4 DE FEVEREIRO
DE 2014
COM MAIOR LUCRO DA
HISTÓRIA,
ITAÚ ATACA ECONOMIA DO PAÍS
Instituição de Roberto
Setúbal apresenta lucro de R$ 15,695 bilhões em 2013; recorde nacional em
todos os tempos; ações sobem na bolsa; dias antes, ao mundo, no Fórum Econômico
de Davos, economista-chefe e sócio Ilan Goldfajn afirmara que Brasil "não
é" uma economia sustentável e estável; avaliação ganhou peso no Financial
Times para ajudar a afugentar investidores; face rósea das propagandas com
Luciano Huck sofreu uma autuação de R$ 18 bilhões da Receita Federal por não
pagamento de impostos; instituição diz que não deve um centavo sequer; lucro,
crítica e política fiscal do Itaú Unibanco servem mesmo ao Brasil?
247 – O Itaú Unibanco acaba
conseguir uma proeza inédita. Superando todas as expectativas do mercado, que
já eram elevadas, divulgou R$ 15,695 bilhões de lucro no exercício de 2013,
nada menos que o maior lucro de uma instituição financeira já registrado no
Brasil.
Com ganhos de R$ 4,68 bilhões apenas no quatro trimestre do ano
passado, os técnicos do banco justificaram o resultado como fruto da queda da
inadimplência entre seus clientes, ampliação da tomada de crédito por eles e
redução no provisionamento para perdas.
Não deu outra. As ações do Itaú Unibanco dispararam na Bolsa de
Valores, com alta de 4,95% às 13h11 desta terça-feira 4.
Há motivos, diante de tantos números azuis, para o Itaú Unibanco
estar feliz da vida da economia brasileira, certo?
Errado.
Em meio ao esforço do governo para mostrar ao mundo que o Brasil
está, sim, numa posição diferenciada, para melhor, frente aos demais emergentes
e, também, diante de muitas economias de países ricos, o Itaú Unibanco joga na
mão contrária. A do pessimismo.
No encontro de investidores mais importante do mundo, o Fórum
Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, o economista-chefe e sócio do Itaú
Unibanco Ilan Goldfajn foi pródigo em divulgar que o Brasil está na bola da vez
da crise.
- Os investidores estão olhando para os países com uma economia
sustentável e estável, ensinou Goldfajn. "E o Brasil não é".
A derrubada do ex-diretor do BC durante o governo FHC correu o
mundo. A frase foi citada até mesmo numa reportagem do jornal Financial Times,
que avaliou que o Brasil fora o grande perdedor do fórum de Davos.
Agora, porém, o Itaú Unibanco sai a público, como
determinam as regras bancárias para brasileiras, para mostrar que obteve o
maior lucro da história.
Mas este, para o mesmo Itaú, não é um país que não tem uma
economia sustentável e estável? E que, nessa medida, não deveria
interessar aos investidores, como disse o sócio da instituição? De resto, o
mesmo Ilan Goldfajn que, no ano passado, ao longo de praticamente todo o
segundo semestre, foi o pioneiro e mais ardoroso defensor do desemprego como
forma de controlar a inflação...
Engajado em fazer política, o Itaú Unibanco apresenta ao
público, na face do apresentador global Luciano Huck, seu lado cor de rosa, ou
melhor, laranja, matiz oficial da instituição. Mas nos bastidores joga pesado
contra o atual governo e a política econômica praticada.
Esse jogo contra ficou ressaltado, além das palavras, também num
gesto. O processo de fusão entre as casas bancárias das famílias Setúbal e
Moreira Salles, em 2008, deixou de lado, segundo a Receita Federal, um detalhe
estimado hoje em R$ 18 bilhões. Trata-se do correspondente a Imposto de Renda e
Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, acrescido de juros e multas que, a
tomar pela autuação feita pelo Fisco na semana passada, o banco deixou de
recolher.
No País que "não é", de acordo com um dos principais
porta-voz da instituição, ter mais cuidado com o recolhimento de impostos seria
um grande passo para ajudar na estabilização da economia. Se bem que, é claro,
o Itaú já disse que não tem nada a dever.
Itaú, taí um banco que gosta
de levar vantagem em tudo.