5 DE FEVEREIRO DE 2014
APAGÃO E A MÍDIA:
O QUE É FATO E
O QUE É TORCIDA?
Em uníssono, Folha, Estado e Globo voltam a prever apagões e
disseminam a informação de que o Brasil opera no limite; no passado recente,
houve alarmes falsos; desta vez, colunistas, como Merval Pereira, destacam até
que "os deuses estão do lado de Eduardo Campos", ao comentar que a
luz acabou enquanto o socialista criticava o governo; será que desta vez a
análise será novamente contaminada pela política?
247 – Nesta quarta-feira 5, os principais jornais do País, Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e O Globo, dedicam suas manchetes à falha de energia ocorrida ontem em várias cidades do País. Com tom pessimista, a mídia retoma as previsões de apagão e dissemina a informação de que o Brasil opera no limite de sua capacidade de energia.
Num passado recente,
colunistas da grande imprensa previram um apagão na virada de 2012 para 2013, o
que não aconteceu. Depois, mesmo desmentida pelas termelétricas e pelas chuvas,
a mídia anteviu, há um ano, que haveria corte de energia também em 2014. A mesma
torcida parece agora ter voltado.
Colunistas
como Merval Pereira, do Globo, ressaltam até que "os deuses estão do lado
do [pré-candidato à presidência] Eduardo Campos", ao comentar que a luz
acabou enquanto o socialista criticava o governo (leia aqui). Com a declaração,
Merval leva um debate que é técnico para o campo político e sugere que o
candidato teve sorte ao poder comprovar seus ataques, apesar do prejuízo à
população.
O presidenciável do PSDB,
senador Aécio Neves, foi um dos primeiros políticos a responsabilizar a gestão
petista pela falha de energia. "Estamos agora colhendo, infelizmente, os
frutos da má-gestão do governo federal na área de energia. O governo federal
afugentou os investimentos", atacou o tucano.
O governo esclareceu, no
entanto, que a interrupção ocorrida nesta terça "não tem a ver com
estresse do sistema". A afirmação foi do secretário-executivo do Ministério
de Minas e Energia, Márcio Zimmermann. O sistema interligado brasileiro de
distribuição de energia, segundo ele, "trabalha com tranquilidade, dentro
do equilíbrio estrutural normal entre oferta e demanda".
Zimmermann afirmou que não há
perigo de falta de energia do ponto de vista estrutural. "O sistema
elétrico brasileiro tem capacidade instalada de cerca de 127 mil megawatts (MW)
e o recorde da demanda de energia ontem (segunda-feira) foi de cerca de 84 mil
MW", disse Zimmermann, descartando a possibilidade de racionamento de
energia.
Segundo o Operador Nacional
do Sistema Elétrico (ONS), o apagão foi originado por curto-circuitos em linhas
de transmissão no Tocantins, uma da Intesa e outra da Taesa. Após a
configuração da perda dupla na transmissão entre Miracema e Colinas, foi
determinado o desligamento do circuito remanescente, da Eletronorte, resultando
na separação física dos sistemas de transmissão Norte e Nordeste do restante do
sistema elétrico nacional.
O presidente da Empresa de
Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim, também presente à coletiva de
imprensa convocada pelo MME, ressaltou que "riscos dessa natureza
existem", como aconteceu no Nordeste no ano passado. No último caso, os
representantes do governo esclareceram que "as causas ainda estão sob
análise".
O risco é de que a análise
sobre o assunto seja novamente contaminada pela política, principalmente em ano
de eleição. A manchete do portal da Folha nesta manhã, por exemplo, já deu uma
indicação do que virá: "Preocupada com eleição, Dilma cria força-tarefa
para o setor elétrico".