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6 DE NOVEMBRO DE 2014
CIRO GOMES:
"DILMA PRECISA
DE
MELHORES COMPANHIAS"
Ex-ministro
Ciro Gomes (Pros) se diz surpreso como a presidente Dilma Rousseff conseguiu se
reeleger com a equipe que montou no governo: 'E o problema não é a conciliação
com picaretas bem-recomendados pela “base”, enquanto a presidenta faz, repleta
de sinceridade, um discurso moralista. O pecado do pecador é desculpável, o do
pregador, nunca. Ou bem se reproduz a moralidade FHC/lulista de que “é assim ou
não se governa”, ou conheçamos o exemplo recente de Itamar Franco, que governou
sem conciliar com a ladroagem'; no início da semana, seu irmão, o governador do
Ceará Cid Gomes, apresentou a Dilma a proposta de criação de uma frente de
esquerda ou até um novo partido de apoio a seu governo para garantir
a
governabilidade no segundo mandato
247 – Em
artigo publicado na Carta Capital, o ex-ministro Ciro Gomes (Pros) diz que a
presidente Dilma Rousseff precisa governar com “melhores companhias”. Esta
semana, seu irmão, o governador do Ceará Cid Gomes, também apresentou a Dilma a proposta de criação de uma frente de esquerda ou até
um novo partido de apoio a seu governo para garantir a governabilidade no
segundo mandato.
Leia aqui o artigo de Ciro:
É
incrível que ela tenha escapado da derrota com a equipe que montou no governo.
O submundo do mercado e da política não deram
à reeleita Dilma Rousseff nem 24 horas de trégua. E não haverá paz.
Isso significa duas coisas neste momento: há
muito pouco tempo para o novo governo se iniciar (o calendário gregoriano pouco
importa aqui) e tudo o que ela não deve nem pode fazer, sob pena de se
desconstituir muito rapidamente, é tomar iniciativas atabalhoadas que
simbolizem uma rendição deslegitimadora a uns ou a outros.
A alta dos juros básicos da economia,
estabelecidos pelo Banco Central, na quarta-feira 29 foi péssimo sinal.
Aumentar a gasolina neste contexto, fatal.
Negociar com a escória que vota contra o governo na Câmara dos Deputados, e,
logo, logo, no Senado, em seus termos e por meio da pedagogia da chantagem,
será mortal.
Não creio exagerar em nenhum desses
argumentos.
Dilma Rousseff só venceu as eleições pelo fato
de a maioria precária de nós, brasileiros, perdoarmos as graves contradições de
sua governança e, especialmente, de sua condução da economia.
E o fizemos por argumentos de duas ordens:
confiamos em sua boa-fé e decência pessoal, vis-à-vis a crônica de desmandos e
escândalos magnificados pelos sócios majoritários da imoralidade pátria,
especialmente na grande mídia.
E, acima de tudo, penso eu, por percebermos
que, por trás de tudo, é possível enxergar que a “turma” que Dilma de fato
representa, apesar de sua mania de andar mal-acompanhada, os valores mais
importantes para o povo: o compromisso nacional, o trabalho como bem central em
uma nação civicamente sadia, o compromisso moral com a superação da vergonhosa
desigualdade que nos aparta (de um lado, uma elite minúscula, mas aferrada a
uma cultura escravocrata, de outro, imensas maiorias excitadas com informação
globalizada de um padrão de consumo ao qual não conseguem ascender com o pouco
que evoluíram).
Não é o suficiente para sustentar um novo
governo com os problemas graves e urgentes no horizonte, mas é suficiente para
recomendar: nesses valores, e não naqueles dos reacionários, Dilma precisa
escorar-se para enfrentar a difícil tarefa que lhe espera.
Algumas obviedades, outras nem tanto: equipe,
agenda, foco, amor ao resultado, urgências. Nada disso caracterizou o governo
que se “encerrou”.
Na verdade é incrível que Dilma tenha escapado
da derrota com a equipe (salvemos as raríssimas exceções) inacreditável com que
governou. E o problema não é a conciliação com picaretas bem-recomendados pela
“base”, enquanto a presidenta faz, repleta de sinceridade, um discurso
moralista.
O pecado do pecador é desculpável, o do
pregador, nunca.
Ou bem se reproduz a moralidade FHC/lulista de
que “é assim ou não se governa”, ou conheçamos o exemplo recente de Itamar
Franco, que governou sem conciliar com a ladroagem.
Dando ao intermédio a condição de se entender
aqui, em outra linguagem, na nossa: 36 anos de experiência me autorizam a
afirmar, assim se obtém a maioria. O oposto levaria a uma crise de legitimidade
e sinceramente não sei se Dilma teria condições de administrá-la.
Crise mesmo não é, porém, aquela
essencialmente política, embora possa ser igualmente complexa. A crise
potencialmente explosiva é a econômica. O País tem sido administrado da mão
para a boca e nossas margens se estreitam de forma muito grave. Também aqui não
creio exagerar. O ano de 2015 já será difícil se for feito tudo o que é
preciso. E será pior se nada for feito.
Alguns números para embasar as minhas
preocupações: o desequilíbrio nas contas correntes do Brasil com o exterior é o
maior da história e tende a aumentar (86 bilhões de dólares).
A balança comercial de produtos manufaturados
(diferença entre o que compramos e vendemos no mercado internacional no setor
industrial) alcança 106 bilhões de dólares.
As contas fiscais se deterioraram
aceleradamente nos últimos meses e a reversão pela via conservadora e não
seletiva levará inevitavelmente à recessão.
Do câmbio vem uma pressão inflacionária, da
área fiscal, uma pressão recessiva. Primeiro efeito: estagflação. Resultados
mais graves: o estreitamento da margem para os ganhos salariais e, no médio
prazo, para a manutenção do nível de emprego.
Se acontecer, os fundamentos centrais do novo
e precário contrato político de Dilma Rousseff com a maioria será atingido.
Para tudo há solução.
Nenhuma delas mágica, acredito.
Mas nenhuma produzida a partir da prostração
ideológica que caracterizou a campanha eleitoral. Fora do trivial cardápio
moralista, discutiram-se apenas as nuances de conservadorismo.
A presidenta precisa desinterditar o debate,
chamar a inteligência brasileira e pedir que todos deixem suas certezas na
porta de entrada e, livres de preconceitos, produzam uma idéia comovente ao
País.
Uma economia política inteligente guiada pelo
pragmatismo na superação de nossos desequilíbrios. Um projeto de nação que
coloque todo e qualquer sacrifício na perspectiva de uma construção de futuro.
Não duvide: se Dilma temer os riscos e
preferir as acomodações que se planejam para ela e seu tempo precário...
Bem,
Deus proteja o Brasil.
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