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DE FEVEREIRO DE 2014
CFM: GUERRA AO GOVERNO
E O BRASIL QUE SE DANE
Inacreditável que uma entidade que congrega profissionais queridos como médicos tenha se permitido ser um braço armado para a resistência a uma cepa ideológica tão baixa
Costuma-se falar que o
brasileiro é o povo que odeia e ridiculariza seus presidentes. Considera-os
imbecis, idiotas e fanfarrões. Deve haver aí a sociologia da utopia ianque, no
sentido de achar que somente presidentes americanos são bons. Todo o resto americano
também. A direita sempre nutriu esse complexo de inferioridade e o difundiu pedagogicamente por gerações. É a imperdível mania brasileira da tupiniquização
mental.
Até quando o governo acerta, o patrulhamento é sabido. A horda
se move e dispara: 'mas também, é continuidade disso ou daquilo...'. Com a
moeda do real foi assim. Passados séculos de sua invenção ainda se insiste em
que ele seja mera continuidade de uma gestação efeagaceizada.
Raciocina-se de duas formas. Ou pelo complexo de colonizado, em
que o que vem do exterior é sempre melhor, ou pelo complexo do saudoso
histórico, em que antigamente é que era bom, saudade de militares, Collor e
outras esdruxularias.
Longe de pacífica, a situação do programa Mais Médicos,
implementado pelo governo atual, pode se tornar crítica. A direita reacionária,
nitidamente solapada pelo sucesso do MM, tentará usar sua artilharia no governo
sem se preocupar com o bem estar da população. Parece ter conseguido um forte
aliado: o Conselho Federal de Medicina (CFM).
Admita-se que desde a primeira hora houve uma ciumeira
escancarada. Médicos brasileiros não aceitaram ganhar 10 mil reais nos rincões,
mas também tentaram impedir que cubanos e outros fossem. Utilizaram inclusive a
via fedorenta do preconceito-patricinha, xingando, ofedendo, comparando cubanos
a empregadas domésticas e lixeiros. Uma vergonha nacional.
Bem verdade que o programa vem causando resultados positivos,
com atendimento a populações carentes. Mas aí o seu 'erro'. Dispara
simetricamente a este sucesso o ódio rácico velhaco por Cuba. Agora muito mais
próximo: em médicos atuando no Brasil.
Engana-se quem ache que a reação é meramente ideológica. O
Conselho Federal de Medicina surpreendeu a todos quando, em nítida
desobediência civil prática, passou a difundir asilo espiritual fomentado por
sua poderosa estrutura a médicos cubanos que queiram deserdar. É surreal.
Não são só ideias, mas um braço armado operacional para minar o
governo. E não apenas o governo, a população que perderia os médicos cubanos e
retornaria a não ter outros em seu lugar. O projeto político do CFM, travesti
de uma ideologia que não liga a mínima para pessoas pobres, é conceituável em
apenas uma palavra: vergonhoso.
Inacreditável que uma entidade que congrega profissionais
queridos como médicos, praticamente um tipo antagônico à classe de advogados,
tenha se permitido ser um braço armado para a resistência a uma cepa ideológica
tão baixa.
Estimular ódio a Cuba; reacender a ideia que a Cuba boa é a Cuba
deserdada; tratar médicos de outras nacionalidades como profissionais de
segunda; e, de quebra, estimular toda a carga de preconceito-patricinha que se
assistiu quando os médicos estrangeiros chegaram ao Brasil. Aí o menu
discriminatório subjacente.
Um horror. Triste e feio. De envergonhar até direitistas que
tenham saudável preocupação com o povo sofrido do Brasil.
Tantas explicações podem haver quantas fugas e escapismos
ideológicos se quiser. O CFM poderá dizer que sua preocupação é com a saúde da
população, que lindo. Que os médicos cubanos não seriam o 'ideal', que bonito.
Estas e outras argumentações utópicas e farisaicas.
Encontrar o verdadeiro sentido do fato social é tarefa difícil.
Em ano de eleição, o CFM se lançar rancorosamente ao estímulo à deserção de
médicos cubanos em um programa que deu certo é se prestar a um papelão.
A população deve ter a sabedoria de perceber a manobra. Qualquer
governo erra e tem dificuldades. O Programa Mais Médicos, até aqui não
enfrentou qualquer turbulência séria. Nenhuma notícia grave maculou a estada
dos médicos estrangeiros no Brasil. Que uma única médica tenha pedido asilo, é
um direito dela e um fato isolado.
Muitos desses profissionais já atuaram em outros países sem
qualquer percalço. Afigura-se uma covardia e uma arrogância contra todo um povo
– de Cuba-, o CFM lançar a campanha pela deserção oferecendo o Brasil,
inclusive como barretada com chapéu alheio. O CFM não controla o governo a
ponto de poder 'oferecer' institucionalmente isso. Sem se falar que
praticamente todos os governos do mundo que outrora eram 'contrários' a Cuba,
refizeram suas políticas.
O patético da oferta do CFM está visível e espumoso. Falta amor,
falta seriedade e falta respeito ao povo brasileiro. A própria classe médica
deveria se insurgir contra o CFM que, visivelmente, passou a ser usado como
braço operacional de ataque a um programa que até aqui deu certo.