terça-feira, 26 de agosto de 2014

DOIS ARTIGOS ANALISAM A ATUAL SITUAÇÃO POLÍTICA E SEUS CANDIDATOS À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. LEIA ABAIXO: DE DENTADURAS & DENTADAS À PERGUNTA QUE O PAÍS QUER RESPOSTAS DA CANDIDATA: QUE LIGAÇÕES E INTERESSES EXISTEM DE MARINA COM A FAMÍLIA SETUBAL???










postado em: 25/08/2014
 
O Brasil espremido entre
dentaduras e dentadas
Saul Leblon
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O Brasil espremido entre dentaduras e dentadas

A dentadura que devolveu o sorriso à boca de uma sertaneja pobre de Paulo Afonso, na Bahia, foi transformada pela mídia isenta em um escândalo eleitoral.

As escolhas que ela envolve são mais sérias do que esse factoide.

Oito incisivos, 4 caninos e 20 molares de resina da sertaneja Nalvinha receberam da mídia um tratamento equivalente ao dispensado ao aeroporto de R$ 14 milhões que Aécio construiu com dinheiro público na fazenda do tio Múcio.

Mereceram a mesma gravidade atribuída ao misterioso jatinho Cessna, de R$ 24 milhões, cuja queda matou Eduardo Campos e abriu uma cratera de dúvidas quanto à origem, a legalidade e os interesses que embalam a candidatura do PSB.

Não importa que os trinta e dois dentes novos façam parte de um amplo programa federal lançado em março de 2004, destinado a devolver o sorriso a milhões de brasileiros cujo único vínculo com a saúde bucal era o velho boticão.

Não é uma miragem.

Ao completar uma década, o ‘Brasil Sorridente’ já entregou quase 500 mil próteses dentárias parecidas com a de Nalvinha. Estendeu o direito a tratamento dentário a 79,6 milhões de adultos e crianças em 4.971 municípios brasileiros.

A julgar pelo martelete midiático, tudo não passa de uma fraude.

A tola e/ou ingênua decisão de providenciar a prótese da sertaneja Nalvinha na véspera da visita da Presidenta Dilma a sua casa, também equipada de cisternas –o governo federal já financiou 481 mil delas em 1.426 municípios do semiárido nordestino e liberou R$ 1 bilhão este ano para chegar a 750 mil até dezembro— alimentou o banzeiro.

Foi o suficiente para que o maior programa de saúde bucal do mundo evaporasse na conveniência da narrativa conservadora.

O episódio seria só mais um embate em torno de um programa social, não fosse tão representativo da imensa dificuldade que é mover a fronteira da inclusão social no Brasil à margem do Estado e das políticas públicas.

Entre outras coisas, a polêmica da ‘dentadura eleitoral’ sonegou ao eleitor alguns paradoxos de uma matriz conhecida.

Por exemplo, o fato de o Brasil ser o país com o maior número de dentistas do mundo.

Tem-se aqui quase 20% dos profissionais de odontologia do planeta.

São cerca de 250 mil dentistas de um total pouco superior a um milhão no mundo; um contingente que mesmo em termos relativos impressiona. Com população superior a nossa, os EUA, por exemplo, dispõem de pouco mais que 170 mil dentistas; a Alemanha tem 70 mil deles; França, México e Argentina contam com 40 mil cada.

A dianteira pelo jeito veio para ficar.

A Associação Brasileira de Odontologia (ABO) informa que quase 15 mil novos dentistas chegam ao mercado brasileiro a cada ano, formados pelas 203 faculdades de odontologia existentes no país.

O segundo paradoxo: esse superlativo arsenal está longe de se refletir no sorriso de boa parte da população que não tem acesso ao cuidado odontológico.

Até entrar em campo o ‘Brasil Sorridente’, um contingente da ordem de 30 milhões de brasileiros nunca havia sentado em uma cadeira de dentista.

A razão é a mesma que levou o governo a importar mais de 14 mil médicos cubanos para levar assistência a 50 milhões de brasileiros pobres, através do ‘Mais Médicos’.

A mesma que gerou o Bolsa Família. A mesma que levou à criação do Prouni. A mesma que promoveu a instituição de cotas na universidade. A mesma que impulsionou o crédito subsidiado à agricultura familiar. A mesma que leva o BNDES a carrear recursos do Tesouro para áreas do interesse estratégico do país. A mesma que fez o governo Lula instituir uma regulação soberana para o pré-sal. A mesma que encorajou a Petrobrás a impor um índice de nacionalização de 60% nas encomendas de serviços e equipamentos necessários à exploração.

A razão é que o capitalismo deixado à própria sorte é incapaz de construir uma sociedade. E menos ainda uma democracia social como a que se pretende no Brasil.

O sorriso devolvido à sertaneja Nalvinha não é fruto das forças de mercado.

Ele só ressurgiu no rosto da sertaneja de Paulo Afonso porque os governos Lula e Dilma tomaram a decisão política de resgatá-lo investindo R$ 10 bilhões no ‘Brasil Sorridente’.

Vem daí a pergunta incomoda, abafada pela pauta dos operadores e herdeiros da alta finança.

Se nem mesmo uma dentadura chega à boca do brasileiro pobre, sem a ação do Estado, como conceber que um novo ciclo de desenvolvimento associado à justiça social possa florescer por força da lógica estrita da ‘racionalidade dos mercados’?

Aquela que inclui entre os seus preceitos a ideia de que a moeda de uma nação deve ser entregue à administração de um banco central independente do governo e da democracia.

A diretriz anunciada tanto pelo operador tucano Armínio Fraga, quanto pela coordenadora do programa do Partido Socialista, Neca do Itaú, vende como ciência aquilo que é a essência da dominação financeira no capitalismo: o manejo dos juros na economia.

Trata-se de ‘proteger’ as decisões monetárias das pressões originárias do mundo político, alega-se.

Por mundo político entenda-se o conflito de classes, ilegítimo aos olhos de quem enxerga a política como excrescência e o seu interesse como uma segunda natureza, e não parte de uma correlação de forças que disputa o destino da economia e o da sociedade.

A repartição do ônus gerado pela maior crise do capitalismo dos últimos 80 anos demonstra a pouca aderência dessa visão à realidade.

Seis anos após o colapso de 2008, a lucratividade dos bancos norte-americanos registrou lucros recordes nesse segundo trimestre.

Em contrapartida, a subutilização da força de trabalho –indicador que soma emprego parcial e desistência de buscar vaga- atinge assustadores 13%.

Na maior economia capitalista da terra, metade das vagas criadas no pós-crise é de tempo parcial, com salários depreciados.

Não é um aquecimento de motores. É o padrão de uma economia desossada em seus esteios produtivos , por obra da desregulação financeira promovida pelo ciclo neoliberal, a partir de Reagan.

É esse subenredo de uma recuperação tíbia que leva a criteriosa presidente do BC de lá, Janet Yellen, a resistir às pressões dos interesses rentistas para elevar as taxas de juros do mercado.

Pressões políticas, como se vê, partem muitas vezes de onde menos esperam os defensores da independência do BC por essas bandas.

Um dos maiores gargalos do Brasil nesse momento é justamente a ausência de espaço para a discussão madura dessas interações entre política e economia, entre opções, custos, concessões, salvaguardas e requisitos à ordenação de um novo ciclo de crescimento, que só virá por força de uma repactuação democrática da sociedade.

A eleição deveria servir para isso.

Mas enquanto a dentadura da boca sertaneja é tratada como escândalo, a dentada rentista subjacente ao BC independente desfruta do privilégio de pauta ‘séria’.

Sob a pressão desse maxilar ideológico o passo seguinte do desenvolvimento brasileiro gira em círculos que sonegam futuro ao país e esclarecimento à sociedade.

Não é uma combinação promissora. E a história já evidenciou isso algumas vezes. A ver.
 
postado em: 25/08/2014
 
Política
Até onde vão as ligações de Marina
com a família Setubal?

José Carlos Peliano (*)
A morte trágica e prematura de Eduardo Campos mudou o cenário político nacional para a próxima eleição presidencial. Aparentemente sua saída abrupta da disputa trouxe sua vice à tona com chances de aumentar o percentual de votos da antiga dupla.
 
Aparentemente por que?
 
Porque há muitas coisas em jogo a partir de agora que tanto podem realmente ajudar na contagem de intenções de voto, quanto, ao contrário, podem embaralhar os lances de uma tal maneira que, ao final, suas chances de boa performance podem acabar apenas em solenes intenções.

Começando pelo início, como convém, o que sugere o apoio integral da família Setúbal, leia-se banco Itaú Unibanco, a campanha de Marina? A amizade antiga deu lastro à continuidade da relação entre a candidata e a família, em especial Maria Alice, herdeira. Agora no programa eleitoral, trazendo-a para mais para perto, exatamente na coordenação financeira da campanha.

A princípio, nada contra, não fosse por uma relação de amizade com política e, certamente, com compromissos de ambas as partes. E as intenções da candidata reveladas muitas vezes em suas aparições públicas não são nem de longe as mesmas do grupo bancário.

O maior banco privado brasileiro, o Itaú Unibanco, teve um lucro líquido de quase R$ 16 bilhões em 2013, 15,5% a mais que no anterior. Sua pujança financeira e seu poder de mercado não vão deixar barato o apoio incondicional à candidata.

Se Marina lograr o paraíso, o banco vai querer continuar no topo, abarcar mais praças e negócios, servir de constante termômetro da situação da economia e influenciar diretamente as políticas monetária, cambial e fiscal. Como um cão de guarda e de caça.

Outro amigo antigo e companheiro de ideias, Walter Feldman, de passagens pelo PC do B, PMDB, acabou seguindo viagem na fundação do PSDB e ainda por lá. Também amigo de José Serra, ele se tornou o coordenador adjunto de campanha da candidata.

Erundina, política discreta e respeitada, é nominalmente a coordenadora, mas, desde sempre, todos nós, querendo ou não, sabemos que, ao fim e ao cabo, a amizade, ou quem indica, pesa mais que o conhecimento. E aí, as cartas serão dadas por quem?

Outro nome que chegou do exterior para formar a equipe é André Lara Rezende, sim, aquele mesmo, um dos formuladores do Plano Real no governo de FHC. Amigo deste, hoje banqueiro também, dá as mãos à candidata para traçar e planejar o meio ambiente da economia brasileira no plano de governo do PSB/Rede.

Mas nem tudo o que cai na rede é peixe. Como visto até aqui, três dos principais pilares da equipe da candidata não têm cheiro de povo. O mesmo cheiro que incomodava Figueiredo, o militar feito presidente. O cheiro é outro, vem de outro grupo amigo e apoiador, a Natura.

Ela foi classificada pela Revista Exame entre as 20 maiores e melhores empresas do País em 2014, especialmente entre aquelas que pagaram mais dividendos por suas ações. Além disso, juntamente com o banco Itaú Unibanco, a empresa está entre as três consideradas de melhor reputação no exterior.

A ex-senadora, professora e ambientalista traz para montar seu programa de governo, entre outros e outras, a nata dos bancos brasileiros, uma filha de um dos maiores banqueiros brasileiro, um banqueiro ex-arquiteto do Plano Real e uma companhia das 20 mais importantes do Brasil.
 
Ambientalistas, seringueiros e seringais combinam com capitalismo?

De boas intenções, já diziam nossos avós, o inferno está cheio.
 
Não combinam os ideais e idéias da candidata, aquariana, com os propósitos e os fins de banqueiros e empresários, contadores de juros e lucros, pelo menos para o senso comum. Ou será que outros sensos estão por trás dessa empreitada?

A única coisa em comum entre a candidata e seus auxiliares mencionados é a Academia. Todos passaram por universidades. Os campus universitários os prepararam para chegar até aqui. Experimentaram aulas, livros e debates, mas só puseram as mãos na massa mais tarde, ao contrário, entre tantos, milhões, de seringueiros, trabalhadores sem terra, trabalhadores sem teto, trabalhadores rurais e urbanos, .

Numa situação antagônica como essa, ideais de sustentabilidade de um lado versus interesses objetivos de rentabilidade de outro, nem as sagradas escrituras ajudam. Nada contra o ganho econômico e financeiro, nem contra a proteção do meio ambiente. Ocorre que as duas pontas da corda não se juntam, cada um puxa para o seu lado. A realidade brasileira é rica em situações como essa.

É do ar do campus que vem as ideias do programa da candidata. Não do ex-cabeça de chapa tragicamente morto. Mas do campus onde todos os sonhos se formam e se mostram possíveis, até que levam tropeços e tapas da realidade.

É das ruas, dos grotões, dos becos, dos canaviais, dos barracos debaixo das pontes. Da luta diária entre acordar de madrugada para ir ao trabalho e chegar à noite para dormir pouco e recomeçar tudo de novo dia seguinte. É desse mundo que um programa de governo, dito sustentável, deve contemplar e tirar umas de suas principais guias de norteamento.

O apoio político que o partido hoje da candidata, o PSB, pode lhe dar é reduzido no Congresso Nacional e fora dele. Somados 4 governadores, 4 senadores e 37 deputados federais, todos eles juntos não fazem verão. Será que verão coerência no programa de governo em elaboração com banqueiros e empresários tomando conta para falar de sustentabilidade?
 
O que a história do partido deles tem a dizer sobre isto?

A aproximação da candidata com o PSDB traz de volta para a cena política nacional os criadores do Plano Real. Um plano feito para ganhar tempo e enrolar meio mundo, fazendo definhar muitos investimentos e riquezas com uma das maiores desvalorizações já feitas da moeda nacional. Para não dizer das privatizações, mal vistas e pouco investigadas até hoje.

A proposta de governo da candidata será para dar sustentabilidade a isto? Se for, os ambientalistas podem se rebelar e dar sustentabilidade a outro programa, a outra proposta.

(*) Economista