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17 DE JULHO DE 2015 ÀS 16:53
CUNHA ABRE JANELA A NOVO
MOVIMENTO:
FORA, TODOS!
O
presidente da Câmara, eleito por seus pares por expressiva maioria, é um dos
melhores exemplos do que há de pior na política brasileira.
"Que se vayan todos!". É assim que os argentinos
diziam aos políticos diante da enorme crise no início deste século. A expressão
foi repetida em diversas outras ocasiões, em vários países, e assim também os
indignados da Espanha se manifestavam contra os políticos tradicionais que, no
momento em que o país enfrentava enorme crise econômica, financeira e social,
mantinham suas velhas práticas imorais e corruptas e se lixavam para o
sofrimento do povo. Pelo contrário: de tudo faziam para manter os privilégios e
ganhos deles próprios e dos mais ricos.
Os políticos tradicionais da Espanha não se foram todos, como
deveriam ter ido, mas houve inegáveis mudanças naquele país. E para dar um
sentido concreto ao movimento, os indignados se organizaram em um partido
diferente e distante das práticas dos partidos tradicionais, o Podemos. Esse
novo partido rompeu com o histórico bipartidarismo e ganhou importantes espaços
políticos nas últimas eleições.
Na Grécia, em meio à gigantesca crise, o Syriza surgiu como
reação popular aos que insistiam em enfrentá-la com instrumentos neoliberais. O
Syriza não acabou com a crise, nem consegue enfrentá-la como desejaria, mas
mostrou que é possível superar a velha política por novos métodos e com mais
compromisso com a população. É um passo importante para as mudanças
necessárias.
Nem o Podemos, nem o Syriza, nem qualquer outra formação
política vai colocar tudo de cabeça para baixo de um dia para outro, ainda mais
em tempos de crise brava, que não assola apenas uma cidade, um estado ou um
país, mas que é generalizada. E crise não se enfrenta só com discursos e
intenções, mas com medidas que nem sempre são as desejáveis e as que seriam
tomadas em épocas mais tranquilas.
A crise brasileira está acompanhada de denúncias de corrupção
que atingem principalmente o PT e partidos aliados, além, claro, de empresários
e executivos de algumas das maiores empresas do país. Mas qualquer pessoa
minimamente informada sabe que se mais investigação houvesse, mais gente seria
acusada: de quase todos os demais partidos, incluindo os que se fazem de
acusadores, e de muito mais empresários e executivos.
E o que os políticos fazem para superar essa situação? Fazem discursos
vazios e demagógicos, procuram desviar as atenções com propostas conservadoras
e retrógradas, criam CPIs para achacar e por aí vai. Não há disposição real de
enfrentar e superar a crise, nem de combater efetivamente a corrupção. A
"reforma política" que o Congresso está votando é uma demonstração
disso: o único objetivo é beneficiar os que já estão no poder e continuar tudo
como está.
Não é preciso muito para demonstrar o baixíssimo nível da
política brasileira: basta ver quem esses políticos elegeram para presidir a
Câmara e o Senado e a maioria dos legislativos estaduais. O presidente da
Câmara, eleito por seus pares por expressiva maioria, é um dos melhores
exemplos do que há de pior na política brasileira: corrupção, oportunismo,
arrogância, autoritarismo, conservadorismo, demagogia e chantagem. Fora o
fundamentalismo religioso que mais parece biombo para encobrir os pecados.
Essa triste figura -- como todos os demais acusados, justa ou
injustamente, de corrupção -- deveria se afastar do cargo que exerce até a
conclusão das investigações. Esse tinha de ser o procedimento padrão, para
preservar as instituições e a eficácia e imparcialidade das investigações.
Mas não é assim, e Eduardo Cunha não só continua presidente da
Câmara como faz ameaças e tenta intimidar os que o acusam.
Na verdade, ele está sendo coerente com o baixo nível dos
políticos brasileiros. O jeito, para os que querem mesmo dar um jeito, é
traduzir para o português: que se vayan todos! Fora, todos. Aí será possível
reconstruir o Brasil. Vai demorar, mas tem de começar.