Publicado: 27/01/2014
Razões para não ler minha coluna
Fomos treinados com a frase de que "boa
notícia é a má notícia" -- aí está, em essência, a ideia que orienta a
construção da reputação (e os prêmios) de um jornalista, capaz de revelar
mazelas, impasses e tragédias.
Essa é uma das razões para o leitor evitar
esta coluna. Simplesmente não acredito mais nesse pressuposto sagrado,
considero-o uma visão deturpada da realidade. Diria mais, é uma bobagem
repetida de geração em geração.
Montei boa parte da minha reputação
profissional caçando apenas ótimas más notícias, o que me rendeu todos -- e por
diversas vezes -- os principais prêmios de jornalismo e literatura.
Entreguei-me à investigação das mais variadas
formas de corrupção pelos gabinetes de Brasília, passando pelo assassinato de
crianças até a escravidão de meninas nas regiões amazônicas. Confesso a vaidade
de ter, com esses prêmios, obtido reconhecimento internacional, o que me ajudou
a passar tempos como acadêmico-visitante na Universidade de Columbia (Nova
York) e, mais recentemente, em Harvard.
A denúncia é fundamental e necessária, sem ela
os poderosos ficariam ainda mais livres para qualquer traquinagem. Óbvio.
Mas passei a ver as coisas diferentes, quando,
além do jornalismo, dediquei-me ao ativismo comunitário, misturando as
linguagens da comunicação com educação -- aliás, essa mistura, complexa, também
é uma razão para o leitor evitar esta coluna. Para mim, todo cidadão
responsável, a começar dos jornalistas, deveria participar de ações em sua
comunidade. O que não significa envolvimento com partidos e governos. Significa
não ficar só criticando e reclamando.
O jornalista pode ser cínico, cético e
pessimista -- o educador precisa ser necessariamente um otimista, acreditando
no poder de mudança da palavra.
Desenvolvi um prazer enorme não apenas em revelar
o que vai mal ou pessoas e instituições que não prestam, mas em falar sobre
quem faz a diferença, encontrando pérolas no chiqueiro.
Gosto hoje de descobrir e falar mais de quem
encontra soluções, reinventores do mundo, do que daqueles que produzem problemas.
Esse olhar me leva a tentar achar ações positivas onde muitos só veem o
negativo. Por isso tanto posso elogiar como criticar na mesma intensidade
qualquer partido ou governante.
Apenas criticar e falar de problemas é tão
distorcido como ver o mundo de forma alienada num otimismo ingênuo, incapaz de
encarar as dificuldades.
A importância da notícia deve ser medida pelo
impacto que o fato, seja bom ou ruim, tem na vida das pessoas -- aí mora a boa
notícia.
O resto é ficção jornalística.