24 de novembro de 2013
Bom dia a cavalo
Como qualquer cidadão, partido, entidade, meio de
comunicação, sindicato, movimento, grupos organizados em geral, o PT dispõe de
liberdade para dizer o que quiser e sempre fez uso dessa prerrogativa com
estridência.
Não raro em contraposição aos fatos, muitas vezes
ao modo de maquiagem da realidade - como faz, mais uma vez, o ex-presidente
Lula da Silva ao dizer que a lei no Brasil "parece que só se aplica ao
PT" -, mas é um direito que lhe assiste.
Até criou dois países diferentes, o "nós"
e o "deles", para simplificar a conexão com a sociedade, cuja maioria
por um bom tempo nem percebeu que os "eles" de ontem estavam
perfeitamente integrados - para não dizer encastelados - no Brasil que na
fantasia petista não tem 513 anos; nasceu em outubro de 2002, com a eleição de
Lula para presidente.
Mas, digamos que toda fabulação tenha um limite. Se
ultrapassado, expõe os fabuladores ao risco do efeito bumerangue. Ocorre quando
suas narrativas, por assim dizer, alternativas, se voltam contra eles próprios.
É o caso da recente ofensiva contra o Supremo
Tribunal Federal, acusado por dirigentes e parlamentares de partido de agir ao
arrepio da lei. Ora, isso só acontece em regimes de exceção, ditaduras.
Estaria o PT se dando conta de que para defender
companheiros presos diz que o País que comanda há 11 anos vive sob a égide de
uma Justiça discricionária, situação contra a qual essas autoridades jamais se
insurgiram? Ao contrário, compuseram a Corte onde ao menos duas vagas lhes foram
franqueadas por aposentadorias antecipadas e dela esperavam uma compensação.
O discurso do PT atual já não ficaria bem se o
partido fosse oposição. Sendo situação, soa a autoflagelação tão involuntária
quanto imprudente e pouco inteligente.
Um governo reverente à democracia não convive com
um Poder Judiciário arbitrário sem que no mínimo faça algum movimento em prol
do retorno da instituição à legalidade. Se não faz, compactua ou é submisso a
essa deformação.
Vamos à mais recente fala de Lula, que havia prometido
nada dizer sobre até o julgamento dos recursos pendentes. A lei aplica-se
apenas ao PT? Não condiz com a verdade. À ela: só no processo do mensalão foram
condenados integrantes das cúpulas do PTB, PL (hoje PR), dois deputados do PP e
um ex-líder da bancada do PMDB na Câmara. Além de assessores de três dessas
legendas.
Por outros motivos políticos do DEM foram presos
(embora não definitivamente), como o ex-governador José Roberto Arruda ou o
ex-senador Demóstenes Torres, cassado pelo Senado e indicado pelo Ministério
Público de Goiás por corrupção.
Dois parlamentares recentemente condenados pelo
STF, deputado Natan Donadon e senador Ivo Cassol, tampouco pertenciam ao PT. O
primeiro foi do PMDB e está sem partido e o segundo é do PP.
Acrescentem-se os vários governadores que tiveram
mandatos interrompidos pela Justiça Eleitoral devido a abusos do poder
econômico durante as respectivas campanhas. Entre eles um do PSDB.
E por falar em tucanos, está nas mãos do Supremo a
ação contra o deputado, ex-governador de Minas e ex-presidente do PSDB, Eduardo
Azeredo, com a perspectiva de ser julgada ainda em 2014. Acusação? Peculato e
lavagem de dinheiro.
Por essas e várias outras que a memória não alcança
e que mediante pesquisa acurada seriam muitas mais, não se pode dizer que só há
infratores da lei no PT. Da mesma forma e por isso mesmo é falso afirmar que a
lei no Brasil só vale para o PT.
O que existe, sim, é maior repercussão. Primeiro
pela dimensão, segundo pela falta de cerimônia do esquema, e terceiro porque se
trata do partido no poder, cuja conquista deu-se em boa medida por uma
trajetória construída no altar da defesa da ética e dos bons costumes na
política e adjacências.