injusto na sua distribuição; dividido entre privilegiados e excluídos; ineficiente em seus serviços públicos, como saúde e transporte; atrasado na educação de suas crianças; um país violento, onde 100 mil compatriotas morrem anualmente na violência das ruas, em assaltos ou acidentes de trânsito. 
E, não menos grave, uma imensa dívida financeira e moral pelo desvio de bilhões de reais drenados pela corrupção. A dívida vem da insensibilidade social e ética que leva à corrupção nas prioridades da política e no comportamento dos políticos.
A população percebeu essa dívida, indignou-se e está nas ruas cobrando o passivo de décadas, sobretudo dos governos mais recentes, que prometeram pagar a dívida dos anteriores. 
Essa indignação mantém os políticos sitiados, metafórica e literalmente, pela desconfiança, pelo desprezo, pela ocupação de prédios e ruas. Isso não teria sido possível sem a autonomia das pessoas e dos movimentos sociais, que não precisam mais de líder, partido, sindicato, jornal, rádio ou televisão. 
Com a democratização propiciada pela internet, a população, especialmente a jovem, é capaz de fazer uma guerrilha cibernética que ocupa pontos estratégicos e inviabiliza o bom funcionamento da sociedade. A dívida e a indignação, por meio da internet, sitiaram os políticos.
Isso seria menos grave se, diante desse quadro, os políticos tivessem um rumo a apontar, em direção ao futuro distante e ao atendimento das reivindicações imediatas. Mas, além de endividados e sitiados, estão perplexos, desarvorados, sem bússola, desbussolados. 
Percebe-se que o rumo do crescimento econômico não é sustentável ecologicamente, não satisfaz ao bem-estar da população nem engana mais a consciência da opinião pública; as propostas utópicas de direita ou de esquerda faliram...
Esse quadro assustador ainda poderia merecer algum otimismo se, apesar de endividados, sitiados e desbussolados, os líderes não estivessem indiferentes. Mas a sensação é a de que há uma total insensibilidade dos que fazem a política em relação à dimensão do que acontece nas ruas. 
Cada manifestação é vista como única, de grupos restritos em ações isoladas; não se percebe que há uma dinâmica e uma lógica, com base em profunda raiva e instrumentos mobilizadores de extrema eficiência.
O maior problema, talvez, é que, além de endividados, desbussolados, sitiados e indiferentes, não vemos o tamanho, nem as causas, nem a força da indignação. Estamos cegos.