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2 DE SETEMBRO DE 2015
PARCERIA COM ANDRADE FOI DESASTROSA PARA A CEMIG
Reportagem
do jornal GGN aponta aponta que a principal razão para a deterioração do
balanço da Cemig, cujo lucro caiu de R$ 788,8 milhões para R$ 29,1 milhões, foi
a parceria selada com o grupo Andrade Gutierrez, de Otávio Azevedo, no governo
do senador Antonio Anastasia (PSDB-MG); reportagem aponta investimentos que
favoreceram a Andrade, que, na disputa presidencial de 2014, foi a
principal doadora
de campanha do senador Aécio Neves (PSDB-MG)
Jornal GGN - A
divulgação de um balanço desastroso pela Cemig (Companhia Energética de Minas
Gerais) deve-se muito mais a operações ruinosas com a Andrade Gutierrez do que
aos efeitos da redução tarifária do final do primeiro governo Dilma Rousseff.
O balanço do terceiro trimestre do ano passado
mostrou uma queda de 96% no lucro líquido – que passou de R$ 788,8 milhões no
terceiro trimestre de 2013 para penas R$ 29,1 milhões.
Outro dado que chamou a atenção foi o da
equivalência patrimonial, negativo em R$ 102,1 milhões contra um resultado positivo
de R$ 349,1 milhões no mesmo período do ano anterior.
Ambos os resultados estão diretamente
relacionados com operações da Cemig com a empreiteira Andrade Gutierrez –
envolvida com a Lava Jato – na hidrelétrica de Santo Antônio, em Rondônia.
Os resultados operacionais
Os resultados operacionais foram satisfatórios. Sempre em relação
ao mesmo período do ano anterior, houve crescimento de 8,1% na receita líquida,
que foi de R$ 3,83 bilhões.
O volume de energia fornecida aos consumidores
aumentou 7,7% com aumento médio de 14,76% nas contas residencial, comercial e
industrial.
Houve aumento de 22,4% nos custos operacionais, que bateram em R$
3,42 bilhões, principalmente devido ao gasto maior com a compra de energia de
outras geradoras par que revenda, pois a seca impediu que honrasse o contrato
de fornecimento com os distribuidores. Os gastos totais foram de R$ 1,78
bilhão, aumento de 22,8%.
Os investimentos em Santo Antônio
A Cemig detinha uma participação de 10% na usina Santo Antônio, em
Rondônia, pela qual investira R$ 610 milhões. A usina vinha registrando
prejuízos recorrentes.
Aí, teve início a operação que jogou a Cemig no fundo do poço.
O controle da usina pertence ao fundo FIP Malboure, do qual
participvam a Cemig, a Andrade Gutierrez e outros sócios.
No dia 6 de junho, a Cemig adquiriu da Andrade Gutierrez
Participações S.A. o equivalente a 83% de sua participação no FIP, ou 12,4% do
total do fundo, ao custo de R$ 654 milhões. Os demais cotistas compraram a
participação restante por R$ 124 milhões.
O argumento da Cemig é que precisaria investir em Santo Antônio
para compensar a devolução de ativos de geração cuja concessão venceu e ela não
aceitou renovar.
A operação de Santo Antônio, no entanto, revestiu-se de algumas
peculiaridades.
Os interesses cruzados
A Andrade Gutierrez é a maior acionista individual da Cemig,
depois do governo de Minas.
Controla 33% do capital, possui assento no Conselho
de Administração e indica justamente o Diretor de Novos Negócios da empresa
Ela participava da Santo Antônio como investidora e também como
construtora, ao lado da Norberto Odebrecht.
Em agosto ameaçou paralisar os
trabalhos, devido às dificuldades de recebimento pelo trabalho realizado.
Para cobrir as despesas, o Madeira Energia S.A (MESA), consórcio
que administra o empreendimento, anunciou uma nova chamada de capital para os
acionistas.
Aí montou-se a operação:
1. No dia 6 de
junho, a Cemig adquiriu a parte da Andrade Gutierrez na usina.
2. No dia 21 de
outubro, a Santo Antônio energia convocou Assembleia de Acionistas que aprovou
aumento de capital de R$ 1,59 bilhão., a maior parte para honrar dívida com as
empreiteiras, que chegava a R$ 700 milhões.
3. Além de
adquirir a participação da Andrade Gutierrez, a Cemig precisou subscrever o
aumento de capital. Sua participação equivale a R$ 3,617 bilhões, ou 17,7% do
valor patrimonial da companhia.
4. A Andrade
Gutierrez recebeu pela venda da sua participação como acionista, livrou-se da
nova chamada de capital e recebeu os pagamentos atrasados, de seu trabalho na
construção da usina.
Tudo não passaria de um negócio de oportunidade, se a Usina Santo
Antônio estivesse bem.
Atualmente – segundo o jornalista José Antônio Bicalho –
ela produz pouco mais da metade da energia prevista. Com isso está sendo
obrigada a comprar energia no mercado livre para cumprir seus contratos com as
distribuidoras.
A jogada na Guanhães
Operação semelhante foi realizada na Guanhães Energia.
O tema Guanhães voltou ao noticiário graças ao doleiro Alberto
Yousseff, que reiterou denúncia do ano passado, de que tinha recebido R$ 4,3
milhões referentes à venda de participação na Guanhães Energia. Afirmou não
saber do destino do dinheiro, se para pagamento de propina para funcionários da
Cemig ou para políticos.
A operação foi assim:
A Cemig era sócia minoritária (49%) da Guanhães Energia, que está
construindo quatro pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) no interior de Minas.
Os 51% do controle estavam com a Investminas, do ex-secretário de Assuntos
Estratégicos do governo Collor, Paulo Leoni Ramos. As PCHs enfrentaram inúmeros
problemas. Estavam planejadas para entrar em operação de outubro de 2013 a
fevereiro de 2014 mas ainda não começaram a produzir.
No ano passado, a Guanhães registrou prejuízo de R$ 32,7 milhões,
devido à contabilização de valor de ativos de R$ 21,5 milhões, decorrentes de
problemas técnicos de implantação.
Mesmo assim, em fevereiro de 2012, o Conselho de Administração da
Light (na qual a Cemig é sócia majoritária) aprovou a aquisição de 51% da
Guanhães pelo montante de R$ 25 milhões.
A proposta foi levada à Light pela
Cemig.
Em ambos os casos, os sócios são investigados pela Lava Jato.