21 DE AGOSTO DE 2014
COMO PODE JUSTO WILLIAM
BONNER CHAMAR ALGUÉM DE “ROBÔ”?
Se faltava prova da diferença com que o Jornal Nacional tratou os candidatos à Presidência da República ao longo das duas últimas semanas, mensagem que o "âncora" William Bonner postou no Twitter (vide imagem abaixo) em resposta à enxurrada de críticas que recebeu na internet por desrespeitar Dilma Rousseff (como pessoa), dirime a questão.
Das quatro entrevistas
que o telejornal apresentou, só a de Dilma Rousseff levou Bonner a se
manifestar publicamente, apesar de, em sua mensagem no Twitter, ter tentado
vender a tese de que as militâncias de todos os candidatos não gostaram do seu
trabalho.
Muitos se divertiram, em blogs e redes sociais, com a alusão de
Bonner a "blogueiros sujos", expressão criada por José Serra na
campanha eleitoral de 2010 para se referir aos blogueiros que se opuseram à sua
candidatura presidencial e apoiaram a de Dilma Rousseff.
Porém, o mais
"espetacular" da assunção pelo âncora do JN de seu papel político é
ter chamado de "robôs" aqueles que o criticaram.
O termo "Robot" apareceu na literatura de ficção
científica nos primórdios do século XX. Em 1920, o dramaturgo tcheco Kapel
Kapec escreveu a peça "R.U.R – Rossum Universal Robot".
A palavra
robô, portanto, derivou da palavra tcheca "Robota", sinônimo de
trabalho escravo.
Na peça, o cientista Rossum cria humanos mecanizados, os
Robot, que exerciam funções repetitivas sob controle de seu criador.
Dezenas
de milhares de pessoas manifestaram na internet que sentiram-se desrespeitadas
pelo comportamento dos "âncoras" do JN, que chegaram a pôr o dedo no
rosto da presidente da República, que a interromperam 21 vezes contra 6 vezes
com Aécio Neves e 7 com Eduardo Campos, que gastaram mais tempo interrompendo-a
do que ela lhes respondendo.
Bonner dizer que todas
as pessoas que o criticaram são "robôs" ou "corruptos" ou
"blogueiros sujos" é um desrespeito com o público, verdadeiro dono da
concessão que a Globo recebeu da ditadura militar, mas que, ao fim e ao cabo,
pertence à sociedade.
Claro que alguns dos que sentiram-se desrespeitados pela
agressão à presidente são militantes de partidos políticos, mas mesmo os
militantes de partidos têm mais liberdade de expressão do que um âncora de
telejornal.
Sobretudo se for de um telejornal da Globo, pois nessa emissora a
liberdade do jornalista simplesmente não existe. Sobretudo se for em questões
políticas.
Sim, Bonner é o editor do Jornal Nacional, mas sua liberdade de
expressão termina onde começa o ponto de vista dos três filhos de Roberto
Marinho.
Como editor do JN, ele tem toda liberdade de pautar o programa
noticioso desde que não saia um milímetro das diretrizes que os funcionários
graduados da Globo nem precisam receber, já que se destacaram na empresa pela
capacidade de intuir o que o patrão quer.
Como se sabe, TelePromPter é uma engenhoca acoplada às câmeras
de tevê que exibe o texto que o apresentador de telejornais deve ler.
Âncoras
dos telejornais da Globo – entre outros – são meros leitores do que aparece na
telinha diante de si.
Apesar de ser Booner quem escolhe o que vai ao ar no
Jornal Nacional, ele escolhe o que o patrão quer que escolha. Ponto.
Os "blogueiros
sujos" ou "robôs" aos quais se referiu o "robota" do
JN, portanto, são livres para dizer o que pensam enquanto ele, Bonner, não é.
Militantes partidários têm muito mais liberdade, pois todos os que conhecem de
perto a política sabem que são sinônimo de rebeldia contra decisões de cúpula.
Sobretudo no caso do PT.
Bonner considera o público formado por "Homers
Simpsons", ou seja, por idiotas manipuláveis.
Desse modo, crê que o Brasil
não notou a diferença de tratamento aos candidatos a presidente.
Subestimou o
público em 2002, em 2006 e em 2010.
De lá para cá, não aprendeu nada sobre
aqueles aos quais se dirige toda noite.
Azar dele. E do patrão.