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12 DE JANEIRO DE 2015
RICARDO MELO
CONDENA FANATISMO:
CRISTÃO OU ISLÂMICO
Auto intitulado ateu, colunista
diz que a história registra à exaustão a aliança espúria entre religiosos e um
sistema que privilegia desigualdade e opressão; cita Bin Laden que teve o apoio
da CIA. Hitler, Mussolini com a complacência do Vaticano;
e Binyamin Netanyahu
na manifestação de Paris
247 – Diante do atentado contra o jornal francês Charlie Hebdo,
conhecido por suas charges contra o profeta Maomé e a lei islâmica, o
colunista Ricardo Melo condena o fanatismo religioso; cristão ou islâmico.
Auto intitulado ateu, ele diz que a história registra à exaustão
a aliança espúria entre religiosos e um sistema que privilegia desigualdade e
opressão.
‘O Estado Islâmico foi armado até os dentes por nações
"democráticas". Bin Laden e sua seita de fanáticos receberam durante
muito tempo o apoio da CIA.
Hitler, Mussolini e sua gangue mereceram a complacência do
Vaticano em momentos cruciais.
Binyamin Netanyahu, o algoz dos palestinos e carrasco da Faixa
de Gaza, posou de humanitário numa manifestação em Paris contra o
"terror"’
Ateu, graças a deus
RICARDO MELO - Folha de São Paulo
'Ópio do povo', o
fanatismo religioso cristão ou islâmico
é o combustível de
tragédias como a do Charlie Hebdo
A barbárie estampada na chacina
parisiense suscita inúmeras questões.
O ponto de partida: sob nenhum ponto
de vista é possível justificar o ataque dos fanáticos contra a Redação do
Charlie Hebdo.
Agiram como facínoras, quaisquer que
tenham sido suas motivações. Não merecem nenhum tipo de comiseração. Invocar
atenuantes é renunciar aos (poucos) avanços que a civilização humana
proporcionou até agora.
"A religião é o ópio do
povo", diz uma frase de velhos pensadores. Permanece verdadeira até hoje.
Qual a diferença entre as Cruzadas, a Inquisição e o jihadismo atual? Nenhuma
na essência. Tanto uns como outros usaram, e usam, a religião como
justificativa para atrocidades desmedidas.
Tanto uns como outros servem a
interesses que não têm nada a ver com o progresso da civilização e a
solidariedade humana. Todos glorificam o sofrimento como bênção maior, em nome
de um além cheio de felicidade e redenção. Se você é pobre, está abençoado.
Se
você é rico, dê uns trocados no semáforo para conquistar o passaporte para o céu.
Com base em conceitos simplórios como
estes, milhões e milhões de homens e mulheres são amestrados para se conformar
com a exploração, as injustiças e o sofrimento cotidiano.
Sejam cristãos,
islamitas ou evangélicos.
Por trás dessa retórica, sempre haverá
um califa, um Paul Marcinkus, um bispo evangélico, um papa pronto para amealhar
os benefícios do rebanho obediente.
A figura de deus, em minúscula mesmo,
é recorrente em praticamente todas as religiões. Com nomes diferenciados,
ajudou a massacrar islamitas, montar alianças com o nazismo e dar suporte a
ditaduras mundo afora.
Na outra ponta, serviu, e serve, de "salvo
conduto" para desequilibrados assassinarem jornalistas, cartunistas ou
inocentes anônimos numa lanchonete ou ponto de ônibus.
Um minuto de racionalidade basta para
destruir estes dogmas. A Igreja Católica combate a camisinha quando milhões de
africanos morrem como insetos por causa da Aids. Muçulmanos fundamentalistas
aceitam estupros como "adultério" e subjugam as mulheres como seres
inferiores em nome de Maomé.
Certo que, paradoxalmente, o
obscurantismo religioso algumas vezes serviu de combustível para mudanças
sociais. Khomeini, no Irã, é um exemplo, embora o resultado final não seja
exatamente promissor. Já a primavera árabe atolou num inverno sem fim.
Hosni
Mubarak, ditador de papel passado, recentemente foi absolvido de todos os seus
crimes contra o povo do Egito.
Os milhões que se reuniram na praça
Tahrir para denunciar o autoritarismo em manifestações memoráveis
repentinamente viraram réus. Tão triste quanto isso é saber que a grande
maioria deles conforma-se com o destino cruel. "É o desejo do
profeta", em minúscula mesmo.
A história registra à exaustão a
aliança espúria entre religiosos e um sistema que privilegia desigualdade e opressão.
O Estado Islâmico foi armado até os dentes por nações "democráticas".
Bin Laden e sua seita de fanáticos
receberam durante muito tempo o apoio da CIA. Hitler, Mussolini e sua gangue
mereceram a complacência do Vaticano em momentos cruciais. Binyamin Netanyahu,
o algoz dos palestinos e carrasco da Faixa de Gaza, posou de humanitário numa
manifestação em Paris contra o "terror".
Respeitar credos é uma coisa; nada
contra a tolerância diante das crenças de cada um.
Mas, sem tocar na ferida da idiotia
religiosa como anteparo para interesses bem materiais, o drama de Charlie Hebdo
será apenas a antessala de novos massacres abomináveis.