20 de novembro de 2013
A oposição
desconectada
Perto de
2/3 dos entrevistados na mais recente pesquisa eleitoral do Ibope querem que o
próximo presidente mude "totalmente" ou "muita coisa" na
maneira de governar o País.
Mas, no menos favorável dos cenários para Dilma
Rousseff, apenas 1/3 votaria em candidatos oposicionistas se a eleição fosse
agora. Com a agravante de que, só por uma mudança a esta altura inconcebível do
quadro sucessório, nenhum deles estará nas urnas eletrônicas em outubro do ano
que vem.
São os adversários da candidata de Lula em 2010, José Serra e Marina
Silva, ele com 17% das intenções de voto, ela com 15%, indicando que devem a
sua relativa popularidade ao recall - a lembrança da eleição passada.
Já o
cenário mais provável é também o mais animador para Dilma. Ante o tucano Aécio
Neves e o socialista Eduardo Campos, ela subiu dois pontos da sondagem
anterior, em outubro, para a atual, em que aparece com 43%, acentuando o seu
favoritismo e a possibilidade de se reeleger no primeiro turno. A aprovação ao
seu governo também se sustenta.
O senador mineiro continua onde estava, com
14%, e o governador pernambucano caiu de 10% para 7%. O tropeço nem serve de
alento para Marina, que se filiou ao PSB quando não conseguiu registrar como
partido a sua Rede Sustentabilidade e há de guardar em algum recanto da
"aliança programática" com Eduardo Campos o sonho de vir a ser ela,
afinal, a encarnação da nova política que anunciam.
Isso
porque, na hipótese em que a ambientalista substitui o governador (e Serra toma
o lugar de Aécio), o seu desempenho sofreu em um mês um tombo de 6 pontos - de
21% para 15%. A razão só pode ser uma: Marina deixou a ribalta do noticiário,
onde foi parar ao aderir à sigla de Campos e onde parecia se firmar ao se
tornar a crítica mais audível da gestão Dilma, a ponto de carimbá-la como
"retrocesso". Superada, aparentemente, a fase de "sabor do
mês" de Marina, o eleitorado de que a amostra seria representativa voltou
ao ponto de partida: Dilma em viés de crescimento, Aécio estável.
À parte o
fato ofuscante de que 11 meses ainda separam os brasileiros do dia em que irão
exercer o mais importante dos seus direitos políticos - tempo de sobra, antes
de tudo, para reduzir às devidas proporções o prognóstico de vitória de Dilma
já na primeira rodada -, o que mais chama a atenção nos números do Ibope é o
paradoxo que deles emerge: de cada 10 eleitores que querem que muito ou tudo
mude no governo, 3 associam a preferência pela presidente ao seu desejo de
mudança; ou, dito de outro modo, de cada 10 "votos" de Dilma, 4 lhe
foram dados pelos mudancistas. E isso numa quadra do mandato da presidente em
que sobressai a sua incapacidade de promover mudanças - a não ser para pior.
Não se
diga que o povo é bobo.
O povo simplesmente olha em volta e não vê na oposição
quem assuma a sua demanda: dos insatisfeitos com o modo como o Brasil é
conduzido, 44% não têm candidato. Ou, pior ainda, o povo não identifica a
oposição como motor de mudanças. O que os oposicionistas dizem e fazem está
desconectado da população.
Anteontem, numa reunião em que os oito governadores
do PSDB e o ex-presidente Fernando Henrique declararam a céu aberto apoio à
candidatura Aécio, ele proclamou que o partido "está pronto no ano que vem
(sic) para apresentar ao Brasil uma nova proposta". O eleitor que espere,
enquanto a presidente toca a todo vapor a sua campanha.
Os tucanos
deram ao evento um nome - "Federação Já, Poços de Caldas+30" - que
não dispensa explicações. De um lado, trata-se de uma convocação, capaz de
sensibilizar somente os conhecedores, pela desconcentração fiscal do País.
De
outro, não menos hermeticamente, alude ao encontro em que os então governadores
Tancredo Neves e Franco Montoro, na mesma cidade, deram a largada à campanha
das Diretas Já, em 1983.
Tamanha a
distância entre o que aglutina os tucanos e o que interessa ao cidadão comum,
que a sempre referida parcela não desprezível do eleitorado reage como se lesse
na bandeira oposicionista a inscrição "Nada a declarar" - e, abaixo,
em letras miúdas, "que você consiga entender".