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26
DE DEZEMBRO DE 2014
O
PETROLÃO
E OS OUTROS ESCÂNDALOS
ABDUZIDOS PELO NOTICIÁRIO
Sem reforma política e sem veto do dinheiro de
empresas para campanhas, as prisões de envolvidos no escândalo da Petrobras não
impedirão que mais escândalos
ocorram já nas próximas eleições
MAURO
SANTAYANNA
Nas últimas semanas, o Brasil tem vivido
sob o impacto da Operação Lava Jato, que, em torna da qual o noticiário, na
busca de uma associação ao chamado “mensalão”, batizou de Petrolão.
Enquanto
se eleva esse novo escândalo ao posto de "o maior da história",
relegam outros episódios aos rodapés, os lançam um imenso Triângulo das
Bermudas, o reduzem aos pedacinhos pelas lâminas de Freddy Krueger, os abduzem
feito obra de alienígenas.
Esse é o caso, por exemplo, do
"mensalão do PSDB", perpetrado, de forma pioneira, com a ajuda do
conhecido Marcos Valério, durante o governo do senhor Eduardo Azeredo, em Minas
Gerais.
Esse é o caso do escândalo do Banestado,
de desvio de mais de R$ 100 bilhões para o exterior, no qual foram indiciados
vários personagens ligados ao governo Fernando Henrique Cardoso, incluído o
senhor Ricardo Sérgio de Oliveira, "arrecadador" de recursos de campanhas
do PSDB, perpetrado, entre 1996 e 2002, também no Paraná, com a ajuda do
mesmíssimo "doleiro" Alberto Youssef do atual escândalo da Petrobras.
Esse parece ser também o caso, do
Trensalão do PSDB de São Paulo, que, apesar de ter tido mais de R$ 600 milhões
das empresas envolvidas bloqueados pela justiça no dia 13 de dezembro, parece
ter sido coberto por um Manto da Invisibilidade digno de Harry Potter, do ponto
de vista de sua repercussão.
Seria ótimo se – hipocrisias à parte – o
problema do Brasil se resumisse apenas a uma briga entre "bonzinhos"
e "malvados".
Está claro que temos aqui, como ocorre em
muitíssimos países, bandidos recebendo propinas no desvio de verbas públicas,
atuando como "operadores" e facilitadores no trabalho de tráfico de
influência, no superfaturamento e na lavagem de dinheiro e envio de recursos
para o exterior.
E claro está também que existem
empresários acostumados, com o tempo, a pagar ou a ser extorquidos, a cada
obra, a cada licitação, a cada aditivo de contrato, pelos "intermediários"
e oportunistas de sempre, e que já sofrem sucessivas paralisações, atrasos e
adiamentos nas grandes obras que executam, que ocorrem devido a razões que
muitas vezes escondem interesses políticos que nem sempre correspondem aos do
próprio país e da população.
E padecemos, finalmente, ainda, da falta
de coordenação e entendimento, entre os Três Poderes da República, em torno dos
grandes problemas nacionais.
Leis, projetos e obras que são essenciais
para o futuro do país, não são discutidas previamente entre Executivo,
Legislativo e Judiciário, antes de serem encaminhadas para aprovação e
execução, o que acaba levando, nos dois primeiros casos, a relações de pressão
e contrapressão que acabam descambando no fisiologismo e na chantagem – e que
afetam, historicamente, a própria governabilidade.
Na contramão do que imagina a maioria das
pessoas, com algumas exceções, ao contrário dos corruptos e dos
"atravessadores", os homens públicos – incluindo aqueles que
trabalham abnegadamente pelo bem comum – estão muito mais preocupados com o
poder, para executar suas teses, idéias e projetos, ou apenas exercê-lo,
simplesmente , do que com o dinheiro.
No embate político, ter recursos – que às
vezes chegam de origem nem sempre claramente identificada, pelas mãos de
"atravessadores" que se oferecem para "ajudar" – é
essencial, para conquistar o poder, na disputa eleitoral, e nele manter-se,
depois, ao longo do tempo.
Esse é o elemento mais importante da
equação.
E ele
só começará a ser resolvido se houver uma reforma política que proíba,
definitivamente, a doação de dinheiro privado a agremiações políticas e
candidatos a cargos eletivos, promova a cassação automática de quem usar caixa
dois e aumente a fiscalização do uso dos recursos partidários ainda durante o período
de campanha.
A gravidade da situação coloca em risco a
imagem da empresas mais importante do país levou. A ponto de a defesa da
Petrobras ocupar parte importante do discurso de diplomação da presidenta
reeleita.
Foi
um recado importante de que não está fechando os olhos para a crise e de que
tampouco permitirá que setores interessados na fragilização da companhia se
dela se locupletem.
Mas por mais que sejam importantes, e
impactantes, as provávei prisões dos corruptos envolvidos no escândalo da Petrobras
e a recuperação dos recursos desviados, se não for feita uma reforma política,
de fato, elas não impedirão que mais escândalos ocorram, no financiamento de
novas campanhas, já nas próximas eleições.
Reforma política é tema recorrente na Revista do Brasil