JEAN MENEZES DE AGUIAR
20
DE JANEIRO DE 2014
CDH – UM ANO DE FELICIANO, UM ANO DE ATRASO E
OBSCURANTISMO
Se algum partido
político sério não retomar a questão dos direitos humanos no Brasil, no
Legislativo, e não higienizar a Comissão dessa sanha feliciana e mesmo
moralista religiosa, o país terá perdido um grande foro de debate
À frente da Comissão
de Direitos Humanos, Marco Feliciano, deputado por um partido
"cristão" de São Paulo, deixa sua marca de ódio às diferenças e
fundamentalismo às crenças e opções não semelhantes às suas. O saldo aparece
agora, quando o PT ensaia retomar a Comissão para lhe dar uma feição técnica e
não moralista como a que passou a ter.
Feliciano, com seu histrionismo ideológico em relação a gays
homens – não a prostitutas, lésbicas ou mulheres -, conseguiu apor à Comissão
algumas marcas. A marca de perseguição, em contraposição à de fraternidade. A
marca de disjunção, em contraposição à de inclusão. A marca de diferença, em
contraposição à de igualdade. Ou seja, tudo que a Constituição de 1988 garantiu
à sociedade ele tentou fazer contra. Ao invés de a Comissão buscar somar, pela proteção
e aceitação de todos, buscou dividir, segregar.
A segregação desse Feliciano, como muitas segregações na
história, foi ideológica e crencial, não apenas funcional. Seu problema com
gays transpareceu não ser, por exemplo, apenas uma pauta religiosa e
obscurantista da sua crença, algo que lhe seria heterônomo. Perceberam-se ali
entranhas pessoais, íntimas e verdadeiras. Ele acredita que o gay tem que ser
curado, convertido.
Mas ele não está só. Esta cepa mental retrógrada, quando
autêntica; ou vigarista, quando interesseira, é mais comum de o que se pensa.
Ela é retrógrada quando o sujeito verdadeiramente crê nela, como o deputado.
Ela será vigarista quando o agente aceita o discurso por um proveito econômico,
social ou político. Não foi, este, o caso de Feliciano. Ele não é, nisso, um
mentiroso. Ele tem o seu ódio-sobrancelha-feita-e-unhas-pintada como algo
próprio, seu, íntimo e verdadeiro. Ele produz isto, autenticamente. Daí ter
vincado à Comissão de Direitos Humanos a marca da Comissão Gay, no sentido da
perseguição.
Se algum partido político sério, qualquer um que seja – já não
interessa mais-, não retomar a questão dos direitos humanos no Brasil, no
Legislativo, e não higienizar a Comissão dessa sanha feliciana e mesmo
moralista religiosa, o país terá perdido um grande foro de debate. Também há
que se conter no Poder Público brasileiro, com Estado laico, essa mania
malandra e altamente capitalista de bancada "religiosa". A Comissão
precisa olhar para outras pautas, laicas e mundanas, verdadeiras e próprias da
sociedade, minorias, miseráveis, dificuldades sociais que parecem ter sido
simplesmente esquecidas. A Comissão se calou, morreu.
Pouco interessa se esse Feliciano vai duplicar seus eleitores na
própria eleição, como profetizou seu companheiro Malafaia, outro distribuidor
televisivo de ódio e rancor. O Poder já é cheio de pessoas esquisitas, malucas,
rancorosas e nada honestas, como os escândalos semanais mostram na imprensa.
Uma esquisita a mais, em que cargo for, não fará diferença.
A sociedade brasileira é espetacular em ter se acostumado a ver
a esdruxularia política com uma gente desprezível. Essa convivência e
"perdão" da sociedade para com essa gente é algo admirável. Mas esta
mesma sociedade precisa se insurgir quando uma Comissão de Direitos Humanos é
tomada espiritualmente por mentes infames e atrasadas, religiosas e moralistas.
Afinal, há necessitados que precisam da voz da Comissão.
ADENDO DO BLOGUEIRO:
FUNDAMENTALISMO:
[F.: fundamental + -ismo.]
O
conceito e o termo nasceram quase juntos, no início do século XX, em
comunidades protestantes dos Estados Unidos, especialmente no estado de
Tennessee.
Refere-se à ideia, e às atitudes dela decorrentes, de que o texto
literal da Bíblia (o Velho e o Novo Testamentos) é absolutamente, e só ele,
verdadeiro, com isso rejeitando muitos dos conhecimentos e das propostas da
ciência, da filosofia, da cultura moderna e contemporânea.
Famoso foi o
julgamento do prof. John Scopes, em 1925, no Tennessee, por ter ensinado na
escola a proibida (por lei estadual) teoria evolucionista de Darwin.
Em um
sentido mais genérico, o termo passou a ser usado para designar, nas três
religiões monoteístas ' abraâmicas', baseadas em escrituras sagradas (o
judaísmo, o cristianismo, e o islamismo), o apego ao texto literal dessas
escrituras, com a rejeição de qualquer outra interpretação dos fatos e do
sentido moral que encerram.
Em fins do século XX e início do século XXI, o
termo já era aplicado a uma facção dos crentes, principalmente no islamismo
(fundamentalismo islâmico), que passou da fé religiosa absolutista para uma
atitude política de conquista de espaços e poder com base nessa fé.
Enquanto
qualquer fundamentalismo, como ideia de que a única verdade está no texto
sagrado, pode se considerar portador de um caminho humanitário de redenção, sua
apropriação por facções que pretendem impor sua fé pela conquista e pela
eliminação ou sujeição das outras, levou a um confronto em que se misturam
religião, política, violência e terrorismo, em meio a muitas distorções e
marketing.