17/06/2014
A 'turma dos anos 90'
e a pigarra da história
O
maior desafio de Aécio Neves reside naquilo que fez a convenção do PSDB
parecer uma daquelas tertúlias de aposentados gabolas.
por: Saul Leblon
A convenção do PSDB
que oficializou Aécio Neves como candidato tucano, no último
sábado, foi tão marcante que o principal destaque ficou por conta do que
não houve.
O partido adiou, mais uma vez, o anúncio do vice em sua chapa.
A 19 dias de esgotar o prazo para o registro das candidaturas, o problema de Aécio é saber quem desagrega menos.
Não é uma escolha fácil.
O repertório vai de um impoluto Paulinho ‘Boca’, da Força Sindical, ao demo Agripino Maia, ou talvez o híbrido de pavão e tucano, Tasso Jereissati , ambos, como se sabe, referências de enorme apelo popular. Correndo por fora, a opção puro sangue, Aécio – Serra, reúne afinidades equivalentes à convergência entre o fósforo e a pólvora.
O dilema não é novo no PSDB. O ex-governador José Serra viveu problema semelhante em 2010.
A indecisão quanto ao nome que o acompanharia na derrota para Dilma começou justamente quando Aécio tirou o corpo fora, recusando a vaga que hoje oferece ao rival.
Sem opções que agregassem voto, tempo de TV ou base no Congresso (caso, pelo menos, do marmóreo vice de Dilma, o pemedebista Michel Temer), Serra postergou a decisão até o limite final, para então protagonizar o abraço de afogado com um jovem demo.
Tal qual emergiu, Índio da Costa (DEM-RJ) submergiria para a eternidade do anonimato após a derrota.
A dificuldade com o vice é sintomática da representatividade dos aliados.
Mas não é o principal obstáculo para ampliar o teto da candidatura conservadora.
Passada a fase alegre da postulação interna contra rivais destroçados, Aécio terá que dizer ao país a que veio.
Seu maior desafio reside naquilo que fez a convenção de sábado parecer uma daquelas tertúlias típicas de aposentados gabolas.
O celofane da mocidade mineira talvez seja insuficiente para conter o cheiro de naftalina que irradia das imagens sempre que a ‘turma dos anos 90’, integrada por Serra, FHC, Pimenta da Veiga, Agripino e assemelhados se junta para renovar o formol do velho projeto.
Por mais que a palavra mudança seja evocada por entre cenhos franzidos, comissuras enérgicas e punhos erguidos, não cola.
Não há pastilha Valda que conserte a pigarra da história.
A esperança em um futuro crível para a economia e a sociedade é incompatível com a regressão apregoada pelos defensores de um modelo que, a rigor, não dispõe mais de força nem de consentimento para se repetir.
Para entender o porquê é preciso enxergar os ingredientes que fizeram o fastígio da hegemonia neoliberal no final do século XX.
A saber.
Três décadas de arrocho sobre o rendimento do trabalho nas principais economias ricas, facilitado pela ascensão industrial chinesa; um contrapeso de crédito farto ao consumo –e em muitos casos, irresponsável, como se viu na gota d’água das subprimes e, finalmente, por sobre o conjunto, uma untuosa camada de mimos tributários que rechearam os cofres dos endinheirados , contribuindo para a superliquidez que caracterizou a praça mundial durante décadas.
Foi sobre essa base de Estado mínimo com desonerações para os ricos, renda e trabalho esfacelados, que se deu o auge e o colapso do modelo. Um movimento inscrito dentro do outro, como em uma sinfonia.
O arranjo só não desafinou antes, repita-se, graças à válvula de escape de endividamento maciço de Estados e famílias, propiciado pela desregulação que liberou a banca de controles e permitiu a lambança do crédito lastreado em derivativos tóxicos.
Era tanto dinheiro que permitia viver hoje como se não houvesse amanhã.
Em vez de salários e direitos, créditos sobre créditos para famílias quebradas.
Em vez de arrecadar mais dos ricos, tomar emprestado deles na forma de endividamento público, para suprir a anemia fiscal de Estados obrigados a dar conta de serviços não lucrativos, por isso não privatizados.
O endividamento público lubrificado, no caso brasileiro, por um juro real superior a 10% ao ano durante o ciclo do PSDB (hoje é de 5%), supria os cofres dos governos e alegrava o rentismo.
A tentativa atual de 'limpar’ a implosão do modelo removendo apenas seus ‘excessos na ponta do crédito resulta no filme de terror em cartaz na Europa.
Preservar para cima, com arrocho para baixo, associando à seca do crédito cortes sobre direitos e salários, ademais da retração do emprego, significa uma carnificina econômica e social.
No caso brasileiro há o inconveniente adicional de que –nos marcos do regime democrático-- essa operação talvez não seja mais viável depois de 12 anos de governos do PT.
A ‘mensagem mudancista ‘ de Aécio está visivelmente emparedada nessa encruzilhada.
De um lado, ele precisa atender o camarote vip que encarna e que o patrocina.
Engajados em uma cruzada de preconceito belicoso contra Dilma e o PT, os endinheirados exigem compromissos com medidas heroicas .
Aquelas que Aécio prometeu tomar --‘se der, no primeiro dia’, como afirmou às papilas empresariais famintas, reunidas num regabofe na casa do animador de eventos, João Dória Jr, (conforme a Folha 02/04).
A esperança conservadora é a de que a baixa atividade decorrente de uma paulada imediata no juro, com consequente recuo do crédito e compressão do salários real, devolva a senzala ao seu lugar.
E o país aos bons tempos.
O trânsito ficaria menos carregado; os aeroportos recuperariam o velho charme .
Não só.
Um desemprego ‘funcional’ de 12,5%, como no ciclo do PSDB (hoje é da ordem de 5%), estalaria a chibata da redução do custo Brasil nas costas de quem tem 500 anos de familiaridade com o assunto.
Mais quatro anos, que diferença faz?
Novidades no front sugerem talvez não seja tão simples assim rodar o modelo original no azeite do arrocho.
Um Brasil formado por dezenas de milhões de famílias antes apartadas na soleira da porta, do lado de fora do país, agora cobra a sua vaga no mercado e na cidadania.
No seleto clube do juro alto essa gente figura como estorvo.
No ciclo de governos do PT o estorvo tomou gosto da mobilidade social.
No cálculo político do candidato tucano a precaução recomenda que não se diga em público aquilo que se afirma na casa do animador do ‘Cansei’, Dória Jr.
Instala-se assim um malabarismo de alto risco no picadeiro do circo conservador.
Aécio, ora assume o estereótipo de mineirinho afável, ora tenta distrair a plateia acusando pecadores com o fogo dos savonarolas de passado inflamável.
Enquanto isso, operadores de mercado que o representam costuram o peru recheado de arrocho servido nos regabofes da plutocracia insaciável.
O principal personagem dessas tertúlias é Armínio Fraga, espécie de ‘é com esse que eu vou lucrar até cair no chão’ da nação rentista.
O prestígio não é obra do acaso.
Armínio carrega no currículo o feito de ter elevado a taxa de juro brasileira de 25% para 45%, em março de 1999.
O colosso se deu quando esse quadro reconhecido como ‘nosso homem no Brasil’ pela alta finança internacional –Timothy Gartner, ex-secretário do Tesouro americano, sugeriu o seu nome a Obama para presidir o Fed -- assumiu a presidência do BC brasileiro, no governo Fernando Henrique Cardoso.
Em declarações para o público mais amplo, Armínio, que também possui cidadania americana, procura demonstrar serenidade e comedimento. Veste o figurino do Aécio afável e apregoa um caminho gradual, ‘sem choque’, para recolocar as coisas nos eixos.
Nas entrelinhas do comedimento, porém, ressoa o ‘matador dos mercados’, que parece falar diretamente ao camarote vip do ‘Itaquerão’.
Na hipótese de uma extrema eficiência na lavagem cerebral promovida pela mídia, a ‘turma dos 90’ pode até vencer em outubro.
Mas conseguiria governar emparedada nesse duplo torniquete, entre o compromisso com a alta finança, de um lado, e a pressão ascendente de um Brasil que tomou gosto pela cidadania, de outro?
Confira, abaixo, trechos das dubitativas respostas de Armínio , em entrevista ao Valor, nesta 2ª feira:
Sobre baixar a meta da inflação (leia-se, sobre o tamanho da paulada nos juros num eventual governo tucano):
‘Tem que ter uma sequência. Primeiro, chegar a uma situação de preços normais, não tabelados, não reprimidos, levar essa inflação para a meta e, depois, decidir o que fazer. Acho que a meta deveria cair um pouco e lentamente...Vamos ter que tirar o remédio do paciente, que está dopado.
Sobre a conveniência de Aécio dizer que está pronto para tomar ‘medidas impopulares’
'Sincericídio', acho que não. É um pouco de 'honesticídio', isso sim. Temos que cair na real: as coisas não estão dando certo.
Sobre o futuro dos salários num governo tucano.
Acho os salários no Brasil ridiculamente baixos porque o Brasil é um povo pouco educado e pouco produtivo. Por isso é que os salários aqui correspondem a 20% dos salários dos países ricos. Há algumas áreas que ganham salários parecidos, mas o salário médio aqui é muito baixo porque somos um país pobre. E por que somos pobres? Porque o país não está crescendo. O salário tem que guardar alguma relação com a produtividade. Isso está nas atas do Copom e nas melhores cabeças que estão no governo. O país não está crescendo, caia na real! Qualquer coisa que eu diga vão interpretar como arrocho enquanto o arrocho já está aí, está sendo feito pela inflação.
Sobre a fuga de capitais que estaria em curso no país enquanto o investimento privado vive uma greve branca.
O brasileiro gosta do seu país, gosta de morar aqui, de investir aqui. Mas o grau de incerteza hoje é tal que as pessoas estão pensando em investir fora do Brasil, estão pensando até em sair do Brasil. Há um medo que vai além da economia, é medo político também. Há uma sensação de medo que as pessoas não têm coragem de manifestar abertamente. Medo de uma atitude contra a liberdade de imprensa, contra a democracia.
O partido adiou, mais uma vez, o anúncio do vice em sua chapa.
A 19 dias de esgotar o prazo para o registro das candidaturas, o problema de Aécio é saber quem desagrega menos.
Não é uma escolha fácil.
O repertório vai de um impoluto Paulinho ‘Boca’, da Força Sindical, ao demo Agripino Maia, ou talvez o híbrido de pavão e tucano, Tasso Jereissati , ambos, como se sabe, referências de enorme apelo popular. Correndo por fora, a opção puro sangue, Aécio – Serra, reúne afinidades equivalentes à convergência entre o fósforo e a pólvora.
O dilema não é novo no PSDB. O ex-governador José Serra viveu problema semelhante em 2010.
A indecisão quanto ao nome que o acompanharia na derrota para Dilma começou justamente quando Aécio tirou o corpo fora, recusando a vaga que hoje oferece ao rival.
Sem opções que agregassem voto, tempo de TV ou base no Congresso (caso, pelo menos, do marmóreo vice de Dilma, o pemedebista Michel Temer), Serra postergou a decisão até o limite final, para então protagonizar o abraço de afogado com um jovem demo.
Tal qual emergiu, Índio da Costa (DEM-RJ) submergiria para a eternidade do anonimato após a derrota.
A dificuldade com o vice é sintomática da representatividade dos aliados.
Mas não é o principal obstáculo para ampliar o teto da candidatura conservadora.
Passada a fase alegre da postulação interna contra rivais destroçados, Aécio terá que dizer ao país a que veio.
Seu maior desafio reside naquilo que fez a convenção de sábado parecer uma daquelas tertúlias típicas de aposentados gabolas.
O celofane da mocidade mineira talvez seja insuficiente para conter o cheiro de naftalina que irradia das imagens sempre que a ‘turma dos anos 90’, integrada por Serra, FHC, Pimenta da Veiga, Agripino e assemelhados se junta para renovar o formol do velho projeto.
Por mais que a palavra mudança seja evocada por entre cenhos franzidos, comissuras enérgicas e punhos erguidos, não cola.
Não há pastilha Valda que conserte a pigarra da história.
A esperança em um futuro crível para a economia e a sociedade é incompatível com a regressão apregoada pelos defensores de um modelo que, a rigor, não dispõe mais de força nem de consentimento para se repetir.
Para entender o porquê é preciso enxergar os ingredientes que fizeram o fastígio da hegemonia neoliberal no final do século XX.
A saber.
Três décadas de arrocho sobre o rendimento do trabalho nas principais economias ricas, facilitado pela ascensão industrial chinesa; um contrapeso de crédito farto ao consumo –e em muitos casos, irresponsável, como se viu na gota d’água das subprimes e, finalmente, por sobre o conjunto, uma untuosa camada de mimos tributários que rechearam os cofres dos endinheirados , contribuindo para a superliquidez que caracterizou a praça mundial durante décadas.
Foi sobre essa base de Estado mínimo com desonerações para os ricos, renda e trabalho esfacelados, que se deu o auge e o colapso do modelo. Um movimento inscrito dentro do outro, como em uma sinfonia.
O arranjo só não desafinou antes, repita-se, graças à válvula de escape de endividamento maciço de Estados e famílias, propiciado pela desregulação que liberou a banca de controles e permitiu a lambança do crédito lastreado em derivativos tóxicos.
Era tanto dinheiro que permitia viver hoje como se não houvesse amanhã.
Em vez de salários e direitos, créditos sobre créditos para famílias quebradas.
Em vez de arrecadar mais dos ricos, tomar emprestado deles na forma de endividamento público, para suprir a anemia fiscal de Estados obrigados a dar conta de serviços não lucrativos, por isso não privatizados.
O endividamento público lubrificado, no caso brasileiro, por um juro real superior a 10% ao ano durante o ciclo do PSDB (hoje é de 5%), supria os cofres dos governos e alegrava o rentismo.
A tentativa atual de 'limpar’ a implosão do modelo removendo apenas seus ‘excessos na ponta do crédito resulta no filme de terror em cartaz na Europa.
Preservar para cima, com arrocho para baixo, associando à seca do crédito cortes sobre direitos e salários, ademais da retração do emprego, significa uma carnificina econômica e social.
No caso brasileiro há o inconveniente adicional de que –nos marcos do regime democrático-- essa operação talvez não seja mais viável depois de 12 anos de governos do PT.
A ‘mensagem mudancista ‘ de Aécio está visivelmente emparedada nessa encruzilhada.
De um lado, ele precisa atender o camarote vip que encarna e que o patrocina.
Engajados em uma cruzada de preconceito belicoso contra Dilma e o PT, os endinheirados exigem compromissos com medidas heroicas .
Aquelas que Aécio prometeu tomar --‘se der, no primeiro dia’, como afirmou às papilas empresariais famintas, reunidas num regabofe na casa do animador de eventos, João Dória Jr, (conforme a Folha 02/04).
A esperança conservadora é a de que a baixa atividade decorrente de uma paulada imediata no juro, com consequente recuo do crédito e compressão do salários real, devolva a senzala ao seu lugar.
E o país aos bons tempos.
O trânsito ficaria menos carregado; os aeroportos recuperariam o velho charme .
Não só.
Um desemprego ‘funcional’ de 12,5%, como no ciclo do PSDB (hoje é da ordem de 5%), estalaria a chibata da redução do custo Brasil nas costas de quem tem 500 anos de familiaridade com o assunto.
Mais quatro anos, que diferença faz?
Novidades no front sugerem talvez não seja tão simples assim rodar o modelo original no azeite do arrocho.
Um Brasil formado por dezenas de milhões de famílias antes apartadas na soleira da porta, do lado de fora do país, agora cobra a sua vaga no mercado e na cidadania.
No seleto clube do juro alto essa gente figura como estorvo.
No ciclo de governos do PT o estorvo tomou gosto da mobilidade social.
No cálculo político do candidato tucano a precaução recomenda que não se diga em público aquilo que se afirma na casa do animador do ‘Cansei’, Dória Jr.
Instala-se assim um malabarismo de alto risco no picadeiro do circo conservador.
Aécio, ora assume o estereótipo de mineirinho afável, ora tenta distrair a plateia acusando pecadores com o fogo dos savonarolas de passado inflamável.
Enquanto isso, operadores de mercado que o representam costuram o peru recheado de arrocho servido nos regabofes da plutocracia insaciável.
O principal personagem dessas tertúlias é Armínio Fraga, espécie de ‘é com esse que eu vou lucrar até cair no chão’ da nação rentista.
O prestígio não é obra do acaso.
Armínio carrega no currículo o feito de ter elevado a taxa de juro brasileira de 25% para 45%, em março de 1999.
O colosso se deu quando esse quadro reconhecido como ‘nosso homem no Brasil’ pela alta finança internacional –Timothy Gartner, ex-secretário do Tesouro americano, sugeriu o seu nome a Obama para presidir o Fed -- assumiu a presidência do BC brasileiro, no governo Fernando Henrique Cardoso.
Em declarações para o público mais amplo, Armínio, que também possui cidadania americana, procura demonstrar serenidade e comedimento. Veste o figurino do Aécio afável e apregoa um caminho gradual, ‘sem choque’, para recolocar as coisas nos eixos.
Nas entrelinhas do comedimento, porém, ressoa o ‘matador dos mercados’, que parece falar diretamente ao camarote vip do ‘Itaquerão’.
Na hipótese de uma extrema eficiência na lavagem cerebral promovida pela mídia, a ‘turma dos 90’ pode até vencer em outubro.
Mas conseguiria governar emparedada nesse duplo torniquete, entre o compromisso com a alta finança, de um lado, e a pressão ascendente de um Brasil que tomou gosto pela cidadania, de outro?
Confira, abaixo, trechos das dubitativas respostas de Armínio , em entrevista ao Valor, nesta 2ª feira:
Sobre baixar a meta da inflação (leia-se, sobre o tamanho da paulada nos juros num eventual governo tucano):
‘Tem que ter uma sequência. Primeiro, chegar a uma situação de preços normais, não tabelados, não reprimidos, levar essa inflação para a meta e, depois, decidir o que fazer. Acho que a meta deveria cair um pouco e lentamente...Vamos ter que tirar o remédio do paciente, que está dopado.
Sobre a conveniência de Aécio dizer que está pronto para tomar ‘medidas impopulares’
'Sincericídio', acho que não. É um pouco de 'honesticídio', isso sim. Temos que cair na real: as coisas não estão dando certo.
Sobre o futuro dos salários num governo tucano.
Acho os salários no Brasil ridiculamente baixos porque o Brasil é um povo pouco educado e pouco produtivo. Por isso é que os salários aqui correspondem a 20% dos salários dos países ricos. Há algumas áreas que ganham salários parecidos, mas o salário médio aqui é muito baixo porque somos um país pobre. E por que somos pobres? Porque o país não está crescendo. O salário tem que guardar alguma relação com a produtividade. Isso está nas atas do Copom e nas melhores cabeças que estão no governo. O país não está crescendo, caia na real! Qualquer coisa que eu diga vão interpretar como arrocho enquanto o arrocho já está aí, está sendo feito pela inflação.
Sobre a fuga de capitais que estaria em curso no país enquanto o investimento privado vive uma greve branca.
O brasileiro gosta do seu país, gosta de morar aqui, de investir aqui. Mas o grau de incerteza hoje é tal que as pessoas estão pensando em investir fora do Brasil, estão pensando até em sair do Brasil. Há um medo que vai além da economia, é medo político também. Há uma sensação de medo que as pessoas não têm coragem de manifestar abertamente. Medo de uma atitude contra a liberdade de imprensa, contra a democracia.
17 DE NOVEMBRO
DE 2012
VOCÊ SABE QUEM É SAUL LEBLON?
Cá entre nós, a melhor homenagem e reverência que se pode
fazer a esse grande observador
e comentarista da nossa cena política é deixá-lo assim mesmo, no anonimato
LULA MIRANDA
Leitor
de esquerda que se preza já leu algum texto de Saul Leblon – seja na Carta Maior ou em qualquer outro
espaço da mídia alternativa: Viomundo,Escrevinhador, Conversa Afiada, Brasil 247, Luis Nassif Online, Blog da Cidadania, Blog do Miro,
RS Urgente,Barão
de Itararé, Olhos do Sertão, O Terror do Nordeste, Blog do Saraiva e tantos outros. É o homem do já famoso Blog das Frases – um recordista em acessos. É o cara que está em todos os sítios
do chamado “lado de cá”, e em todos os lugares que acolhem os ideais mais
progressistas e humanistas; sim, ele é “o cara”.
A
verve e argúcia deste “personagem” da blogosfera é admirável e digna de louvor.
Percebe-se que ele é um dos mestres, um dos raros “virtuoses” da palavra (e das
idéias) entre nós, os “escribas” do campo das esquerdas. A logopéia [“a
dança do intelecto entre as palavras” – by Ezra Pound] que
caracteriza seus textos é quase tão cadenciada e admirável quanto aquela
coreografia dançada por Jorge Dom, feita para o bolero de Ravel [“Forçou a
amizade” – vc deve estar pensando]. Ler um texto seu é uma experiência
tão prazerosa como escutar uma boa música ou comer um bom prato de feijão com
arroz. Exagero meu?
Certamente,
na condição de leitor e frequentador assíduo de algumas dessas verdadeiras Ágoras do mundo virtual citadas acima, você
já conhece esse “personagem” – quero dizer, conhece seus textos e estilo. Não
conhece? Se não, precisa conhecer.
Mas aqui cabe a pergunta fundamental:
você realmente conhece Saul Leblon? Sabe quem ele é? Já leu algum livro ou assistiu
a alguma palestra dele? SL tem CPF? Já viu a sua face ou biografia estampada em
algum de seus textos? Já encontrou com ele nas ruas da cidade; na padaria; no
supermercado ou na farmácia? Provavelmente não.
Repito então a questão: quem
é Saul Leblon?
Já fiz até uma consulta aos
editores dos principais blogs. Sim, eles publicam seus textos e até elogiam seu
trabalho, mas... Não, não conhecem a figura. Não sabe quem é (?!). Sacou o
lance? Todos repercutem Leblon, mas ninguém sabe quem ele é!
Por muito tempo desconfiei
ser uma espécie de alterego ou pseudônimo de algum dos nossos. Seu nome seria
um simulacro um tanto jocoso, uma pilhéria? O “Saul”, segundo essa minha tese
ou suposição, sinalizaria sua ascendência judaica. Saul, o primeiro rei de Israel,
belo, corpulento e vaidoso, que foi tomado pela insânia dos poderosos e
deserdado por Deus.
E o “Leblon” seria pelo fato de ser
morador ou uma espécie de “garoto-propaganda” do aprazível e “descolado”
bairro carioca. Ou eu teria caído em sua esparrela semântica? Ou seria ele em
verdade apenas um paulista que curte o Rio de Janeiro ou um “carioca-paulista”?
Bom, “carioca-paulista” já temos, para o nosso gáudio (rs), o impagável Paulo
Henrique Amorim. Mas PHA, com seu estilo inconfundível, estou seguro, não
é Saul Leblon. Ou, melhor dizendo, Saul Leblon não é Paulo Henrique.
Então quem seria esse
tal de Saul Leblon? Seria irmão do Professor Hariovaldo [Almeida Prado]? Do
Stanley Burburinho? Ah, esses outros dois mereciam uma crônica à parte.
Esses personagens da
blogosfera...
Quem é Saul Leblon? A princípio pensei que era um pseudônimo
utilizado pelo professor Flávio Aguiar – também este um virtuoso dessa nossa vã
logopéia. Já desconfiei até que fosse o Marco Aurélio Weissheimer, o gaúcho
editor-chefe da “Carta Maior” – o cara que “carrega o piano” para os artistas tocarem, mas que
quando resolve tocar... sai de baixo.
Já
pensei também ser um, digamos, “disfarce autoral” utilizado pelo velho e
discreto “Palha” [Joaquim Palhares, um dos fundadores e “sócio-majoritário” da “Carta”].
Será que estava errado em todas
essas minhas suposições? Quem é Saulo Leblon, afinal?!
Será ele um velho quadro do
“partidão”, professor da ECA, disfarçado, camuflado por detrás de um nome assim
“esquisito”, que soasse assim um tanto “cafona” ou “retrô”; escondendo-se, não
sem uma leve e indispensável pitada de sarcasmo, da patrulha do “neomacartismo”
à brasileira? Pouco importa.
Cá entre nós, a melhor
homenagem e reverência que se pode fazer a esse grande observador e
comentarista da nossa cena política é deixá-lo assim mesmo, no anonimato;
envolto nessa dúvida, nessa penumbra e charmoso “mistério”. Já nos ensinava um
dos senhores da guerra: a vaidade enfraquece o combatente.
De sorte que, após ler seus textos, reste-nos sempre essa
pergunta: quem diabos afinal é esse tal de Saul Leblon que sempre aparece, no
momento certo, com seus comentários precisos, luminosos, nesses dias de
espetacular banalidade e anomia. À maneira de um exímio esgrimista, com seu
golpe final, ele nos alegra e redime: touché!
Você sabe, caro leitor? Quem
é Saul Leblon, esse célebre desconhecido? Eu, confesso, só descobri muito
recentemente. Foi aí que resolvi, já com um certo atraso, diga-se, escrever
esse texto em sua homenagem.
Quer saber? Vou lhes
revelar agora. Saul Leblon é, de fato, Saul Leblon. Simples assim. Mais não
conto. Ou você arriscaria algum outro palpite?