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17
DE DEZEMBRO DE 2014
EDITOR
DO JORNAL
ESTADO
DE MINAS
É
CENSURADO E
PEDE
DEMISSÃO
Na terça-feira (16) João Paulo Cunha, um
respeitado jornalista dos temas cultura e política, pediu demissão de um dos
mais tradicionais meios de comunicação de Minas Gerais, o Estado de Minas; a
demissão de João Paulo aconteceu após uma conversa entre ele e a diretoria do
jornal, em que a chefia deixou claro que ele não poderia mais escrever sobre
política; por considerar a atitude uma manifestação de censura sobre o seu
trabalho, o jornalista não aceitou
continuar no cargo e pediu demissão
Brasil
de Fato - Na
terça-feira (16) João Paulo Cunha, um respeitado jornalista dos temas cultura e
política, pediu demissão de um dos mais tradicionais meios de comunicação de
Minas Gerais, o Estado de Minas. A notícia traz à tona a “onda de censura”
implantada no jornalismo mineiro, fato comentado,
documentado e denunciado por jornalistas mineiros há anos.
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Editor do jornal Estado de Minas
é impedido de falar de política
Rafaella Dotta
De Belo Horizonte
Na terça-feira (16) João Paulo Cunha, um
respeitado jornalista dos temas cultura e política, pediu demissão de um dos
mais tradicionais meios de comunicação de Minas Gerais, o Estado de Minas.
A notícia traz à tona a “onda de censura”
implantada no jornalismo mineiro, fato comentado, documentado e denunciado por
jornalistas mineiros há anos.
A demissão de João Paulo aconteceu após uma
conversa entre ele e a diretoria do jornal, em que a chefia deixou claro que
ele não poderia mais escrever de política.
Por considerar a atitude uma
manifestação de censura sobre o seu trabalho, o jornalista não aceitou
continuar no cargo e pediu demissão.
“Acho inadmissível que um jornal censure seus
profissionais. A luta histórica que tivemos no Brasil é para termos o jornalismo
como instrumento de cidadania”, afirma o jornalista.
O motivo da censura seria
a sua opinião política, diferente da linha adotada pelo jornal, que segundo ele
é “francamente explícita a favor de Aécio Neves”.
No artigo “Síndrome de Capitu”, publicado no
suplemento semanal “Pensar” no dia 5, João Paulo criticou a recente
movimentação para um golpe político, elaborado pela oposição à presidência, e
defendeu a Reforma Política como “agenda prioritária para a sociedade”.
“A coluna que ele escreveu deve ter
desagradado interesses do jornal e de alguns políticos, que fizeram uma
represália a ele”, acredita Kerison Lopes, presidente do Sindicato dos
Jornalistas de Minas Gerais.
“Pensar continua sendo perigoso”
No estado, episódios de censura não têm acontecido
apenas nas redações de jornais. A professora Beatriz Cerqueira, presidente da
Central Única dos Trabalhadores (CUT MG), foi alvo de 17 processos contra uma
campanha publicitária sobre a educação mineira.
Os processos foram movidos pela
coligação do PSDB ao governo do estado.
“Em Minas, pensar continua sendo um ato
muito perigoso, quase um terrorismo contra o Estado”, afirma Beatriz.
“Infelizmente, o Estado de Minas perde
qualidade e credibilidade com essa atitude”, afirmou o presidente do Sindicato
dos Jornalistas de Minas Gerais, Kerison Lopes.
Ele conta que, na manhã de
quarta-feira (17), dezenas de leitores e jornalistas procuraram o sindicato
para dar depoimentos descontentes com a saída de João Paulo.
“A gente espera
que esse seja o último caso de censura da era tucana em Minas, mas talvez seja
o mais emblemático, pelo que João Paulo representa para o jornalismo mineiro”.
Daniel Camargos, jornalista do caderno de
política do Estado de Minas, diz que a despedida de João Paulo foi comovente.
“Quando ele se despedia das pessoas formou uma imensa roda em torno dele. Todos
querendo saber o que havia ocorrido.
Ele explicou e a reação final de toda a
redação foi levantar e bater palmas”, conta. “Hoje (17) muita gente, mas muita
gente mesmo, veio de camisa branca de malha. Uma maneira de homenagear o João
Paulo, que se vestia constantemente assim”.
Juarez Guimarães, professor de Ciências
Políticas da UFMG, acredita que este seja o caso de censura mais simbólico dos
últimos tempos. “A falta de pluralismo dos donos da comunicação de Minas Gerais
é uma afronta ao princípio de liberdade que funda a história dos mineiros”.
Entrevista com João Paulo Cunha
Formado em filosofia,
psicologia e jornalismo, João Paulo Cunha trabalha há 25 anos como jornalista,
sendo 18 deles no jornal Estado de Minas. Atualmente, era editor chefe do
caderno de Cultura, além do caderno TV, Divirta-se e do suplemento que circula
aos sábados, o Pensar. Em 2011, João Paulo lançou o livro “Em busca do
Presente”, com artigos publicados na sua coluna “Olhar”.
Brasil de Fato
Na sua
opinião, o que motivou a censura
jornalística a você?
João Paulo - O jornal,
como todos, tem uma linha editorial própria, sobre a realidade política, social
e econômica. Isso é legítimo. Como eu tenho uma linha de pensamento diferente,
que discordava do jornal, avisaram que eu estava a partir daquele momento
proibido de escrever ideias sobre política.
Pra você, é admissível que donos de um jornal ditem
o que os jornalistas vão escrever?
Não. Acho
inadmissível que um jornal censure seus profissionais. A luta histórica que
tivemos no Brasil é para termos o jornalismo como instrumento de cidadania. Ao
censurar a imprensa ou o jornalista, você está tirando dele o mais importante,
que é a liberdade de expressão e a possibilidade de trazer várias visões de
mundo.
Sempre há
denúncias de que há censura no Estado de Minas,
inclusive durante as eleições. Isso realmente
acontece?
Na minha área de trabalho, que é a cultura,
nunca tive nenhum tipo de cerceamento com relação aos conteúdos. Mas ficou
nítida nessa última eleição uma linha explícita a favor de Aécio Neves, sempre
positivando as ações dele, e críticas e negativas a Dilma Rousseff. Hoje há um
nítido direcionamento, que favorece Aécio.
Por que isso prejudica o jornalismo?
A base do nosso trabalho é ampliar a
capacidade das pessoas de se relacionar com o mundo, para tomar suas decisões
da melhor forma e viver em sociedade. Quanto mais informação ele divulga, maior
o compromisso do jornal com a sociedade. Se você limita as ideias a apenas uma
posição, você está impedindo que o jornalismo faça o que é sua função
essencial:
levar informação de qualidade, reflexão e visão de mundo plural pra
todas as pessoas.