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10 DE OUTUBRO DE 2015
GREGÓRIO:
'VEJA E GLOBO NÃO ELEGEM MAIS PRESIDENTE'
Em entrevista exclusiva ao MTST e ao jornal
Brasil de Fato, o ator e roteirista Gregório Duvivier disparou contra o avanço
conservador e a hipocrisia da mídia; "O ódio ao PT é um ódio de classe. O
pobre tem mais acesso a bens de consumo e a lugares que antes não tinha. Os
pobres começaram a ocupar os lugares. Isso aí os ricos nunca vão tolerar, ter
que conviver com pessoas pobres. Além disso, a Veja e a Globo não elegem mais o
presidente da República. Olha o ódio que isso deve causar. A mídia estava acostumada
a colocar e a tirar do poder quem ela quisesse. Hoje não é mais assim
não", disse ele, referindo-se aos grupos de comunicação comandados por
João Roberto Marinho e Giancarlo Civita, que combatem os governos Lula e Dilma;
confira a íntegra
Por Fania
Rodrigues, do MTST e Brasil de Fato
Conhecido pelos vídeos de um canal de
humor da internet e por declarações sobre a política nacional, o ator,
humorista e escritor Gregório Duvivier, em entrevista exclusiva ao Brasil de
Fato, fala sobre mídia, conservadorismo e o cenário político atual.
“As pessoas acham que é mais seguro ser
conservador. Mas, muita gente morre por causa do conservadorismo.
Ele incentiva a homofobia, o machismo e
uma série de coisas que são letais.
Duvivier afirmou acreditar na arte como
um instrumento de transformação.
“Um dos papéis mais importante do humor
é puxar o tapete das certezas”.
Nesse sentido, deixou clara sua posição
em relação ao governo:
“ódio ao PT é um ódio de classe.
O que me incomoda não são essas pessoas
estarem criticando o PT, mas sim o fato de estarem criticando pelas razões
erradas”.
Confira a íntegra da entrevista.
Qual é o papel do humor e da arte no
debate político da sociedade?
O artista é parte da sociedade, mas
também é um agente transformador. Um dos deveres do artista é contribuir para
uma sociedade melhor.
A arte é muito poderosa. Quando alguém
escreve um livro está criando um mundo. Isso pode ser transformador. E um dos
papéis mais importante do humor é puxar o tapete das certezas.
Você tem uma coluna na Folha
de S.Paulo e faz trabalhos na Globo. Acha que é possível romper o
discurso conservador da grande mídia?
É muito difícil.
Em alguns meios mais que em outros.
Na Globo é mais difícil que na Folha.
Um programa na Globo passa por 12
pessoas (antes de ser aprovado),
em geral todas de interesses conservadores.
Todas as etapas são conservadoras
dentro da Globo.
A Folha,
ainda que seja uma empresa conservadora, também abriga várias pessoas de
esquerda lá dentro.
Na Folha nunca
fui censurado.
Em sua opinião, o conservadorismo
está melhorando ou piorando?
Está piorando.
No Congresso os conservadores têm uma
bancada muito organizada. A sociedade sempre foi conservadora, mas antigamente
não estava tão bem aparelhada.
Hoje a gente tem a bancada dos BBBs:
do boi, da bala e da Bíblia, que são os ruralistas, militaristas e
evangélicos.
Essas três bancadas estão unidas.
Existe uma escalada do pensamento
conservador e isso é muito perigoso.
Perigoso em que sentido?
As pessoas acham que é mais seguro ser
conservador. Mas, muita gente morre por causa do conservadorismo.
Ele incentiva a homofobia, o machismo e
uma série de coisas que são letais.
O Brasil é o país com o maior número de
assassinatos do mundo.
Uma das críticas que tenho ao PT é o
incentivo à indústria bélica. Somos um dos maiores produtores de armas leves,
como o revólver.
A Primavera Árabe foi sufocada com
armas brasileiras.
Você acha que a sociedade pode
regredir ainda mais?
Esse perigo existe.
O Brasil está virando um país mais
careta.
Estamos indo na contramão do mundo.
Os Estados Unidos, um país que sempre
foi moralmente conservador, aprovou o casamento gay e liberou o uso da maconha
em alguns estados.
E não tem mais gays ou maconheiros por
causa disso.
As coisas não deixam de existir porque
são proibidas, como o aborto, que expõe a mulher ao risco de morte.
Nesse caso, a mulher pobre.
Tem uma parte da classe média que
odeia o PT. Qual é a razão desse ódio?
Acho que as críticas ao PT são
fundadas, na maioria das vezes, na ignorância. O que me incomoda não são essas
pessoas estarem criticando o PT, mas sim o fato de estarem criticando pelas
razões erradas.
Não estão batendo no PT por ele ser
militarista, anti-ambientalista, anti-indígena.
Isso a direita não diz.
Vejo a direita dizendo que o Brasil vai
virar Cuba.
Definitivamente, se tem uma coisa que o
governo Dilma não está fazendo é transformar o Brasil em Cuba.
Qual é a principal crítica ao PT, é a
corrupção?
Até agora os maiores escândalos de corrupção não
são do PT, são do Eduardo Cunha e do Renan Calheiros, os dois do PMDB, que
também compôs o governo Fernando Henrique Cardoso.
E também tem a questão do ódio de
classe.
O ódio ao PT é um ódio de classe. O
pobre tem mais acesso a bens de consumo e a lugares que antes não tinha.
Os pobres começaram a ocupar os
lugares.
Isso aí os ricos nunca vão tolerar, ter
que conviver com pessoas pobres.
Além disso, a Veja e a Globo não elegem
mais o presidente da República.
Olha o ódio que isso deve causar.
A mídia estava acostumada a colocar e a
tirar do poder quem ela quisesse. Hoje não é mais assim não.
Por que a sociedade tolera políticos
como Eduardo Cunha?
As pessoas toleram aquilo que a mídia
diz que é aceitável.
Acabaram de descobrir uma conta do Eduardo Cunha de
5 milhões de dólares, na Suíça, e não foi capa de nenhuma revista ou jornal.
Não foi capa da Veja, que está super indignada com a corrupção.
Essa revelação é muito mais grave que
qualquer outra coisa que já acusaram a Dilma.
A indignação do povo é muito pautada.