Publicado em 28/11/2013
Editorial
O TRATAMENTO PRIVILEGIADO
PELA MÍDIA A AÉCIO NO CASO DOS PERRELLAS
Por Paulo Nogueira
Aécio Neves é um cara de sorte.
Quer dizer, sorte sob o ângulo
do tratamento que recebe da mídia.
Ele soube
cultivá-la, é certo. Roberto Civita, por exemplo, não raro ia passar finais de
semana na fazenda de Aécio, em Minas.
Pulitzer, o maior
editor, disse que jornalista não tem amigo. Isso porque amizades influenciam a
maneira de um jornalista tratar alguém ou algum assunto.
Mas Aécio tem
amigos entre os jornalistas. Ou melhor: entre os patrões dos jornalistas.
Como Churchill, ou
como Serra, se quisermos ficar no Brasil, é daqueles que falam diretamente com
os donos das empresas jornalísticas.
Pode evitar
intermediários, os jornalistas propriamente ditos.
Poderosos desta
natureza enfeitiçam os jornalistas das grandes companhias. Se telefonam,
eventualmente, para um jornalista, em vez de ir direto ao patrão, o jornalista
se sente desvanecido, homenageado, premiado.
Sou importante.
O jornalista
premiado vai contar detalhes do telefonema a seu círculo de amizades,
provavelmente com algum enfeite que o coloque numa posição mais elevada que a
realidade.
Bem, tudo isso
para explicar, a quem não conseguiu entender, por que Aécio vem sendo tão
poupado no caso do helicóptero dos Perrellas.
Foi uma apreensão
extraordinária de cocaína. Não é todo dia que a polícia apreende quase 500
quilos. E isso se deu na ‘jurisdição’ de Aécio. Os Perrellas são amigos e
aliados políticos de Aécio.
Há fotos que
mostram a imensa camaradagem entre Aécio e os Perrelas, pai e filho. São unidos
pela paixão ao Cruzeiro, do qual Perrella pai foi presidente, fora as
conveniências políticas.
A pergunta vem
sendo feita por muita gente na única e real tribuna livre jornalística
nacional, a internet: e se o helicóptero fosse de um amigo de Dirceu? E se
houvesse fotos de Dirceu com os Perrellas como as que existem de Aécio?
Como estaria se
comportando o Jornal Nacional? E qual seria a próxima capa da Veja?
Causou indignação,
na internet, a ausência da apreensão espetacular – pelo volume, pelos
proprietários do helicóptero etc – no Jornal Nacional no dia em que o assunto
surgiu.
Quem conhece a
vida nas redações pode imaginar o que houve. Ali Kamel, o diretor de jornalismo
da Globo, não é nenhum Pulitzer, mas cego não é.
O JN certamente
terá outros jornalistas capazes de distinguir uma notícia que pede, suplica por
30 segundos de atenção ou mais.
Mas um telefonema
ao dono pode evitar que qualquer reportagem vá ao ar. Ou, ao menos, pode
retardá-la na esperança de que o assunto morra.
Quem acredita que
a não inclusão do helicóptero foi uma decisão meramente jornalística do JN acredita
em tudo, para parafrasear Wellington.
Não se trata de
incriminar, levianamente, ninguém.
Mas a amizade
entre Aécio e os Perrellas é notícia, e omitir isso ao tratar do assunto é um
pecado jornalístico em que o leitor é a vítima.
Indiretamente, e
por força da internet, brasileiros fora de Minas puderam conhecer um pouco mais
da política mineira.
Perrella, o pai, é
acusado de não declarar uma fazenda avaliada em 60 milhões de reais. A fazenda,
apenas para efeito de comparação, representa cerca de 80% do total do Mensalão,
tal como os juízes do STF e a mídia afirmaram.
Isto tem um nome:
corrupção.
Aécio combateu a
corrupção em Minas? Investigou uma história esquisita como a de seu amigo
Perrella? Há denúncias dele que envolvem até a negociação de jogadores.
Mesmo o silêncio
inexpugnável da mídia, mesmo a proteção dada a Aécio, mesmo com tudo que se faz
e fez para impedir que os brasileiros tenham informações relevantes sobre seus
líderes – mesmo com tudo isso, a sociedade aprendeu muita coisa no episódio do
helicóptero.
Graças a algo que
rompeu o monopólio
da voz dos Marinhos, Frias, Civitas etc:
a internet.