domingo, 2 de março de 2014

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2 DE MARÇO DE 2014
OMBUDSMAN CONTESTA FOFOCA SOBRE LULA 
E DILMA
Suzana Singer diz que reportagem da Folha que alimenta intriga entre ex-presidente e sua sucessora abusa de declarações 'off the record', que devem ser explicadas ao leitor e usadas
com moderação
247 - Sem citar fontes, a Folha de S. Paulo publicou na edição de 24 de fevereiro uma matéria para alimentar a intriga entre a presidente Dilma Rousseff e seu antecessor, Lula. “Em público, elogios apaixonados. Reservadamente, críticas ao estilo de governar”, diz o texto.
O jornal de Otavio Frias afirma que Lula está convencido de que Dilma está "divorciada" das classes política e empresarial, apesar de acreditar em sua reeleição.
A matéria não passou pelo crivo da ombudsman do jornal, Suzana Singer: “Reportagem abusa de declarações 'off the record', que devem ser explicadas ao leitor e usadas com moderação”.
Segundo ela, é inegável que textos assim parecem intriga; tanto que a presidente gentilmente mandou a Folha parar de fazer fofoca: "Eu acho que vocês podem tentar de todas as formas criar qualquer conflito, barulho ou ruído entre mim e o presidente Lula, que vocês não vão conseguir".

Leia aqui a crítica na íntegra. ABAIXO TAMBÉM:

SUZANA SINGER - ombudsman@uol.com.br -@folha_ombudsman - facebook.com/folha.ombudsman
Anônimos
Reportagem abusa de declarações 'off the record', que devem ser explicadas ao leitor e usadas com moderação

Na segunda-feira, a Folha informava na capa que o ex-presidente Lula anda criticando o governo Dilma em conversas com políticos e empresários. Lula teria dito que confia na reeleição de sua ex-ministra, mas que ela precisa mudar em 2015. A atual equipe econômica estaria com o "prazo de validade vencido".

A reportagem foi toda construída com declarações "off the record" ("fora dos registros"), feitas em condição de anonimato a pedido dos entrevistados. São citados "interlocutores do mundo político e empresarial", pessoas da "equipe de Lula" e um "amigo próximo do ex-presidente" (http://folha.com/no1416735).

O segundo destaque de política, nesse mesmo dia, eram as preocupações de empresários com o intervencionismo na economia e com a formação do ministério de um eventual novo mandato de Dilma. Mais uma vez, tudo "off the record". Os anônimos eram "líderes do agronegócio", "o dirigente de uma grande indústria", "banqueiros de peso" e "empreiteiros" (http://folha.com/no1416741).

Declarações anônimas são um instrumento importante do jornalismo, porque, muitas vezes, não há outra forma de obter uma informação valiosa. Só que seu uso não pode ser banalizado, deve ser um último recurso da reportagem.

Quando dá espaço a vozes sem dono ou crava uma informação baseada em "a Folha apurou...", o jornal está exigindo um voto de confiança do leitor. 
É como se dissesse: "Não posso contar quem afirmou isso nem como consegui o dado, mas está correto, acredite".

A informação "off the record" costuma ser negada no dia seguinte e aí o jornal garante que as fontes são "seguras". No caso das críticas de Lula a Dilma, na própria segunda-feira, a presidente gentilmente mandou a Folha parar de fazer fofoca: "Eu acho que vocês podem tentar de todas as formas criar qualquer conflito, barulho ou ruído entre mim e o presidente Lula, que vocês não vão conseguir".

O ideal é que a declaração anônima seja o ponto de partida de uma apuração maior, que o repórter busque documentos e entrevistas que comprovem o que foi dito. Nas reportagens sobre as ressalvas à gestão Dilma, dá para entender a dificuldade de convencer o entrevistado a mostrar a cara, mas é inegável que textos assim, sem nenhum nome citado, parecem intriga.

Para diminuir essa má sensação, o jornal deveria explicar por que aceita reproduzir declarações de gente invisível. Algo na linha "a Folha aceitou o anonimato porque os empresários temem represálias do governo" ou "a Folha ouviu quatro petistas e dois banqueiros, que não revelaram seus nomes porque Lula pediu sigilo nas conversas".

Aposto que, se exigir que o "off" seja justificado, o jornal constatará que ele é, muitas vezes, dispensável. A presença de anônimos deveria reduzir-se ao mínimo necessário.