segunda-feira, 17 de março de 2014

DÁ-ME SATISFAÇÃO REPOSTAR MATÉRIAS DE CUNHO JORNALÍSTICO, DE TEXTO NARRATIVO DO FATO VERÍDICO E VIVÊNCIA COM MENTE EQUILIBRADA COMO ABAIXO A ANÁLISE DO PROFESSOR EULER, SEM AS DISTORÇÕES NOTÓRIAS DE CONVENIENTES PESSOAS E PARTIDOS POLÍTICOS, DE JORNALISTAS E MÍDIAS TENDENCIOSOS E COMERCIAIS. A EXPOSIÇÃO DO PROFESSOR EULER É OBJETIVA E CONSIDERO ESTA A REALIDADE DOS FATOS, POIS ESTAVA À ÉPOCA COM 24 ANOS E COMO LOCUTOR NA RÁDIO BRASIL CENTRAL DE GOIÂNIA, E À PEDIDO DA DIRETORIA, FAZENDO PLANTÃO NOTICIOSO NA NOITE DE 31 DE MARÇO E MADRUGADA DE 1° DE ABRIL DE 1.964. SOU TESTEMUNHA DESTE PASSADO.


Blog do Euler
Este blog está a serviço da histórica luta dos educadores de Minas Gerais e do Brasil, pela valorização profissional e pela salvação da Educação pública no estado. É também um blog para o registro das impertinências cotidianas de Euler Conrado. A serviço do bem, dos de baixo, da resistência e da luta contra a opressão. Diretamente das Minas Gerais, local cujo nome, dizem, já foi liberdade. (Uai, que trem é esse, sô?) Meu e-mail: euler.conrado@gmail.com


Tinha apenas dois anos de idade, quando, no dia 1º de abril de 1964, acontecera o golpe civil-militar que derrubou o presidente constitucionalmente eleito João Goulart - Jango. Era incapaz, portanto, de saber o que passava naquele momento, ainda mais na então bucólica e rural cidadezinha ou Arraial de Vespasiano, cuja população usufruía de um pequeno paraíso terrestre. Casas sem muros, ribeirão onde se podia nadar e pescar, áreas cobertas por matas, sem poluição. Bons tempos aqueles... Mas, no Brasilzão de meu Deus, o inferno abrira as portas, com figuras malignas conspirando pelo fim de um governo que sonhara construir um outro Brasil.

No dia 13 de março, exatamente há 50 anos, o Governo João Goulart, com seus aliados de esquerda - PCB, brizolistas, todo o movimento sindical, estudantes, lideranças camponesas, entre outros - realizara um grande comício na Central do Brasil, Rio de Janeiro, com a presença de milhares de pessoas. Neste grande ato, Jango anuncia as Reformas de Base que pretendia implantar, entre as quais, a reforma agrária nas terras às margens das rodovias federais, reformas política, educacional, entre outras. Nada que ameaçasse o sistema capitalista. Pelo contrário, eram reformas estruturais que certamente fortaleceriam o mercado interno, com melhor distribuição de renda. Reformas muito mais radicais haviam sido realizadas pelos países ricos do Ocidente. Mas o clima estava envenenado pela mídia, pelo contexto da Guerra Fria, pelos eternos conspiradores golpistas dos EUA e de seus aliados internos.

Dias depois deste enorme comício de Jango e de seus aliados, a direita golpista realizou uma igualmente numerosa "Marcha da Família com Deus pela Liberdade", em São Paulo, onde religiosos de direita, parte da classe média amedrontada, recalcada e teleguiada pela propaganda anticomunista, empresários e latifundiários tentaram criar o clima de caos a justificar o golpe que aconteceria alguns dias depois.

Em Minas Gerais, estava no governo o banqueiro Magalhães Pinto, que havia derrotado Tancredo Neves na disputa pelo Palácio da Liberdade. Magalhães Pinto foi um dos apoiadores civis do golpe militar. Publicamente (e cinicamente), manifestava apoio à manutenção de Jango até a realização de novas eleições. Por debaixo dos panos, conspirava para derrubar João Goulart. Tal como Lacerda, então governador do estado da Guanabara (Rio de Janeiro) - outro golpista contumaz, ambos da antiga UDN, partido da direita brasileira -, sonhava um dia assumir a presidência da República. Mas, como não tinha prestígio, nem voto para tanto, só restava mesmo o caminho do golpe. Consta, em revelações posteriores feitas por assessores do então governador mineiro, que este planejava inclusive fazer uma espécie de separação de Minas Gerais do resto do Brasil, tendo buscado clandestinamente apoio externo (EUA) para uma possível declaração de guerra de Minas contra o governo de Jango. Coisa bem patética, já que Magalhães Pinto, tal como Lacerda no Rio, não passava de marionete nas mãos das poderosas "forças ocultas" que articulavam o golpe contra Jango.

João Goulart era um político gaúcho de grande prestígio popular e com apoio dos sindicalistas. Seguira os passos de Getúlio Vargas, seu padrinho político, de quem fora ministro do Trabalho e caíra depois de anunciar um reajuste de 100% no salário mínimo. Fora eleito vice-presidente em 1960 - naquela época o vice-presidente era eleito separadamente do presidente - pelo então PTB (partido trabalhista), enquanto o líder populista Jânio Quadros era eleito presidente da República pela UDN. Sete meses depois, Jânio renunciara ao governo. O vice, Jango, que estava na China, teve dificuldade para assumir a presidência. Não fosse a Campanha da Legalidade liderada pelo então governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, cunhado de Jango, e este não tomaria posse. Mesmo assim assumiu com poucos poderes, já que houve um acordo às pressas dando maiores poderes ao parlamento. Tudo isso no início dos anos 60.

Logo se percebeu que este arranjo político não daria certo e em 1963 foi realizado um plebiscito para saber se a população concordava ou não com o parlamentarismo; ou se era a favor do retorno a um sistema presidencialista, com maiores poderes ao chefe do Executivo. A maioria da população aprovou este sistema, que daria a Jango mais poderes. Enquanto isso, a direita conspirava. Banqueiros, latifundiários, setores de alta patente das Forças Armadas, setores da Igreja Católica conservadores, grupos anticomunistas, e, logicamente, os EUA, através da CIA e de outros grupos, que financiavam a eleição de vários deputados da UDN e do PSD; financiavam também a mídia para atacar o governo de Jango, mídia esta que, tal como a mídia atual (quase os mesmos personagens, ou seus herdeiros de sangue e de ideologia), atacava sem dó ao governo de Jango.

Estou convencido de que Jango, com todas as críticas que a esquerda lhe faz, por não ter liderado uma resistência armada ao golpe de 1964, ainda terá o seu papel de destaque reconhecido pela história e pela memória dos brasileiros. Jango se cercou de muita gente boa. Cito o exemplo de Darcy Ribeiro, um dos seus ministros de estado, a quem conheci pessoalmente no início da década de 80, com a volta dos exilados políticos. O mineiro Darcy Ribeiro, de vasta cultura, era destes sonhadores que queriam um Brasil melhor para os de baixo. Fora ele quem dissera que o governo Jango havia caído muito mais pelas qualidades, do que pelos defeitos.

Na época, a direita e a sua mídia acusavam o governo Jango de querer implantar uma "república sindicalista", de querer implantar o comunismo, que iria agredir a santa propriedade privada dos ricos; os setores de direita da igreja diziam que a família estava ameaçava. Parte do oficialato do exército, representando uma classe média preconceituosa, alardeava pelos "bons costumes morais"; Minas e São Paulo eram talvez os dois estados mais conservadores, com uma elite política - com as devidas exceções -, muito medíocre, falso moralista, golpista e serviçal dos de cima, e colonialista. Ou seja, uma elite pronta a servir os interesses empresariais norte-americanos, desde que a população brasileira, na sua maioria pobre, ficasse de fora.

Se analisarmos bem, este cenário não mudou muito não. Temos uma mídia golpista, que ataca o governo federal 24 horas por dia, e conspira pela derrubada deste governo, já que pelo voto eles até agora ficaram de fora. Pelo menos nos últimos 12 anos tem sido assim. Claro que o contexto atual é outro. O mundo não está mais polarizado pelos discursos ideológicos (mais do que pela prática) entre comunismo e capitalismo. O capitalismo teve uma vitória de Pirro. Mas, encontra-se tão decadente, em estado terminal, que tende a se prostrar agonizante e de joelhos ante qualquer inimigo que se apresente para assumir o bastão. Ainda que demore mais alguns anos, ou séculos, o destino deste sistema está escrito. Não pode sobreviver eternamente uma forma de sociedade que se autodestrói quando se reproduz. É o capitalismo. É a morte anunciada.

Mas, aquele contexto de 60 era de Guerra Fria, marcado pela disputa entre EUA e a então União Soviética - que tive o gostinho de conhecer pessoalmente lá pelos idos de 1985, durante o XII Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes, realizado em Moscou. Dizem que figuras como Aécio Neves e Sérgio Cabral também passaram por lá. Ainda bem que não os vi. E nem poderia, já que, ao contrário destes personagens, meus círculos de amizade eram formados por pessoas da esquerda, marxistas de diversas matizes, e os deles, obviamente... bom, nem preciso dizer, né? Basta ver por aí com quem eles andam. A União Soviética tinha sido herdeira da grande Revolução Russa de 1917, e que, infelizmente, se enveredou por caminhos que desembocaram nos braços do capital. A história é assim, gente. Não é feita de forma reta, sem tropeços, sem solavancos; e nem tampouco é feita ao nosso bel prazer. Não controlamos as coisas, menos ainda as pessoas. Isto é bom. O nosso destino não está marcado. O nosso não, mas o do capital sim, podem anotar.

Jango era um sobrevivente daquela disputa ideológica. Tinha um perfil mais próximo de um conciliador, de um bem nascido que queria o bem para todos. De uma destas figuras raras no Brasil, que tendo nascido e vivido entre estancieiros (fazendeiros), pessoas de posse, tinha a sensibilidade de querer repartir com os pobres os frutos colhidos. A proposta de reforma agrária de Jango, por exemplo, que poderíamos considerar modesta, continua mais radical do que qualquer governo posterior, mesmo os de FHC, Lula e Dilma, juntos. Além disso, Jango era um nacionalista moderado, que defendia a presença sob controle do capital estrangeiro, ou seja, que eles tivessem lucro, mas que parte deste lucro ficasse aqui no Brasil. E isto o império norte-americano não aceitava de jeito nenhum. Queriam, como querem ainda hoje, tudo. Querem o céu só para eles, nem que tenham que transformar a Terra num verdadeiro inferno. Como fazem ainda hoje.

Na política externa, Jango defendia um caminho independente, não alinhado nem aos EUA e nem à então União Soviética. Não admira, portanto, que o governo dos EUA e seus grupos empresariais conspirassem e financiassem o golpe para derrubá-lo. Contavam com apoio de parlamentares da UDN e parte do PSD, com parte grande da igreja, parte do exército, com parte do judiciário imperial, com a mídia golpista - ah, esta mídia, até quando o Brasil dos de baixo vai aceitar viver sob a ditadura da palavra imposta por estes canalhas! Enfim, era pouca gente do contra, mas com muito poder em dinheiro e armas e influências. Do lado de Jango, uma parte mais radical de esquerda, de certa forma contribuía para entornar o caldo, pois radicalizava em palavras, em jogo de cena, fazendo portanto o jogo da direita, já que na prática não detinha poder real, nem organização social disposta a enfrentar o dragão do mal. Era o PCB, que se julgava no poder, sem tê-lo de fato; era uma UNE bem mais atuante que a de hoje; eram as Ligas Camponesas de Julião e outros sonhadores; eram comunistas como Gregório Bezerra, Prestes e Marighella, grandes figuras, que sacrificaram suas vidas por causas aparentemente perdidas.

Na véspera do golpe de 1964, que impôs ao Brasil longos 21 anos de ditadura, com direitos políticos cassados, tortura, extermínios, censura à imprensa, etc., o cenário era de uma guerra construída midiaticamente. De acordo com a mídia, o povo brasileiro queria a derrubada do governo. Contudo, uma pesquisa de opinião feita na época, que fora escondida, sonegada ao conhecimento da população, dava conta de que o governo de Jango contava com a simpatia de ampla maioria da população brasileira. Ou seja: pelo voto, a direita não ganharia o governo federal. Neste ponto, bem parecido com o cenário atual. Somente um golpe midiático, que consiga formar um caos construído no imaginário das pessoas, pode tirar a reeleição da presidenta Dilma. E é com este objetivo que a mídia brasileira trabalha. Basta ouvir os comentaristas bem pagos das Itatiaias, das Globos, das revistas Veja da vida, ou dos jornais Estado de Minas e Folha de São Paulo, para perceber o consenso instalado entre os de cima. Batem no governo federal o tempo todo, dizem que o Brasil está à beira do abismo, que haverá apagão, que a inflação vai disparar, que nenhum empresário mais quer investir no Brasil, que o mundo vai acabar se Dilma não for derrubada. Um verdadeiro TERRORISMO MIDIÁTICO sem direito de resposta. Querem fazer leis contra os garotos dos Black Blocs, que o máximo que fazem é quebrar meia dúzia de vidraças de agências bancárias. Já o terror midiático golpista não, este envenena o ambiente social, causa danos mentais talvez irreparáveis, destrói a convivência entre as pessoas, minam a possibilidade de organização social dos de baixo e ficam impunes. São os verdadeiros inimigos do povo pobre.

Por isso, ao lembrarmos novamente a passagem daqueles fatídicos momentos que marcaram a história do Brasil, e a história de cada um de nós individualmente, devemos retirar algumas lições. Uma delas, é a de que a frágil democracia brasileira continua ameaçada por forças que querem nos manter aprisionados aos interesses de minorias privilegiadas. E também, a de que todos nós seremos vítimas dos golpes, caso fiquemos alheios ao que acontece a nossa volta. Urge, portanto, refletirmos sobre estas e outras lições, e nos posicionarmos em defesa dos direitos sociais e políticos conquistados a duras penas; e de lutarmos por novas conquistas, na Educação básica pública, na saúde, pelo fim do monopólio da mídia, por uma reforma política e no judiciário, e por uma reforma agrária que alcance os interesses dos de baixo, entre outras mudanças. Ah, e até que a esquerda consiga construir uma real alternativa viável de poder, pela reeleição da Dilma, de preferência, com mais força, para se livrar de pesos à direita que compõem o seu governo.
Um forte abraço a todos e força na luta! 
Até a nossa vitória!