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20 DE NOVEMBRO DE 2014
SEM POVO,
GOLPISMO SE ISOLA
ENTRE MEIA DÚZIA
Rascunhos pela exceção produzidos, na mídia, pela trinca Merval Pereira,
Ferreira Gullar e Arnaldo Jabor despertam repulsa; chamados à
radicalização feitos pelo senador Aloysio Nunes e ex-governador
Alberto Goldman os equiparam ao deputado Jair Bolsonaro; povo não corresponde a
impulsos golpistas; falta de ressonância política à pregação da quebra da ordem
mostra que arautos do caos estão isolados
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– O golpismo assoprado
entre alguns colunistas da mídia tradicional, que por sua vez contaram com o
incentivo prévio de políticos dispostos a radicalização, caiu no vazio.
Faltou eco nas ruas e
não há ressonância no Congresso para as teses rascunhadas por colunistas
como Merval Pereira, de O Globo, e moralistas como o poeta Ferreira Gullar e o
global Arnaldo Jabor.
Não houve repercussão
positiva à tentativa, feita por Merval, em texto na terça-feira 18, em O Globo,
de elevar à condição de tema político sério a tese de impeachment da presidente
Dilma Rousseff e do vice Michel Temer. "Isso não é golpismo", escreveu,
candidamente, o imortal que dera o roteiro para a derrubada da presidente
eleita num tapetão institucional.
Antes de Merval, com um pouco mais de parcimônia, Jabor
classificou o momento atual como igual "a um passado pré-impeachment do
Collor". Uma torcida evidente pela retomada daquela movimentação. Buscando
destaque nesse debate, Gullar registrou no fim de semana a expressão
"golpe democrático", que sabe se lá como pode ser aplicado, uma vez
que é golpe, mas é democrático. À la Paraguai, talvez ela tenha procurado
dizer.
Esses posicionamentos
se esvaziaram por si mesmos, mas eles foram assoprados, antes, por chefe
políticos como o senador Aloysio Nunes e o ex-governador Alberto Goldman. Ambos
conseguiram ficar isolados no PDSB ao pregar o não diálogo com o governo que,
efetivamente, venceu uma eleição democrática.
Goldman chegou a avaliar que a presidente Dilma "não
terá condições de governar". Com essa expressão de vontade, equiparou-se
ao deputado Jair Bolsonaro, que se elege pregando a negação da democracia por
meio da volta dos militares ao poder.
O problema tanto para
os colunistas como para os políticos é que não foi dada nenhuma atenção
expressiva ao que eles escreveram ou disseram. Por duas vezes tentou-se levar,
a partir de São Paulo, para dezenas de cidades brasileiras as marchas pela
derrubada de Dilma. Isso representaria a montagem do cenário público para o
golpe do resultado de uma eleição democrática.
O vazio das passeatas
ocorridas apenas na avenida Paulista – e que sequer existiram em outras cidades
– mostrou, porém, que os que pregão um atalho para tentar voltar ao poder estão
sozinhos. No Congresso, o convite à instalação de um processo de impeachment
não teve o menor eco.
Sem querer, a meia
dúzia de pregadores da interrupção no ciclo democrático prestou um serviço à
democracia: ficou provado que ideias esdrúxulas como as deles não criam o mesmo
clima de crise que argumentos muitos semelhantes conseguiram criar 50 anos
atrás, nos idos de 1964. Eles podem não ter percebido, mas o Brasil de hoje não
se deixar enganar e está pronto para resistir às vivandeiras de plantão.