segunda-feira, 3 de novembro de 2014

CARTA MAIOR NOS TRAZ QUATRO MATÉRIAS JORNALISTICAS DE PONDERÁVEIS CONSIDERAÇÕES: 1º. A QUESTÃO DOS BANCOS FINANCEIROS PRIVADOS, DE CAPITAL ESPECULATIVO; 2º. A CORRELAÇÃO DE FORÇAS, CONGRESSO X DILMA; 3º. O CRIMINOSO ESTELIONATO DA REVISTA VEJA; 4º. AS COLIGAÇÕES PARTIDÁRIAS QUE INTERFEREM NO RESULTADOS FINAL DAS ELEIÇÕES...


FCO.LAMBERTO FONTES
Trabalha em JORNALISMO INTERATIVO
 em ARAXÁ / MG.
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postado em: 27/10/2014
Economia

Juan Torres López:
Esses monstros
chamados bancos



Os bancos privados desfrutam de uma mordomia extraordinária: cada vez que concedem um crédito criam dinheiro. Não moedas ou notas, que é o que a gente normal e corrente acha que é o dinheiro, mas sim dinheiro bancário, isto é, meios de pagamento através das suas contas.

Quando recebem os depósitos dos seus clientes, os bancos não os mantêm totalmente em reserva para fazer frente aos saques que estes solicitem; conservam em caixa apenas uma parte mínima, e dispõem do resto para realizar empréstimos (por isso se diz que é um sistema bancário de reserva fracionária.

Como dizia o Prêmio Nobel da Economia Maurice Allais, isso significa que os bancos criam dinheiro ex nihilo, do nada.

O fenómeno é fácil de entender: Pôncio dispõe dos únicos 100 euros que há na economia e deposita-os num banco. Com o seu cartão de débito ou com os seus cheques pode realizar pagamentos no valor de 100 euros. Se o banco concede um crédito de 20 euros a Pilatos mediante uma simples anotação contábil, este poderá gastar esses 20 euros. Assim, desde esse mesmo instante, já há 120 euros em meios de pagamento. O banco criou 20 euros de dinheiro bancário.

Como isto se faz sucessivamente e sem descanso, resulta que os bancos “multiplicam” sem cessar os meios de pagamento, na mesma medida em que vão criando mais dívida. Como dizia o Prémio Nobel da Economia Maurice Allais, isso significa que os bancos criam dinheiro ex nihilo, do nada.

Na Europa, a proporção dos depósitos que hoje os bancos são obrigados a manter em reserva é de 1% no caso de se tratar de depósitos a menos de dois anos ou que se possam retirar sem pré-aviso, e de 0% nos demais. Isso implica que, se supomos que os clientes não retêm dinheiro nas suas mãos (o que hoje em dia sucede quase sempre graças aos cartões), um banco pode criar do nada 100 euros cada vez que um cliente deposita nele 1 euro, a menos de dois anos, e tanto quanto quiserem, nos restantes casos.

Este é o negócio que dá lucros à banca: criar dinheiro do nada, gerando dívida sem cessar.

Logicamente, os bancos não deixaram nunca de aproveitar essa oportunidade e dedicaram-se a impor as condições que obriguem as empresas, as famílias ou os governos a endividarem-se continuamente. Por exemplo, fomentando a moradia em propriedade em vez de em aluguer, cortando salários, permitindo que se deem créditos hipotecários acima do valor da casa, subindo artificialmente o preço da moradia, desagravando fiscalmente os juros de maneira a ser mais rentável endividar-se do que autofinanciar-se, etc.

Essa é a causa, e não outra, para o crescimento constante da dívida. É também por isso que os bancos têm crises as duas por três, já que criar dívida dessa forma faz com que o valor dos seus créditos se afaste constantemente do que têm os seus depósitos e o seu capital em geral.

Em junho passado publicaram-se os últimos dados anuais que permitem comprovar a relação entre o capital e os ativos dos 50 bancos maiores do mundo. Ainda que não seja exatamente entre depósitos e créditos, a relação reflete perfeitamente como tem crescido o negócio bancário e a razão de sua permanente instabilidade.

Há casos verdadeiramente impressionantes, como o do Wells Fargo Bank dos Estados Unidos, que tem ativos num valor 2.646,6 vezes maior que o do seu capital.

Esses 50 megabancos têm ao todo um capital de 772.357 milhões de dólares, enquanto os seus ativos têm um valor 87,6 vezes maior (67,64 bilhões de dólares).

Mas há casos verdadeiramente impressionantes. O recorde é o do Wells Fargo Bank dos Estados Unidos, que tem ativos num valor 2.646,6 vezes maior que o do seu capital. Seguem-se o Lesiguen Citibank, com uma relação de 1.793,3 a um e o ING, que tem 1.550,3 dólares em ativos para cada dólar de capital. No ranking encontram-se o Banco de Santander, no 15º lugar e com uma relação de 196,9 dólares em ativos pela cada dólar de capital, e o BBVA, no 35º lugar e com uma relação bem mais baixa, de 20,5 para um (a lista completa pode ser vista no Bankers Almanac).

O sistema de reserva fracionária dá origem a estes monstros financeiros que se apoiam no nada, sendo materialmente impossível manterem-se em pé sem caírem nalgum momento.
A história demonstrou-o dúzias de vezes.

Mas ainda que o sistema seja perigosíssimo, a banca adquiriu graças a ele um poder político imenso, diabólico, que se estende a todos os resquícios da sociedade e lhe permite obrigar a que sejam os cidadãos a suportar os custos multimilionários que gera cada vez que cai.

Vivemos, pois, num sistema que permite que a utilização de um elemento essencial para criar riqueza, emprego e satisfação humana como o dinheiro, que está para a economia como o sangue para o corpo humano, dependa exclusivamente da vontade de um grupo social privilegiado. E que, além disso, o utiliza da forma mais esbanjadora e cara, criando uma dívida crescente que afoga a vida econômica.

Olhe-se por onde se olhar, não há outra alternativa senão acabar com o sistema de reserva fracionária e considerar o crédito como um serviço público essencial, obrigando a banca, seja de propriedade privada ou pública, a governá-lo estritamente à luz desse princípio.

Isso não só permitiria evitar o inferno criado por cada crise que o sistema bancário atual recorrentemente provoca, como também utilizar o dinheiro, que é um bem comum, para financiar convenientemente empresas e consumidores, e que os juros (que poderiam ser mínimos ou utilizados só como instrumento de estabilização) revertessem para o Estado, aliviando uma parte imensa da atual carga fiscal.


postado em: 29/10/2014

O ministério da
correlação de forças
Saul Leblon

A presidenta Dilma fará de seu novo ministério uma trincheira de competência técnica, mas também um instrumento de ação política para abortar cercos e superar flancos revelados antes e depois das urnas.

O PT, partidos aliados e movimentos sociais naturalmente serão contemplados: foi deles a responsabilidade pela candidatura vitoriosa em outubro.

Mas o setor empresarial também será incorporado.

A concessão de um governante vitorioso é uma lâmina de dois gumes.

Um deles fatia um pedaço do seu mandato para o mercado; o outro fatia um pedaço do mercado que os inconsoláveis pelotões do revanchismo querem perfilar na ordem unida do terceiro turno contra Dilma.

Quem serão os anfíbios nessa composição?

Aqueles com os quais é possível dialogar porque tem um grau de compreensão mais amplo do significado de um processo de desenvolvimento.

Ou seja, enxergam em um mercado interno pujante, com empregos, salários e direitos sociais a contrapartida indissociável de vendas, lucros e investimentos.

Um exemplo aleatório?

Luiza Trajano –dona da rede Magazine Luiza, a maior do Brasil.

Em janeiro deste ano a empresária soterrou em estatísticas  um gabola representante da secessão conservadora em debate na Globo News. ‘Poupe-me Luiza’, grunhiu o rapaz, Diogo Mainardi, já nas cordas, quase exangue, depois que a empresária ainda pediu seu email  para entupi-lo  com mais informações opostas à ignorância  exclamativa do interlocutor sobre a situação econômica do país.

Quando outros integrantes da mesa balbuciaram o risco de ‘bolhas’ em socorro ao nocauteado, a convidada ainda retrucou: “Como é possível falar em bolha? Nós precisaremos construir 23 milhões de moradias nos próximos anos do Minha Casa Minha Vida para que a população atinja um nível habitacional próximo ao dos países desenvolvidos. Como se pode falar em bolha? São 23 milhões de casas para 23 milhões de pessoas. (Gente) que mora hoje com o sogro, a sogra ou pagando 400 reais de aluguel por um cômodo. (Em habitação) não se pode esquecer que nós tivemos três décadas  perdidas (como bolha?)’

Não foi necessário contar até dez: o telespectador atestou o nocaute técnico com fraturas espalhadas por toda a credibilidade da bancada do Brasil aos cacos.

Exemplos como os de Luiza Trajano ou o do aventado  Luiz Trabuco Cappi –presidente de banco que pensa como a empresária, não por benemerência, mas de olho no avanço do crédito no país, podem ser acomodados em um governo de composição acossado pelo terceiro turno golpista, associado aos rentistas que preferem lucrar sem produzir.

Acercar-se de anteparos não antagônicos à construção de um desenvolvimento convergente é o que qualquer governante progressista sempre fez e fará, após renhida batalha eleitoral.

A pretensão conservadora de isolar Dilma em uma Guantánamo institucional, e impedi-la de governar, não é uma miragem.

As operações de assalto estão explícitas nas manchetes ressentidas das horas que correm, nos perdigotos expelidos de colunas sulfurosas e na rejeição da Câmara ao projeto que institui conselhos populares --organismos consultivos para o aperfeiçoamento dos programas sociais do governo.

São sinais do tipo: às favas as urnas!

Reverter a escalada dos liberais que não se libertam jamais da UDN embutida nas veias, não se resolve com um ministério puro sangue.

É mais difícil que isso.

E é dessa dificuldade que deveriam cuidar prioritariamente o PT e os movimentos sociais.

Em vez de serem desmobilizados os recursos, as lideranças, as caravanas e as estruturas de coordenação destinadas à vitória nas urnas –como sempre se fez--   chegou a hora de fincar um divisor de águas.

Voltar às bases; organizar a sociedade; reatar o diálogo no campo da esquerda.

Para fazer diferente do que a frente única do conservadorismo apregoa para o Brasil nesse momento não basta lutar por nomes no ministério do novo governo.

Quanto vale um general sem exércitos?

 O ministério mais importante hoje é aquele capaz de coordenar as linhas de passagem para um novo ciclo econômico repactuando metas, concessões, prazos, avanços e salvaguardas com o conjunto das forças sociais.

Esse ministério não fica em Brasília. Seu endereço: metabolismo do movimento social brasileiro, sem número, sem sede, sem articulação intersetorial, sem mídia abrangente, sem canais com a opinião pública, sem...

Se o campo progressista não  dispõe de força sequer para aprovar conselhos populares de natureza consultiva, que chance existe de vingar uma regulação da mídia, prevista aliás desde a Constituição de 1988 e nunca posta em prática? (
Leia a análise de Venício Lima; nesta pág).

Mais que isso.

Quem adiciona coerência à macroeconomia do desenvolvimento é correlação de forças da sociedade em cada época.

O colapso neoliberal trouxe para o colo do governo uma crise da qual a Nação é vítima e não sócia; as forças progressistas são adversárias, não coautoras.

O nome da crise não é PT, não é Petrobrás, não é intervencionismo.

O nome da crise é a desenfreada ferocidade com que capitais especulativos impuseram um padrão global de taxa de retorno irreproduzível na economia sem níveis asiáticos de exploração da mão de obra.

O nome da crise é a ausência de instituições internacionais com poder de coordenação sobre essas matilhas   –e de contrapartidas locais de contenção na forma de controles efetivos sobre os fluxos de capitais.

É tudo isso que subtrai o chão firme de governos progressistas nas diferentes  latitudes econômicas.

No Brasil com uma agravante, como mostram os acontecimentos nas horas que urgem.

O cerco conservador derrotado nas urnas sentiu o cheiro das feridas abertas no adversário. E decidiu emendar um terceiro turno de golpismo paraguaio, corroendo a vontade das urnas por dentro das instituições.

Nas páginas de economia martela-se a contrapartida macroeconômica do putsch  branco: o dirigismo (leia-se o pré-sal) e a gastança fiscal (leia-se o salário mínimo e os programas sociais) são incompatíveis com a necessária redução do juro para a retomada do investimento.

Em miúdos: para voltar a crescer o país precisa de algo que o governo reeleito é incapaz de propiciar, a menos que se renda incondicionalmente ao programa derrotado.

 Um xeque-mate?

Não, pelo pequeno detalhe de que as urnas não sufragaram o que seria a pá de cal no projeto de construção de uma democracia social no Brasil.

 Ao contrário, dobraram a aposta no caminho.

Não iludidas, não anestesiadas pela propaganda petista, como se dizia antes.

Mas amadurecidas após 12 anos e três sufrágios presidenciais na mesma direção, a ponto de 54,5 milhões resistirem à avalanche de criminalização e demonização do partido portador desse projeto.

É isso que impede o destape final do aluvião de arrocho armazenado no dique do conservadorismo.

Não é café pequeno, portanto, o confronto em marcha batida no país.

Tampouco é negligenciável o fato de que a negociação do quarto ciclo de governo progressista se dá sob a determinação de uma realidade mundial  pior  que a vigente em 2002, 2006 e mesmo em 2010.

A tese de que o Brasil é uma ilha de crise petista cercada de prosperidade neoliberal por todos os lados --da qual inadvertidamente o ‘intervencionismo apartou o país’, faz parte da fabulação criada para   engessar o novo governo.

O desempenho das exportações, por exemplo, tem sido decepcionante urbi et orbi. Da Alemanha de Merkel, aos EUA de Obama. E a Organização Mundial do Comércio (OMC) prevê que o oxigênio externo ficará ainda mais rarefeito.

A expansão prevista para o comércio mundial em 2015 recuou de 5,3% para 4%, sujeita a novos recortes; bancos brasileiros já trabalham com 3%, para menos.

A ideia genial dos armínios globais de arrochar o consumo interno e deslocar a oferta de cada economia para a demanda do vizinho colidiu com as leis da física.

Na medida em que todos pularam de cabeça no cocho alheio, a busca da  ração transformou-se em anemia coletiva.

Nesse ambiente entupido de produção sem demanda, com elevada capacidade ociosa na indústria, o mercado popular criado no Brasil nos últimos 10 anos (53 milhões de pessoas, que formam a 16ª economia do mundo, com credenciais para o G 20) representa um trunfo inestimável.  Mas a moeda valorizada há duas décadas fragiliza essa conquista, transformando-a em um aspirador de importações, com os efeitos depressivos na produção, no emprego e no investimento industrial.

Reverter esse flanco é crucial.

 Não tanto para redimir as exportações, pelas razões expostas acima. Mas para preservar principal usina de produtividade da economia, sem a qual não haverá excedente econômico a negociar em uma sociedade que reclama novos saltos de qualidade de vida, renda e direitos.

A defesa da industrialização, portanto, é indissociável do projeto vitorioso nas urnas de outubro, que pressupõe a repactuação de uma matriz de crescimento ordenada pela justiça social.

Não será um processo isento de algum sacrifício programado, alerte-se. Negociado democraticamente, porém, disporá de salvaguardas associadas a um calendário de ganhos progressivos.

A composição do novo ministério da Presidenta Dilma é um pedaço dessa negociação.

Mas é só uma das múltiplas rodadas que vão se estender pelos próximos quatro anos, com uma peculiaridade: e Karl Marx redivivo sucedesse ao keynesiano Guido Mantega pouco espaço teria para colocar em prática suas convicções, diante da correlação de forças interna e internacional.

Modificá-las implica organizar a sociedade para que o resultado da urna se traduza em um poder efetivo de pressão nos embates à vista.

 O estiolamento dessa referência organizada nos últimos anos talvez explique um pedaço significativo dos 48 milhões de votos obtidos pelo conservadorismo na disputa presidencial.

O ciclo progressista iniciado em 2003 libertou 60 milhões de brasileiros da calcificação  social . 

Supunha-se que isso teria mudado a geografia política do país de forma irreversível nos marcos da legalidade. A quase derrota eleitoral em diferentes momentos da disputa presidencial de 2014 mostrou que essa mutação ademais de inconclusa no campo social é volátil na sua  inexistente organização política.

O que mais o PT tem a dizer a esse universo que ascendeu ao consumo e, sobretudo, como pretende que ele assuma o comando efetivo de seu destino rumo a uma cidadania plena?

Esse é o ministério que o campo progressista precisa ocupar com infatigável determinação no mais breve espaço de tempo: o ministério da mudança na correlação de forças e da hegemonia histórica na sociedade brasileira.
As urnas lhe deram quatro anos para isso.


Se falhar de novo, dificilmente haverá uma chance tão cedo outra vez.


postado em: 01/11/2014
Política

Sobre o estelionato
eleitoral da revista Veja
Antonio Lassance

O PSDB se prestou ao papel ridículo de colocar em dúvida a urna eletrônica e a lisura do processo eleitoral brasileiro.

A razão? Boatos. De onde? Das redes sociais.

Com a coerência que lhe é peculiar, o Partido tomou essa iniciativa só depois de ser informado de sua derrota. Para o PDSB, lisura é quando eles ganham as eleições.

A petição feita pelo PSDB merece moldura. É a confissão de um partido que se reivindica a reencarnação da UDN, com o mesmo golpismo e o mesmo gosto por questionar resultados das urnas com ameaças jurídicas que, em qualquer tribunal, deveriam ser consideradas litigância de má fé.

Se é assim que o PSDB prefere, que sobre ele recaia a maldição que acompanhou a UDN do início ao fim: a maldição de sempre perder eleições presidenciais.

Mas todos esperamos que o Judiciário realmente tome providências sobre algumas questões que abalaram o processo eleitoral brasileiro da maneira mais abjeta.

A primeira delas foram os ataques de ódio perpetrado contra pobres, nordestinos e nortistas. Muitos deles são crimes explícitos e inafiançáveis.

O PSDB, mais uma vez fingindo que não sabe o que acontece neste país - enquanto acusa a maioria dos brasileiros de ser desinformada -, protocolou ação para que fosse investigada a origem de quem postava tais comentários.

Esperamos que a Justiça informe ao PSDB o óbvio: de que foram alguns de seus mais fiéis eleitores que fizeram isso, devidamente paramentados de adesivos e avatares de seu candidato, Aécio Neves.

Um vereador do PSDB da capital paulista, Paulo Telhada, esbravejou contra o resultado da eleição e propôs a separação do Sul e de parte do Sudeste.

Parece que Minas e Rio não seriam mais aceitos nesse cordão sanitário tucano. Aécio, que mora no Rio e pousa de vez em quando em Minas, doravante precisaria de passaporte  e visto de turista - nada mais justo.

O PSDB, que é tão atento às redes sociais, ainda não se manifestou sobre a mensagem que se tornou viral, de uma de suas eleitoras: ao anunciar estar trocando o Brasil pela Disney, acusou a maioria dos brasileiros de ser formada por "miseráveis, imbecis e burros".

A quem, nas redes sociais, o PSDB anda dando ouvidos?

Realmente, é preciso reconhecer, houve uma grande fraude eleitoral nesta eleição e que alterou significativamente o resultado: foi a insidiosa matéria da revista da Marginal Pinheiros, que produziu uma capa notoriamente mentirosa para ser usada por seu candidato e distribuída como panfleto no meio da rua.

Algo que serviu para ser usado por Aécio em seu último debate e também em seu último programa eleitoral de rádio e tevê.

A fraude foi também replicada em manchetes de jornais, telejornais e programas de rádio - como se fosse notícia, como se fosse jornalismo, como se fosse sério.

Serviu, como foi amplamente documentado, para o PSDB imprimir e distribuir no meio da rua por seus cabos eleitorais, em sua campanha de boca de urna.

O panfleto com a capa de Veja foi o mar de lama que correu a céu aberto no sábado e no domingo.

O PSDB e sua coligação deveriam ser investigados pelo descumprimento da decisão do TSE que impediu a divulgação da revista, considerada, com razão, propaganda paga do candidato.

Os recursos utilizados para esse fim deveriam ser devolvidos ao fundo partidário, com juros e correção.

Se alguma dúvida existe sobre esta eleição é a de quantos votos Aécio realmente recebeu de forma limpa, sem a manipulação gerada por uma fraude que entra para a História como uma das piores já montadas para se tentar eleger um presidente.

postado em: 01/11/2014 
Política

Sem coligações,
PT elegeria 102 deputados
Najla Passos

Brasília - As coligações realizadas nas eleições proporcionais alteram a forma de se converter votos em cadeiras no parlamento, de forma a distorcer a vontade do eleitor manifestada nas urnas. Pesquisa realizada pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), mostra que, sem elas, os grandes partidos – como PT, PMDB e PSDB - contariam com um número bem maior de deputados eleitos.

O PT, que ficou com a maior bancada ao eleger 70 deputados, teria 102, caso a sigla não tivesse se coligado com outros oito partidos (PMDB, PSD, PP, PR, PROS, PDT, PCdoB e PRB), dos quais a maioria em nada compartilha com seus princípios ideológicos, doutrinas e visões de mundo.

O PMDB também sairia no lucro: estaria com 102, ao invés de 66. Já o PP teria 32, ao invés dos 36 atuais. O PSD ficaria com 29, ao invés de 37. O PR com 24, em vez de 34. O PCdoB ficaria com 5, ao invés de 10. O PRB com 14, no lugar dos atuais 21. E o PROS com 6, ao invés de 11.

Na oposição, o mais favorecido seria o PSDB, que teria 68, ao contrário dos atuais 54. O PSB também aumentaria sua bancada: 41 ao invés de 34. O DEM, ao contrário, ficaria com apenas 13, ao invés de 22. O PPS com 5, ao invés de 10. O PSOL, da oposição de esquerda, teria 6 ao invés de 5.

Para o jornalista, analista político e diretor de Documentação do Diap, Antônio Augusto Queiroz, as coligações nas eleições proporcionais, feitas sem qualquer critério, têm sido apontadas como o principal problema do sistema eleitoral brasileiro na medida em que distorcem a vontade do eleitor.

“De fato, no Brasil, juntam-se partidos com visão de mundo, ideias, programas, ideologias e doutrinas completamente opostas na disputa das eleições proporcionais com o único propósito de atingir o quociente eleitoral e garantir a eleição dos mais votados da coligação”, afirma ele no artigo Como ficariam as bancadas da Câmara sem coligação.

Deformações extremas

O analista político afirma que as deformações causadas pelas coligações são tão graves que, caso não tivesse havido coligação nesta eleição e os partidos tivessem tido o mesmo desempenho eleitoral, apenas o PT teria atingido o quociente eleitoral no Acre. O partido, portanto, elegeria os oito deputados a que o estado tem direito. Com a coligação, porém, ficou com apenas três e ainda ajudou o sistema a eleger os outros cinco. Entre eles, o policial linha dura do PSDB, Major Rocha.

O caso mais grave, porém, foi o registrado no Distrito Federal. Segundo Queiroz, sem coligações, somente o PT teria atingido o quociente eleitoral e, portanto, preenchido as oito vagas. Porém, como houve, o partido elegeu apenas um representante, a deputada Érika Kokay. Os demais votos destinados pelos eleitores ao PT ajudaram a eleger outro integrante da coligação, o pastor Ronaldo Fonseca (Pros), cujo pensamento e ação, segundo o diretor do Diap, em absolutamente nada convergem com os princípios do partido.

Urgência da reforma política 

A adoção tática das coligações se torna ainda mais questionável quando os partidos que se apresentam ao lado do governo no processo eleitoral decidem desafiá-lo já na primeira votação após o pleito, como ocorreu na Câmara, na última terça (28/10), quando oposição e base rebelada se uniram para sustar a Política Nacional de Participação Social, implantada via decreto presidencial, assinado pela presidenta Dilma Rousseff em maio passado.

Dos oito partidos coligados com o PT, apenas o PCdoB, integralmente, e o Pros, parcialmente, votaram com o governo pela manutenção da política. Da oposição, apenas o PSOL, o mais à esquerda do parlamento, apoiou o governo.

De acordo com Queirós, a suspensão do decreto não alterada em nada a forma como o executivo lida com os 40 conselhos já existentes hoje no âmbito federal. “A intenção dos partidos da base aliada que votaram com a oposição a Política é mostrar a fragilidade do governo”, disse à Carta Maior.

O mesmo acontece com a principal bandeira defendida pela candidata reeleita este ano: a da realização do plebiscito para que o povo, e não o Congresso, decida qual sistema eleitoral o país deve adotar. Por sinal, a mesma que ela encaminhou para a aprovação do parlamento após os protestos de junho de 2013, sem sucesso.

Dentre a base aliada do governo, pelo menos o principal partido coligado, o PMDB, já afirmou publicamente que não apoiará a medida. A contraproposta da sigla é que o Congresso aprove a reforma política e, com as regras estabelecidas, o povo se manifeste, via referendo, apenas para dizer se concorda ou não com o resultado final.

O problema é que o Congresso já discute uma reforma política há mais de anos, sem resultados concretos. Beneficiados por regras atuais como as que permitem as próprias coligações e o financiamento privado das campanhas, a maioria dos partidos prefere deixar tudo como está. E a mudança nunca ocorre.

Cláusula de barreira

A pesquisa realizada pelo Diap mostra também que o número de partidos com representação na Câmara cairia de 28 para 22 siglas, caso fosse adotada a cláusula de barreira de 5% de votos nacionais e 2% em pelo menos noves estados, conforme proposto por entidades da sociedade civil e movimentos sociais.

Tal como o fim das coligações, a medida prejudicaria os partidos nanicos, que teriam que se fundir com os maiores para disputar cadeiras no parlamento, mas auxiliaria o projeto eleito majoritariamente para o executivo a governar o país. “Um número menor de partidos facilita a governabilidade, porque o governo teria que negociar com menos siglas as matérias de interesse do país”, acrescenta Queiroz.