"O esforço dos meios de comunicação para
encontrar — de qualquer maneira — uma ligação da campanha de Dilma Rousseff com
os recursos da operação Lava Jato superou um novo limite na fronteira que
separa a boa fé da manipulação mais descarada", diz o jornalista Paulo
Moreira Leite, diretor do 247 em Brasília; em novo artigo, ele aborda a delação
de Augusto Mendonça Neto, da Toyo Setal; "É verdade que o executivo
admitiu ter mantido em 2008 uma reunião com o tesoureiro nacional do PT, João
Vaccari Neto, na sede do diretório estadual do PT em São Paulo, quando disse
que 'gostaria de fazer contribuições' ao partido. Mas Mendonça Neto também
disse no depoimento que 'não mencionou a Vaccari que as doações seriam feitas a
pedido de Renato Duque' e que seriam fruto de propina. Vaccari então orientou o
executivo como doar de forma legal. Ou seja, o PT aceitou a doação na forma da
lei. Está lá, entre aspas, na página 8 do depoimento de Mendonça Neto"
O
esforço dos meios de comunicação para encontrar — de qualquer maneira —
uma ligação da campanha de Dilma Rousseff com os recursos da operação Lava Jato
superou um novo limite na fronteira que separa a boa fé da manipulação mais
descarada.
Tenta-se,
agora, aproximar a delação premiada do executivo Augusto Ribeiro de Mendonça
Neto, da Toyo Setal, da campanha presidencial de Dilma em 2010. Todos os
jornais destacaram que parte da propina paga para o ex-diretor de Engenharia e
Serviços da Petrobras Renato Duque eram “doações oficiais ao Partido dos
Trabalhadores”.
O
que se esconde é um aspecto essencial. Mendonça Neto esclareceu no depoimento
que não havia informado ao PT do motivo das doações.
É
verdade que o executivo admitiu ter mantido em 2008 uma reunião com o
tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto, na sede do diretório estadual do
PT em São Paulo, quando disse que “gostaria de fazer contribuições” ao partido.
Mas
Mendonça Neto também disse no depoimento que “não mencionou a Vaccari que as
doações seriam feitas a pedido de Renato Duque” e que seriam fruto de propina.
Vaccari
então orientou o executivo como doar de forma legal. Ou seja, o PT
aceitou a doação na forma da lei. Está lá, entre aspas, na página 8 do
depoimento de Mendonça Neto.
Este
é o ponto espantoso. A divulgação seletiva de informações, de modo a atingir
adversários e proteger aliados é uma tradição de nossos jornais e revistas. Mas
raras vezes se fez isso de forma tão descarada, sem o cuidado sequer de manter
as aparências.
Vamos
combinar que quem é capaz de vazar informações prestadas de caráter
confidencial, como consta do documento, deveria, pelo menos, cumprir o dever de
prestar um relato fiel daquilo que se disse a Justiça. Afinal, o que se quer é
elevar o padrão ético de nossas práticas políticas e econômicas, correto? Ou
não?
Outro
aspecto é que os jornais preferiram confundir seus leitores ao repercutir a
acusação de Aécio Neves que a doação legal ao PT em 2010 poderia tornar
“ilegítima” o governo de Dilma Rousseff. No depoimento à Justiça do Paraná,
Mendonça disse que as empresas Setec Tecnologia, PEM Engenharia e a SOG Óleo e
Gás doaram legalmente R$ 4 milhões ao PT.
Não
existe nenhuma prova de que esse dinheiro tenha sido usado pela campanha de
Dilma porque a legislação eleitoral da época não exigia a identificação da
origem dos recursos transferidos entre partido e campanha, a chamada “doação
oculta”. Isso só passou a ser obrigatório em 2014.
Com
essa obrigatoriedade, sabe-se hoje que seis construtoras ligadas à Lava-Jato e
com obras nos governos tucanos de Minas (Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa,
OAS, Odebrecht e Queiroz Galvão) doaram R$ 34,17 milhões à campanha de Aécio
Neves.
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