FCO.LAMBERTO FONTES
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28 de Dezembro de 2015
Colunista do 247, Emir Sader é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros
FHC ou a tragédia
da elite brasileira
FHC ou a tragédia
da elite brasileira
O Brasil saiu da ditadura como
o pais mais desigual do continente mais desigual do mundo.
O arrocho salarial, como o santo do “milagre econômico”, tinha promovido o mais acelerado processo de acumulação de capital e de desigualdade social que o pais ja havia conhecido em toda a sua historia.
O arrocho salarial, como o santo do “milagre econômico”, tinha promovido o mais acelerado processo de acumulação de capital e de desigualdade social que o pais ja havia conhecido em toda a sua historia.
Tivemos possibilidade de fazer com que a democratização não fosse
simplesmente a restauração do sistema politico liberal, com a campanha das
diretas.
Tivesse triunfado, Ulysses Guimaraes teria grande possibilidade de,
munido com o programa de reformas estruturais do PMDB, dar um conteúdo
econômico e social à democratização.
A derrota da campanha, somada à eleição pelo Colégio Eleitoral de
um candidato mais moderado – Tancredo -, além das contingências que levaram a
que Jose’ Sarney, em semanas, passasse de presidente do partido da ditadura a
primeiro presidente civil da democracia, limitaram a democratização na direção
do que a teoria do autoritarismo de FHC tinha pregado: apenas a desconcentração
do poder político em torno do executivo e a desconcentração do poder econômico
em torno do Estado.
Essa versão precoce do neoliberalismo transformou a teoria
do autoritarismo – segundo a qual não tivemos ditadura, mas “situação
autoritária, uma espécie de dita branda – na ideologia da transição
conservadora no Brasil.
O fracasso do governo Sarney esgotou o impulso democrático,
levando consigo ao PMDB como partido da transição, seu programa de reformas e a
liderança do doutor Ulysses, permitindo que um “filhote da ditadura” impusesse
outra agenda ao país.
Carros produzidos no pais como
“carroças” e funcionários públicos como “marajás” comandavam o marketing
neoliberal do Collor.
Sua queda não impediu o triunfo desse novo consenso.
Atribui-se a
Roberto Marinho, naquele momento, a afirmação de que a direita não elegeria mais
presidente, tendo portanto que buscá-lo em outro lado.
A escolha recaiu sobre FHC, que
se prestou a renunciar ao programa social democrata originário dos tucanos,
para seguir a trilha das suas referencias européias: de François Mitterrand e
de Felipe Gonzalez, na reconversão neoliberal da social democracia.
No país mais desigual do continente mais desigual, FHC se elegeu e
se reelegeu derrotando a centralidade da questão social proposta pelo Lula,
pela do ajuste fiscal. Foi eleito e reeleito – como seus correligionários
latino-americanos na mesma aventura: Carlos Menem, Alberto Fujimori, Carlos Andrés
Peres, Carlos Salinas de Gortari, Gonzalo Sanchez de Losada, entre outros,
vários depostos por corrupção, alguns dos quais foram parar na prisão -, até
que, como eles, FHC também se tornou o político mais rejeitado do país.
A trajetória de FHC reflete o desencontro definitivo das elites
tradicionais brasileiras com o país e com seu povo.
A vitória do Lula e a
construção de um governo centrado na afirmação dos direitos sociais da grande
maioria da população, sempre marginalizada, tornou o país menos injusto, menos
desigual, menos imoral.
Mas reconhecer essas realizações por parte da elite tradicional
seria reconhecer o seu fracasso, as suas responsabilidades na miséria e na
pobreza acumuladas frente à riqueza nas suas mãos.
Não tiveram a grandeza de
reconhecer como a afirmação dos direitos das grandes maiorias pobres faz do
Brasil um pais melhor, uma sociedade mais integrada e mais justa. Fizeram como
se nada de importante estivesse passando no Brasil e se lançaram à tentativa de
derrubar o Lula por um impeachment em 2005.
FHC estava à cabeça do golpe, pela sua incapacidade de reconhecer
como seu projeto de estabilidade monetária tinha se esgotado sem desembocar na
melhoria social do povo.
Enquanto que o Lula teve a
grandeza de reconhecer como a luta contra a inflação e a estabilidade das
contas publicar haviam sido incluídas no consenso nacional e como deveriam ser
incorporadas a seu programa de governo, mesmo se em função da prioridade
fundamental – as políticas sociais.
A direita, ao invés de reconhecer os
avanços do governo Lula e incorporá-los, tratou de desconhecê-los, de negá-los,
e assim se desencontrou do povo e do país.
Foi assim se reconfigurando a tragédia da elite tradicional
brasileira, tentando centrar no papel do Estado e na corrupção que traria, o
centro dos problemas do pais, para acobertar os avanços sociais, tudo o que
resta a fazer nesse campo e como a centralidade da especulação financeira tira
do pais os recursos para voltar a crescer e promover os direitos sociais de
todos.
FHC tornou-se a triste caricatura desse fracasso da velha elite
brasileira. De teórico da transição conservadora e de presidente de uma nota só
– a estabilidade monetária -, de social democrata a um reles neoliberal -,
tornou-se um golpista sem idéias e sem apoio popular.
Quando até seus gurus europeus
da social democracia francesa e espanhola reconhecem os méritos do Lula e do
PT, ele se isola na medíocre pregação golpista e no apoio às direitas
trogloditas da Argentina e da Venezuela, ao lado dos seus aliados fieis, os
decrépitos do DEM.
Preferem tentar destruir o pais, mediante um impossível golpe do
impeachment ou fazê-lo sangrar até a exaustão, a reconhecer seu fracasso.
Fracasso na ditadura militar, fracasso na transição democrática conservadora,
fracasso no neoliberalismo, fracasso nas tentativas de restauração conservadora.
A tragédia da trajetória de FHC resume, de forma exemplar, o
fracasso da elite tradicional brasileira diante de um país que teve revelado
todo o seu potencial com o governo Lula e que busca seu reencontro com esse
caminho, derrotando, uma vez mais, a FHC e a direita brasileira.