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março 10, 2015
Depois
de destruir
Nacionalismo
árabe,
EUA
preparam o bote
na
América do Sul
por Rodrigo Vianna
Os EUA de
Lincoln Gordon organizaram golpe de 64;
e preparam
novo bote na América do Sul
A lista é impressionante: Iraque, Afeganistão, Líbia e Síria. Em
menos de 15 anos, os quatro países se transformaram em Estados zumbis. É algo
muito grave, a indicar a direção para onde aponta a política expansionista dos
Estados Unidos no século XXI.
Com o fim da Guerra Fria, deixaram de ter
qualquer anteparo para sua estratégia de fazer tombar todos os governos que
signifiquem ameaça ao controle do petróleo no Oriente Médio (ou em outras
partes do planeta).
Saddam Hussein (Iraque) não era um santo.
Todos sabemos. Muamar Gadafi (Líbia), tampouco.
Os dois, ao lado da família Assad na Síria, faziam parte de um
movimento (o nacionalismo árabe) a significar um grito de independência desses
países – que, no passado, haviam estado sob domínio turco ou europeu.
Outra característica unia os três (e era a
marca também do regime forte no Egito, comandado por Mubarak, que tombou na tal
“primavera árabe”): conduziam estados laicos, com um discurso pautado mais pelo
“orgulho nacional” do que pela religião.
Eram países comandados por regimes fortes, organizados, com
projetos de nações independentes. Apesar de longe, muito longe, de qualquer
princípio democrático.
Em nome da democracia, os Estados Unidos
varreram do mapa esses governantes. A Líbia foi retalhada, já não existe,
debate-se em crise permanente com o confronto entre pelo menos 4 facções
armadas.
A Síria é um semi-estado, em que Assad resiste em Damasco, mas
vê o Estado Islâmico (EI), de um lado, e os “rebeldes” armados pelos
EUA/Europa, de outro, avançando sobre grandes porções do território.
O Iraque é agora um protetorado ocidental, sem qualquer margem
para se organizar de forma independente.
Vejo alguns analistas “liberais”, na
imprensa brasileira, dizendo que Washington “fracassou” porque derrubou
governos autoritários e, em vez de democracias, colheu o caos no Oriente Médio.
Coitados. Tão ingênuos esses norte-americanos.
Ora, ora. Pode haver algo mais fácil de
controlar do que populações desorganizadas, que se matam em guerras sem fim,
sem a proteção de nada parecido com um Estado organizado?
O projeto dos EUA era – e é – o caos, a criação de uma grande
franja que (do norte da África ao Tigre e Eufrates, chegando às montanhas do
Afeganistão) debate-se no caos. É o que tenho chamado de “Estados zumbis”.
Mais recentemente, a intervenção de
Washington avançou para a Ucrânia.
De novo, vejo quem lamente que a intervenção não tenha levado a
uma democracia ucraniana em estilo ocidental. Como se o objetivo fosse esse…
Está claro que, também na Ucrânia, o
objetivo era criar um estado de caos e inoperância – que, de toda forma, é
melhor do que uma Ucrânia forte, unificada, pró-Russia (essa era a ameaça antes
da famosa rebelião fascista da Praça Maidan, insuflada pelos EUA, em Kiev).
A diferença é que na Ucrânia os norte-americanos
encontraram resposta russa, que puxou para si a Criméia e as regiões do
leste ucraniano (onde a cultura dominante e a língua são russas).
“Ok, vocês podem criar o caos na sua Ucrânia; mas na
nossa, não” – esse parece ter sido o recado de Putin a Obama.
Evidentemente, a derrubada dos governos em
cada um desses países (do norte da África ao Afeganistão, da Ucrânia ao
Tigre/Eufrates) seguiu motivações e roteiros próprios. Mas todas essas
intervenções são parte de um mesmo movimento de afirmação da hegemonia dos
Estados Unidos.
O poder imperial, em relativa crise
econômica, se afirma pelas armas de forma impressionante, mundo afora – e isso
em apenas 15 anos.
Vivemos o período das “operações
especiais”, das guerras não-declaradas, das rebeliões movidas a whatsapp e
vendidas como “gritos pela democracia”.
O mundo se ajoelha ao poder imperial. O
nacionalismo árabe, que oferecia alguma resistência ao avanço dos EUA e seus
parceiros da OTAN, foi destroçado.
Outro pólo de oposição é o que se desenha
na Eurásia, com a parceria energética e logística entre russos e chineses. Por
isso, Putin está sob cerco econômico, e ali – mais à frente – será jogada a
partida decisiva no xadrez mundial.
Antes disso, no entanto, a política de
intervenção de Washington se move para a América do Sul. Honduras e Paraguai
foram ensaios, bem-sucedidos.
Venezuela, Argentina e Brasil: aqui, agora,
vemos avançar o projeto de criar novos Estados zumbis. Depois do nacionalismo
árabe, chegou a hora de destruir o nacionalismo latino-americano.
Não é por outro motivo que “bolivarianismo” virou o anátema, o
palavrão, o inimigo a ser derrotado – numa ofensiva que é política, econômica e
sobretudo midiática.
Claro que todos esses país possuem
problemas.
Não quero dizer que todos os dilemas da América do Sul sejam
responsabilidade do Império do Norte.
Não.
Simplesmente, Washington aproveita as contradições e fraquezas
internas, em cada um desses países, para assoprar a faísca do caos.
Aqui, no Brasil, a
intervenção não precisa ser diretamente militar.
Basta atiçar
setores sob hegemonia da cultura (e da grana) dos Estados Unidos.
Num encontro social (em São Paulo, claro), recentemente, ouvi a
proposta pouco sutil:
“bom mesmo é que o Obama invadisse isso aqui, e acabasse
com essa bagunça”.
Esse é o projeto dos
paneleiros no Brasil.
O fim da Nação, a anexação ao
Império.
A próxima
batalha – parece – será travada na Venezuela.
Maduro fustigou os Estados Unidos, mandando
embora parte do pessoal da embaixada dos EUA em Caracas. Agora Washington reage
e declara a Venezuela uma ameaça à segurança dos Estados Unidos ( leia aqui ).
A escalada verbal favorece os setores mais duros do chavismo.
Ameaça de intervenção do Império pode dar a justificativa para um governo
chavista mais forte, em que o poder já não estaria com Maduro, mas com os
militares chavistas.
A burguesia que hoje bate panelas em Caracas talvez tenha que
seguir o caminho da elite cubana, em direção a Miami. Mas haveria guerra civil.
O caos. Uma Líbia, ou um Iraque, às portas do Brasil.
Com um governo muito mais moderado, o
Brasil também vive em estado de pré-convulsão política. Reparem: é o Estado (e
não o “petismo”) que pode se desmanchar. Petrobras, políticas sociais, a
própria ideia de desenvolvimento. Tudo isso está em cheque. E não é à toa.
Na Argentina, já se fala abertamente no
envolvimento de serviços de inteligência estrangeiros, na morte do procurador
Nisman – com o objetivo de desestabilizar Cristina Kirchner - leia mais aqui, no texto de Paul Craig Roberts - sugestão do site O
Empastelador.
No Brasil, vivemos uma venezuelização de
mão única: apenas um dos lados aposta no confronto total.
Os paneleiros querem sangue;
o governo mantem a moderação verbal.
Até quando?
O cenário é de
um confronto que ameça não o governo Dilma, mas a própria idéia de um Estado
nacional com projeto próprio.
A manifestação do dia 15 é só um capítulo da guerra.
A própria batalha do impeachment é parte de uma guerra muito
mais ampla.
Essa guerra
será dura, e pode durar muitos anos. O tempo da conciliação acabou.
P.S.:
Nos anos 80, quando se falava na
participação direta dos Estados Unidos na derrubada de TODOS os governos do
Cone Sul (Argentina, Brasil, Chile e Uruguai), ocorrida uma ou duas décadas
antes, certos liberais uspianos sorriam, e atribuíam a afirmação a “teorias
conspiratórias”; com a abertura dos arquivos em Washington, conheceu-se a
verdade.
Parece “teoria conspiratória”
que, depois de eliminar o nacionalismo árabe, os EUA preparem-se para um ataque
contra a América do Sul bolivariana?