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30 DE DEZEMBRO DE 2014
POR QUE LULA
CONVOCA A ESQUERDA
AGORA?
O país perder a paz democrática em nome de
‘propostas’ imbecis
como impeachment e outros revisionismos de última hora
seria o caos econômico, jurídico e social em todos os planos
A esquerda atual no Brasil não tem
se afirmado por meio de qualquer plano ideológico, seu grande serviço social
tem sido conter forças conservadoras e intolerantes.
O governo Dilma Rousseff, e mesmo o de Lula, precisaram de fartos
concertos com uma direita plástica e híbrida, por todos, o PMDB, para conseguir
governabilidade. Isso expõe a dificuldade de um conceito minimamente
‘autêntico’ em termos de esquerda.
Por outro lado, conceitos de ‘esquerda’ e ‘direita’ passaram a ser
amálgamas da possibilidade. Existem e continuarão sempre a existir na medida de
um possível fático, prático e mínimo. Jamais estudiosos deixarão de usar a
díade, como ensina Norberto Bobbio, em seu famoso livro ‘Direita e esquerda’.
Sabe-se, entretanto, que o purismo, as ‘igrejinhas’ teóricas e correntes
extremadas, não existem mais.
No Brasil prático da vitória-raspão de Dilma e simetricamente
quase-vitória de Aécio, as dificuldades passaram a existir para ambos. Com
obrigações opostas, uma de governabilidade, outra de oposição. Nesta interface
reaparece Lula sinalizando 2018 e invocando uma reorganização imediata da
esquerda. Mas se o Partido dos Trabalhadores venceu, por que essa necessidade?
A vitória reeleitoral de Dilma, justamente com um escore apertado,
provocou o sabor de forças direitistas. Mais, reacionárias e efetivamente
golpistas.
Essas forças que estavam sepultadas, efetivamente envergonhadas pela
democracia pós-ditadura se levantam. Rejuvenescem-se na figura de um general
Newton Cruz padrão-2014: o ex-capitão Bolsonaro. Até no jeito mentalmente
borolado de se expressar.
Os demônios históricos da uma ditadura-2014 sonhática se levantam e rugem,
pelas mãos de uma direita no Brasil que há décadas praticamente não existe.
Pelo menos como mínima organização teórica social. Mas a história de
ultraconservadores e pós-nazistas [ou seriam 'pró'?], ávidos por tomar o poder
por meio de golpes é conhecida.
A reorganização da direita e da esquerda é boa para qualquer democracia.
Essa pujança jamais é ilegítima. Apenas a direita precisa se modernizar em
valores. Deixar de insistir em preconceitos e ódios reativos funcionais como
munição. Direitas radicais assim sempre surgiram e fizeram alguma marola, seja
na França, na Alemanha e noutros países. Mas nunca passaram de marola.
O risco brasileiro é, pelo antipetismo e sua virulência midiática que não
é pouca, que valores sabidamente atrasados, invocados por essa direita débil,
consigam voltar.
A Constituição de 1988 representou um espetacular avanço mundial para o
país. É claro que figuras tolas da direita como Collor e Sarney disseram que o
país ficaria 'ingovernável'. Já Ulysses Guimarães a apelidou corretamente de
Constituição Cidadã. Passadas as décadas a Carta se confirmou num padrão
internacional ótimo e respeitado.
Perderem-se os valores conquistados, de harmonia social, tolerância nas
diferenças, compensação nas discriminações, aceitação de novos modelos pessoais
ligados a sexo e liberdades, como defende essa direita truculenta em nome de
uma tal ‘família’ – um uso do termo viciado e estigmatizado por esse
Fidelix-órgão-excretor e simpatizantes, seria um desastre, um retrocesso.
A direita, repita-se, é legítima e até necessária, no caso atual, como
oposição. Este jogo dialético de forças sempre compôs a democracia e se lhe é
vital para a sobrevivência. Mas ela não pode ‘mais’ invocar valores retrógrados
de desagregação social contra minorias e necessitados. Se isto parece um
discurso vazio, salva-se por ser principiológico. Talvez o único tempero que
consiga frear a ânsia reacionária de uma direita plantonista e violenta.
O país perder a paz democrática em nome de ‘propostas’ imbecis como
impeachment e outros revisionismos de última hora seria o caos econômico,
jurídico e social em todos os planos.
Cínicos da direita sabem disso. Apostam no caos para depois ter direito à
xepa social que sobraria, prometendo consertos e milagres. O problema é uma
massa de inocentes úteis que não percebem a manobra. Alguns criando clubinhos
reacionárias online com flâmulas e escudos. Um modelito que lembra os idos
mundiais do final de 1930 com aquele então desastre anunciado.
Advogado e professor da pós-graduação da FGV
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