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DE FEVEREIRO DE 2014
A INADIÁVEL ALVORADA
DE UMA QUARTA-FEIRA
DE CINZAS
LULA MIRANDA
Nem tucano nem petista.
Não houve “mensalão” tucano. Assim como não houve
“mensalão” petista. Não se pode negar um sem negar o outro. Ou condenar um e
inocentar o outro, como fazem alguns hipócritas, jornalistas e juízes que,
desgraçada e despudoradamente, assumiram inconfessáveis preferências
partidárias; abandonaram os fatos e os autos para macular a toga, a
magistratura e o jornalismo. Para, assim procedendo, estuprar a verdade e a
Justiça.
Tá certo que, no salve geral do “jornobanditismo”
organizado brasileiro, o caixa dois do PT tornou-se o “mensalão” petista”. Isso
todos sabemos. Já o tucano foi eufemisticamente batizado de “mensalão mineiro”.
Notou a “sutil” e conveniente distinção? Um é “petista”; o outro é
“mineiro”.
Sei...
Mais: o do PT foi “compra” de deputados; o do
PSDB foi “financiamento de campanha”. Simples assim.
Somos todos incautos?! Ou somos todos hipócritas?
Ora! Sejamos honestos! Basta de parcialismo e/ou
hipocrisia! Ambos são clássicos casos de caixa dois para financiamento
centralizado de campanhas de partidos aliados!
É um absurdo condenar Eduardo Azeredo a vinte e
poucos anos de prisão? Concordo. Mas não se preocupe, pois este dificilmente
será julgado ou condenado – muito menos sofrerá achincalhes e linchamentos
públicos diuturnos, cotidianos no horário nobre das TVs ou nas capas e nas
manchetes dos jornais e revistas.
Porém, este importante político tucano de Minas
terá que ser julgado pelo Supremo. Da mesma forma como foram julgados os
petistas. Mas com direito à TV, teatral indignação e espalhafato? Convém
duvidar.
O Supremo, na primeira e interminável etapa do
julgamento da AP 470, desgraçadamente, fez “chacrinha”, mas não fez justiça.
Transformou suas herméticas e áridas sessões num triste e esdrúxulo espetáculo
de auditório, para uma classe média conservadora, de duvidoso senso (e gosto) e
cultura mediana, refestelar-se, inculta e bela, nas suas macias poltronas e
cômodos sofás. “Tão somente” para condenar “exemplarmente” os líderes petistas.
Deplorável exemplo e “espetáculo” deu o STF na
ocasião. Nobres e provectos juristas escandalizaram-se.
É um absurdo condenar Azeredo à prisão?! Assim como
foi um absurdo condenar José Dirceu, Genoino, Delúbio Soares e João Paulo
Cunha, cada qual com seu crime e castigo, por peculato, lavagem de dinheiro
e... FORMAÇÃO DE QUADRILHA!!! Esta última condenação então é o absurdo dos absurdos!
Chega a ser inacreditável. Inaceitável! Remete-nos à obra de Franz Kafka, mas
sem o aviso prévio e tranquilizador de que estamos diante de uma obra de ficção
do gênio humano.
Absurdo! Reitero, com necessária e indignada
ênfase. ABSURDO!
Condenar históricos líderes e referências do
petismo e da política brasileira por peculato e lavagem de dinheiro pode até
ser considerado, com muito boa vontade, vá lá, um viés de interpretação do
magistrado, para uns; ou um suposto erro de avaliação/julgamento, para outros.
Ou – por que não? – até mesmo um excesso de rigor dos ministros da Corte que,
na condição de juízes, viram crime onde delito havia.
Mas, cá entre nós, condenar por formação de
quadrilha, repito, é ABSURDO, e, mais que isso, é gritante e aviltante
injustiça, visto que, além de corromper os autos e os fatos, foge à lógica
elementar e ao bom senso.
Quadrilha?! Faça-me um favor!!!
Vivemos num mudo de rábulas e verdugos?
A classe média, despolitizada, gorda e burra, bela
e inculta terá conhecido finalmente o seu paraíso?
Vivemos num reinado de hipócritas?
Cabe-nos perguntar.
Cabe-nos perguntar ainda e por último: o que é
afinal o Supremo?!
O Supremo é uma “muralha inexpugnável” que serve
para zelar pela interpretação e aplicação dos ditames da Carta Magna; que serve
para proteger os direitos dos indivíduos do arbítrio e desmandos do Estado e do
poder econômico? Ou é apenas uma canhestra cidadela do establishment, com suas
masmorras inacessíveis e ar lúgubre, infecto, inacessível, incompreensível,
cheio de sombras, onde se escondem vilezas, torpezas, hipocrisias e dosimetrias
que utilizam pesos e medidas de flagrante incongruência, ao gosto do freguês da
ocasião?
O Supremo terá, na próxima semana, portanto bem
antes da tão esperada “folia momesca”, a oportunidade de se redimir de
fragoroso e ignominioso erro histórico; de fragorosa e ignominiosa injustiça e,
por que não dizer, maldade.
E assim, quem sabe, mostrar, para a sociedade
brasileira, não somente para os correligionários do partido “x” ou “y”, que seus
ministros, ao menos os mais honrados, virtuosos e humanos, não devem servir
como heróis caricatos, como “Chacrinhas” e ou “chacretes” para desfrute e
entretenimento de uma sociedade hipócrita, ou, tampouco, como meras máscaras a
serem utilizadas pelos falsos virtuosos, os hipócritas, que pululam por aí, em
eternos carnavais, nessa nossa sociedade farsesca, de duas faces e pouca moral.
Para que estes “heróis” de um triste e catártico espetáculo não mais se
esbaldem em sua débil e fugaz alegria, que não mais se assumam e celebrem a sua
mediocridade foliã apenas no carnaval – de qualquer maneira, a qualquer
tempo.
Quem sabe um ou outro ministro, de preferência um
dos mais novos, imune aos vícios e pretensas virtudes dos velhos, traga um
pouco de luz àquela Corte de sombras?
Quem sabe um destes não diga para a sociedade toda
ouvir, agora, para valer, em caráter definitivo, em alto e bom, a verdade que
já não pode calar: que o país necessita de uma reforma política URGENTE;
...que o financiamento privado de campanhas
manieta e criminaliza a política – pois as instituições, os políticos, a mídia,
os jornalistas, os promotores, o Judiciário inclusive, são, muitas vezes,
tratados como meros títeres do poder econômico.
Pois a realidade, a verdade tarda, mas chega. Algum
dia. Por vezes, logo depois de breve “desconforto”, ou mesmo ressaca de um
“porre” de civismo, como nas Diretas Já. Mas vem acompanhada/seguida de
irrefreável e libertadora alegria.
Pode até tardar, demorar aos olhos e expectativas
dos mais impacientes, mas sempre há de vir o sol, por mais longa e tenebrosa
que tenha sido a noite.
E, com ele, sempre chega a luz, que a tudo ilumina,
esclarece, redime.
Como a inadiável, inconveniente e inexorável
alvorada de uma quarta-feira de cinzas.