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30 DE OUTUBRO DE 2014
ADVOGADO DE YOUSSEF
CONFIRMA ARMAÇÃO
DE VEJA
247 - A situação da revista Veja e da Editora
Abril, que atingiu o fundo do poço da credibilidade no último fim de semana,
com a capa criminosa contra a presidente Dilma Rousseff, acusada sem provas
pela publicação, pode se tornar ainda mais grave.
Reportagem do jornal Valor Econômico,
publicada nesta quinta-feira, revela algo escandaloso: o "depoimento"
do doleiro Alberto Youssef que ancora a chamada "Eles sabiam de
tudo", sobre Lula e Dilma, simplesmente não existiu.
Foi uma invenção de Veja, que atentou
contra a democracia, tirou cerca de 3 milhões de votos da presidente Dilma
Rousseff e, por pouco, não mudou o resultado da disputa presidencial, ferindo a
soberania popular do eleitor brasileiro.
Quem afirma que o depoimento não
existiu é ninguém menos que o advogado Antônio Figureido Basto, que representa
o doleiro. "Nesse dia não houve depoimento no âmbito da delação. Isso
é mentira. Desafio qualquer um a provar que houve oitiva da delação premiada na
quarta-feira", disse ele.
Basto também nega uma versão pró-Veja
que começou a circular após as eleições – a de que Youssef teria feito um
depoimento e depois retificado. "Não houve retificação alguma. Ou a fonte
da matéria mentiu ou isso é má-fé mesmo", acusa o defensor de Youssef.
Com isso, a situação de Veja torna-se
delicadíssima. No fim de semana, a publicação passou por uma das maiores
humilhações de sua história, ao ser obrigada a publicar um direito de resposta
contra um candidato – no caso, a presidente Dilma Rousseff – em pleno dia de votação.
Agora, a revista pode ser condenada a
circular neste próximo fim de semana com uma capa e páginas internas, também
com direito de resposta. A decisão está nas mãos do ministro Teori Zavascki,
que pode decidir monocraticamente – ou levar a questão ao plenário do Supremo
Tribunal Federal. Mas mesmo no plenário Veja tende a perder.
Afinal,
como os ministros justificariam o direito de informar uma mentira, com claras
finalidades eleitorais e antidemocráticas?
Veja cometeu um atentado contra a
democracia brasileira, que envergonha o jornalismo, e este crime é apontado
pelo próprio advogado do doleiro Youssef. Os responsáveis diretos são:
Giancarlo Civita, controlador da Abril, Fábio Barbosa, presidente da empresa, e
Eurípedes Alcântara, diretor de Redação de Veja.
Abaixo, reportagem do Valor Econômico
sobre o caso:
Advogado de Youssef
nega participação
em 'divulgação
distorcida'
Por André Guilherme Vieira | De São Paulo
O advogado que representa Alberto
Youssef, Antonio Figueiredo Basto, negou envolvimento na divulgação de
informações que teriam sido prestadas pelo doleiro no âmbito da delação
premiada, sobre o conhecimento de suposto esquema de corrupção na Petrobras pela
presidente reeleita Dilma Rousseff (PT) e pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva.
"Asseguro que eu e minha equipe
não tivemos nenhuma participação nessa divulgação distorcida", afirmou
ao Valor
Pro. A informação de que Dilma e Lula sabiam da corrupção
na Petrobras foi divulgada na sexta-feira passada pela revista
"Veja".
No mesmo dia, o superintendente da
Polícia Federal (PF) no Paraná, delegado Rosalvo Ferreira Franco, determinou
abertura de inquérito para apurar "o acesso de terceiros" ao conteúdo
do depoimento prestado por Youssef a delegados da PF e a procuradores da
República.
"Acho mesmo que isso tem que ser
investigado.
Queremos uma apuração rigorosa",
garante Basto, que já integrou o conselho da Companhia de Saneamento do Paraná
(Sanepar). "Eu não tenho nenhuma relação com o PSDB. Me desliguei em 2002
do conselho da Sanepar [controlada pelo governo do Estado]. Não tenho vínculo
partidário e nem pretendo ter. Nem com PSDB, nem com PT, nem com partido
algum", afirma. O Paraná é governado por Beto Richa desde janeiro de 2011.
Ele foi reconduzido ao cargo no primeiro turno da eleição deste ano.
A reportagem menciona que a declaração
de Youssef teria ocorrido no dia 22 de outubro.
"Nesse dia não houve depoimento no
âmbito da delação. Isso é mentira. Desafio qualquer um a provar que houve
oitiva da delação premiada na quarta-feira", afirma, irritado, Basto.
O advogado diz ser falsa a informação
de que o depoimento teria ocorrido na quarta-feira para que fosse feito um
"aditamento" ou retificação sobre o que o doleiro afirmara no dia
anterior: "Não houve retificação alguma. Ou a fonte da matéria mentiu ou
isso é má-fé mesmo", acusa o defensor de Youssef.
Iniciadas no final de setembro, as
declarações de Youssef que compõem seu termo de delação premiada são
acompanhadas pelo advogado Tracy Joseph Reinaldet dos Santos, que atua
conjuntamente com Basto.
O
Valor PRO apurou que o alvo principal da
operação Lava-Jato disse em conversas informais com advogados e investigadores,
que pessoalmente considerava "muito difícil" que o presidente da
República não tivesse conhecimento de um esquema que desviaria bilhões de reais
da Petrobras para abastecer caixa dois de partidos e favorecer empreiteiras.
"Todo mundo lá em cima
sabia", teria dito o doleiro, sem, no entanto, citar nomes ou apresentar
provas.
O esquema de corrupção na diretoria de
Abastecimento da Petrobras teria começado em 2005, segundo a investigação e o
interrogatório à Justiça Federal do ex-diretor de Abastecimento da petrolífera,
Paulo Roberto Costa. Era o segundo ano do primeiro mandato do então presidente
Lula. Dilma foi nomeada ministra de Minas e Energia em 2003.
Segundo a versão de Costa à Justiça,
Lula teria cedido à pressão partidária para nomeá-lo diretor da Petrobras, sob
risco de ter a governabilidade ameaçada pelo trancamento da pauta do Congresso.
"Mesmo que essa declaração do Paulo Roberto [Costa] seja fato e que a
comprovemos nos autos, qual é o crime que existe nisso?", questiona um dos
investigadores da Lava-Jato.
"Uma coisa é a atividade política.
Outra é eventual crime dela decorrente.
Toda a delação de Costa e outras que
venham a ocorrer serão submetidas ao crivo do inquérito policial e da devida
investigação", esclarece.
A PF também instaurou inquérito para
apurar supostos vazamentos da delação premiada de Costa.
Investigações sobre vazamentos podem
resultar em processo penal. No dia 21 deste mês, o deputado federal Protógenes
Queiroz (PC do B-SP) foi condenado pela 2ª Turma do Supremo Tribunal Federal
(STF) por violação de sigilo funcional qualificada. Queiroz, que é delegado da
PF, foi responsabilizado por "vazar" informações da operação
Satiagraha, deflagrada em São Paulo em 2008.