FCO.LAMBERTO FONTES
Trabalha em JORNALISMO INTERATIVO
Mora em ARAXÁ/MG
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10/12/2015
O Brasil
está na mira
de Wall Street
Ao comentar a situação
político-econômica do Brasil,
Moniz Bandeira afirma que 'Wall
Street está por trás da crise brasileira'.
De acordo com o cientista político Moniz
Bandeira, professor aposentado da Universidade de Brasília e que há mais de 20
anos vive em Heidelberg, na Alemanha, “o objetivo das ações externas contra o
Brasil é quebrar a economia e comprar as empresas estatais a preço de
banana”.
Em entrevista exclusiva à Sputnik Brasil, Moniz Bandeira fala das ameaças imperialistas e também das questões de ordem política relacionadas à possível instauração de um processo de impeachment contra a Presidenta Dilma Rousseff. Para ele, está em curso um golpe no Brasil “que deve ser contido para não produzir graves consequências para a História do país”.
“É difícil precisar quais são os
interesses”, diz o cientista político de Heidelberg.
“Mas são interesses
estrangeiros, eu creio, em grande parte, de Wall Street e através de outras
entidades como The National Endowment for Democracy, USAID e outros que estão
incentivando esse golpe no Brasil, aliados às forças internas da direita.”
Sputnik: O objetivo seria quebrar a economia e comprar as empresas
brasileiras a preço de banana?
Moniz Bandeira:
Exatamente, isso é verdade.
Eles querem quebrar a economia brasileira
– e é aí que eu vejo mais a ação de Wall Street – e comprar as empresas,
como estão fazendo, a preço de nada, com o real desvalorizado a esse ponto.
S: Nós podemos acreditar, então, que o Brasil está na mira de Wall
Street?
MB:
Está na mira, claro, porque a questão não é só o Brasil, é internacional, é a
luta contra a Rússia e a China, mas eles não podem muito contra a China. E
querem derrubar a Rússia através da Síria e da Ucrânia.
São duas frentes que os Estados
Unidos abriram, porque a luta na Síria não é tanto por democracia, isso é
bobagem, os EUA não estão se importando com isso. Eles querem mudar o regime
para tirar a Base Naval de Tartus e também um ponto em Latakia, ambos da
Rússia.
S: Voltando ao Brasil. O senhor entende que o país voltará a sofrer
assaltos especulativos?
MB:
É muito complicada a situação aí. Eu não estou certo de nada a respeito do
Brasil, é muito difícil. Porque é muito difícil também dar um golpe – um golpe
civil como eles querem.
As Forças Armadas estão contra o golpe.
Elas são um fator de resistência
nacionalista no Brasil, assim como o Itamaraty.
S: O senhor disse que há órgãos no exterior financiando a grande mídia
no Brasil. A mídia, ao pregar o golpe, facilita a entrada das grandes
corporações internacionais em prejuízo das empresas brasileiras?
MB:
Claro, sobretudo no setor de construção, que tem sido alvo principal desse
inquérito, que, aliás, é inconstitucional, é tudo ilegal. O objetivo é destruir
as grandes empresas brasileiras, as construtoras que são fatores de
expansão mundial do Brasil, e permitir que entrem no mercado brasileiro
as multinacionais americanas.
S: O senhor entende que as agências de inteligência dos EUA
continuam a espionar a Presidenta Dilma Rousseff e as grandes empresas
estatais do país?
MB:
Claro, nunca deixaram de espionar. Espionam no Brasil e em todos os países. Se
você ler meu livro “Formação do Império Americano”, publicado há dez anos, você
verá como eu mostro isso documentado. Já no tempo de Clinton faziam isso.
Não há novidade nenhuma na atuação
dos EUA. Eu estudo essa questão dos EUA há muitos anos. Acompanhei de perto
toda a problemática de Cuba. Estou com 80 anos, desde os meus 20 anos eu
assisto a isso que eles fazem na América Latina.
S: O senhor fala em golpe em curso no Brasil. Qual a sua impressão, esse
golpe pode ir avante?
MB: Tanto
pode como não pode.
As possibilidades são muitas.
Ontem mesmo o Supremo Tribunal
Federal tomou uma medida constitucionalmente correta, que foi anular essa
comissão constituída na Câmara por meio de manobras.
O que existe é uma luta de ratos e
ladrões, um bando, uma gangue, montada pelo presidente da Câmara, Eduardo
Cunha, contra uma mulher honrada e honesta como a Presidenta Dilma Rousseff,
com todos os erros que ela possa ter cometido. Não há motivo legal nem
constitucional para o impeachment.
S: A Presidenta Dilma Rousseff conseguirá superar todas essas
dificuldades políticas e concluir o seu mandato em 31 de dezembro de 2018?
MB:
É muito difícil avaliar a evolução da situação, porque ela é ruim
internacionalmente. A situação internacional é muito ruim.
Eu disse, em 2009, quando recebi o
título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal da Bahia, que uma
potência é muito mais perigosa quando está em decadência do que quando conquista
o seu império, e os EUA são uma potência em decadência.
São
muito mais perigosos do que antes.
Créditos da foto: wikipedia