FCO.LAMBERTO FONTES
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10/01/2016
Jeferson Miola
O dinheiro limpo
e o dinheiro sujo,
segundo a Rede Globo
A A. Gutierrez repassou R$25,9 milhões à candidatura de Aécio,
mas a Globo constrói uma narrativa mostrando
que doações à Dilma, menores,
é que são sujas
A revista Época, de propriedade da Rede Globo, na edição
semanal que começou a circular dia 09 de janeiro de 2016, avacalha com a
reportagem “Dilma garantiu empréstimo camarada do
BNDES para Andrade Gutierrez em Moçambique”.
O texto é entremeado com recursos capciosos e
insinuantes, para conferir um aspecto de trama novelesca à suposta “notícia”.
A
narrativa do que seria um ato administrativo da CAMEX, que é o órgão federal
que cuida do comércio exterior, tem pitadas detetivescas e policialescas.
Com esta
técnica, a revista quer induzir o leitor a digerir ao natural a conclusão de
que este “novo escândalo descoberto” tem os seus bandidos, e é óbvio que os
bandidos só poderiam ser a Dilma e o PT.
A leitura atenta da reportagem, entretanto, conduz
à conclusão de que a revista Época comete fraude jornalística através da
manipulação do fato. É fácil entender porque:
1. o governo de Moçambique apresentou ao governo do Brasil, pelas vias diplomáticas, razões plausíveis para o não atendimento da condição imposta pelo BNDES, de abertura de conta bancária garantidora em algum país com baixo risco de inadimplência, para poder receber o empréstimo de 320 milhões de dólares para a contratação da Construtora Andrade Gutierrez, que venceu a licitação internacional para a construção da barragem de Moamba Maior;
2. o governo
de Moçambique deixou claro que, sem a flexibilização de parte do BNDES, o
contrato da obra seria adjudicado com outra empresa de outro país que aceitasse
as capacidades moçambicanas;
3. a CAMEX reuniu seus integrantes para analisar e deliberar sobre a situação. Ante a ameaça concreta com que se defrontava, de perder ou de manter um negócio de US$ 320 milhões no comércio africano de serviços, a decisão foi pela equalização das normas brasileiras às mesmas exigibilidades adotadas pelos países concorrentes;
4. em função disso, o BNDES foi autorizado a assinar o contrato de financiamento com o governo de Moçambique e o consórcio liderado pela Construtora Andrade Gutierrez para a realização daquela obra de infra-estrutura. Ponto final.
A revista Época poderia ter ficado neste ponto, mas avançou o sinal. Com linguajar sinistro, deu a entender que o entendimento jurídico entre os governos do Brasil e de Moçambique se entrelaça com a corrupção investigada pela Operação Lava Jato.
Com este viés, a reportagem associou as
contribuições da Andrade Gutierrez para a campanha de reeleição da presidente
Dilma com a corrupção na Petrobrás.
A reportagem sugere que as contribuições
legais da construtora [que estão na prestação oficial de contas da campanha
Dilma no TSE], poderiam ser “propinas”: R$ 10 milhões em 29/08/2014 e, entre
23/09 e 22/10/2014, mais R$ 10 milhões, num total de R$ 20 milhões.
A revista da Rede Globo foi preguiçosa e irresponsável.
Ou agiu por genuína má-fé.
Ela bem que poderia, ao menos, ter analisado as contas da campanha de Aécio Neves também no site do TSE [ aqui ], na linha imediatamente abaixo daquela onde estão disponíveis as informações da presidente Dilma, de onde a Época extraiu os dados que alimentaram seus delírios para incriminar a campanha petista.
As contribuições da Andrade Gutierrez para o Aécio foram:
R$ 2 milhões [em 01/08/2014]; - R$ 4,2 mi [em 08/08]; - R$ 2 mi [20/08]; - R$
4 mi [29/08]; R$ 9 mi [05/09]; - R$ 1,1 mi [10/09]; - R$ 300 mil [12/09]; - R$ 800
mil [17/09]; - R$ 200 mil [19/09]; - R$ 100 mil [26/09]; - R$ 1 mi [01/10]; - R$ 700
mil [em 03/10]; e R$ 500 mil em 07/10/2014.
No total, a Andrade Gutierrez repassou R$ 25,9
milhões para a candidatura do Aécio; ou seja, R$ 5,9 milhões a mais que o valor
repassado para a campanha da presidente Dilma.
Apesar dos dados oficiais, a Rede Globo constrói
uma narrativa segundo a qual as doações de empresas para a campanha da Dilma
têm origem suja, supostamente originárias da corrupção na Petrobrás; e, ao
mesmo tempo, os repasses das mesmas empresas, feitos no mesmo período, saídas
do mesmo caixa, e, ainda que em valores muito maiores para a campanha do Aécio,
têm origem legal [sic]. Cândido assim!
O delírio da revista Época ganhou pernas nos
demais veículos da família Marinho.
O Jornal Nacional, também da Rede Globo, na
edição de sábado empregou por preciosos minutos o mesmo viés tendencioso e
parcial.
O Jornal O Globo de domingo traz matéria sobre o assunto.
O objetivo desta “denúncia” não tem nada de nobre:
recorta a realidade, seleciona fatos,
lança suspeitas infundadas, desestabiliza a situação política e serve como um
libelo para os interesses tucano-golpistas no TSE, teatro onde Gilmar Mendes se
esbalda no julgamento revanchista das contas da campanha da Dilma.
Os critérios da família Marinho são curiosos.
Para eles, dinheiro bom é o dinheiro da FIFA que sustenta o monopólio das transmissões de jogos de futebol;
dinheiro limpo e honesto foi aquele
conseguido com subserviência e cumplicidade na ditadura civil-militar para
montar o império de comunicações;
dinheiro bom é aquele das dívidas esquecidas
e anuladas pelos governos amigos;
é aquele dinheiro dos lucros obtidos com
concessões vitalícias, ilegais e que nunca são licitadas e renovadas.