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12/10/2015
A conspiração do TCU e TSE
que nos empurra para
a convulsão social
J. Carlos de Assis*
Políticos irresponsáveis como Aécio e
colegiados corporativistas como o TCU
agem por puro interesse e estão
levando o Brasil para o precipício.
Ditadura miliar não é coisa que a gente
pede a frio. É coisa que a gente sofre a contragosto. Escrevi um artigo
mostrando que estamos nos encaminhando para um terrível processo de convulsão
social que pode acabar numa ditadura militar e alguns comentaristas, não
entendendo patavinas do que escrevi, alegaram que eu estava propondo uma
ditadura “benigna”.
É o exato oposto.
Na história, só existiram ditaduras
“benignas” na Roma antiga, quando os senadores entregavam o poder a um ditador
a fim de que ele tivesse as mãos livres para enfrentar algum perigo comum. Uma
vez cumprido o dever, o ditador tratava de abrir mão do poder o mais rápido
possível, pois considerava vergonhoso ser ditador.
Na atualidade brasileira, as condições para que
tenhamos uma ditadura “benigna” em face do caos reinante é praticamente nula.
Não há consenso possível em torno de uma solução desse tipo.
Não obstante, as instituições da
República estão se deteriorando em ritmo acelerado. Quando isso chega a um
nível de não retorno, algo tão impensável quanto o impeachment de presidente da
República por um capricho formal do TCU ou do TSE pode acontecer com uma
“naturalidade” falsa, com característica similares ao golpe paraguaio.
E é nesse momento que um estado de
convulsão social transforma-se nas preliminares de uma guerra civil, levando
muitos da população a pedir a intervenção militar.
Políticos irresponsáveis como Aécio e colegiados
corporativistas como o TCU, agindo por puro interesse partidário, estão levando
o Brasil de forma absurdamente leviana para a beira do precipício.
Agem como se estivessem sozinhos no
mundo sem considerar a reação do outro. Olhando acriticamente o resultado das
pesquisas de opinião, acham que Dilma e o PT não tem condições de suscitar
qualquer reação efetiva da população no caso de cassação dela.
Esquecem o que é o PT, a CUT e o MST,
com suas múltiplas correntes políticas internas, muitas delas se orientando
explicitamente por uma vocação revolucionária. Deem a eles motivo –e não existe
maior motivo que a cassação de Dilma -, e teremos o início de um banho de
sangue.
Não tenho em mente os homens maduros, as pessoas
de classe média, os chefes de famílias. Tenho em mente, principalmente, os
jovens. Basta lembrar a guerrilha urbana brasileira e a guerrilha de Araguaia
no início dos anos 70: a maioria eram jovens. César Benjamim tinha 16 anos.
Dilma Roussef, 18. Ambos conseguiram salvar suas vidas.
Outros foram assassinados pela
repressão antes dos 25.
É que jovens, em geral, não tem medo de
morrer na luta. São generosos. Não tem compromissos de família.
Tomem o mandato de Dilma e, qualquer
coisa que ela faça ou diga, ou que diga Lula, e centenas de milhares de pessoas
irão para as ruas tirar a forra.
Tudo isso começará “democraticamente”.
Contudo, recordam-se do que promoveram os black blocs
nas manifestações de 2013?
Lembro-me da expressão espantada dos
apresentadores da Globo descrevendo as ações dos “vândalos”. No entanto, eram
uns gatos pingados.
Imaginem agora as ruas e avenidas das
grandes capitais brasileiras ocupadas por dezenas de milhares de militantes
enfurecidos do PT, da CUT, do MST, do PCdB, do PSTU, do PSOL, nem todas em
apoio a Dilma, mas todos contra a quebra da institucionalidade: será que as PMs
evitarão uma quebradeira generalizada?
Será possível conter as multidões?
Isso não vai misturar-se com a chamada
luta contra o capitalismo, cujos maiores símbolos, bancos e empresas,
provavelmente não restarão de pé?
Nossa obrigação, enquanto cientistas sociais, é
relembrar a história para evitar que ela se repita.
Estamos numa situação de derretimento
de instituições similar ao que aconteceu séculos atrás, na Revolução Francesa.
Então, o Rei estava contra a aristocracia, a aristocracia contra os burgueses,
os burgueses contra os operários, os camponeses contra os latifundiários, todos
contra a Igreja.
Nós vemos o TCU e parte do TSE contra o
Executivo, o Legislativo contra o Executivo e o Judiciário, o Judiciário contra
todas as instituições e contra si mesmo.
Na França, a guerra civil começou com a
queda da Bastilha, que sequer era uma prisão política. Aos poucos quase nada
sobraria da velha ordem e algumas milhares de cabeças rolaram.
Não pensem que os ministros do TCU e do TSE que
ficarão impunes se a ordem política brasileira degenerar-se por obra de suas
ações irresponsáveis.
O mesmo se pode dizer dos políticos
também irresponsáveis que, por puro interesse próprio, estão contribuindo para
degenerar as instituições de forma próxima do irreparável. Pela história,
sabemos como começou a Revolução Francesa e como terminou: caiu nas mãos de um
general genial que impôs ao país uma ditadura “benigna”.
Não sei se teríamos a mesma sorte no
fim do processo.
Mas estou convencido de que, entre o
início caótico e a ditadura final, teríamos uma fase intermediária que a
história tornou conhecida como Terror!
P.S. Prometo que no próximo artigo relatarei os esforços que
um grupo responsável de brasileiros está fazendo para recuperar a economia, a
política e as instituições, sem apelo para ditaduras.
J. Carlos de Assis* Economista, doutor pela Coppe/UFRJ, autor, entre outros
livros de economia política, de “Os Sete Mandamentos do Jornalismo
Investigativo”, Ed. Textonovo, SP.