29/01/2014
Para onde
vai o PT?
Nas Últimas semanas o
comissariado petista lançou duas pontes para o futuro. A primeira veio de Tarso
Genro. Num artigo intitulado "Uma Perspectiva de Esquerda para o Quinto
Lugar", defendeu uma ofensiva política para colocar o Brasil no seu devido
lugar, admitindo que em 2023 ele se torne a quinta economia do mundo.
Com uma
mistureba da China de Deng Xiaoping e a reforma econômica leninista de 1921, o
comissário propõe um "levantar âncoras" com "uma nova Assembleia
Nacional Constituinte" amparada na voz das ruas, "sem aceitar a
manipulação dos cronistas do neoliberalismo amparados na grande mídia". É
um caminho essencialmente político: muda-se a ordem constitucional e faz-se o
que é preciso.
Desde a chegada de Tarso Genro ao mundo, em 1947, o Brasil já
foi regido por duas Constituições saídas da vontade popular. Nenhuma das duas
resolveu o problema dos presídios gaúchos. Muito menos os 18 governadores do
Estado que governa. (Dois deles vieram do PT.)
A outra ponte foi lançada
pelo secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho. Ele admite que os
progressos sociais dos últimos dez anos mostraram-se "insuficientes".
O país quer "serviços de qualidade". Educação de qualidade, saúde de
qualidade, polícia de qualidade.
As duas propostas parecem
complementares, mas são divergentes e refletem a ansiedade da nação petista.
Não há garantia de que com a Constituição de Tarso Genro consiga-se o que as
outras não conseguiram. (Noves fora outras duas, dos generais.) Invertendo o
raciocínio, pode-se dar qualidade aos serviços sem Constituinte. Por exemplo:
como ministro da Educação, ele criou o Prouni sem grandes mudanças legais.
(Esse programa pode ser comparado à GI Bill de Franklin Roosevelt, berço da
nova classe média americana.)
O MEC dos companheiros preservou a promiscuidade
dos educatecas com a rede de ensino superior privada e manteve Pindorama no
mesmo patamar medíocre no ensino médio e fundamental. Prometeram dois Enem a
cada ano e patinam na lorota. O programa Ciência sem Fronteiras, da doutora
Dilma, chega ao último ano de sua meta tendo cumprido apenas 35% da promessa.
Na segurança (que não é
atribuição do governo federal) os companheiros esbanjaram marquetagem, até
caírem no atoleiro maranhense. Na Saúde, ajudados pela oposição e pelos
interesses corporativos da elite médica, o programa Mais Médicos virou
panaceia. Trata-se de um curativo, mas em cidade sem médico, curativo já é
muita coisa. Levaram dez anos para começar a desinfetar o mercado de planos de
saúde e para começar a cobrar das operadoras a devida compensação do SUS nos
casos de atendimento de seus clientes.
A doutora Dilma vai buscar
nas urnas um mandato que dará ao PT o predomínio de um bloco partidário por 16
anos, coisa jamais vista no país. Buscando-se o desempenho na direção dos
"serviços de qualidade" mencionados por Gilberto Carvalho, acha-se
pouco num balanço dos últimos anos. Falta botar mercadoria na mesa.
O caminho
oferecido por Tarso Genro vem da família do "começar tudo de novo".
Ela já apareceu, sem sucesso no Brasil e com êxito na Venezuela, onde o
presidente Maduro viu-se obrigado a lidar com a falta de papel, quer os rolos
higiênicos, quer os que imprimem jornais.
Elio Gaspari, nascido na Itália, veio ainda criança para o Brasil, onde fez sua carreira jornalística. Recebeu o prêmio de melhor ensaio da ABL em 2003 por 'As Ilusões Armadas'. Escreve às quartas-feiras e domingos.