FCO.LAMBERTO FONTES
Trabalha em JORNALISMO INTERATIVO
Mora em ARAXÁ/MG
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ATUALIZADO EM
14/02/2016 - 12:39
O condomínio Solaris
pode ter sido
o Riocentro
da Lava Jato
A operação descobriu um elefante - a Mossack
Fonseca - e agora não sabe como escondê-lo para não comprometer os Marinho.
Está
ficando cada vez mais interessante o jogo da Lava Jato.
As novas peças do
tabuleiro mostram uma reviravolta no chamado modus operandi da Lava Jato, uma inversão total da
estratégia original, de cobrir a operação com o manto do legalismo e da
isenção.
Fato 1 – na semana passada, a decisão “inadvertida”
de Sérgio Moro de vazar informações sobre um inquérito supostamente sigiloso
sobre o sítio de Atibaia.
Fato 2 – no rastro da porteira aberta, procuradores
e delegados vazam para a revista Veja a relevante informação sobre as caixas de
bebida de Lula, transportadas de Brasília para o sitio em Atibaia. Ou seja, uma
armação que coloca em risco a imagem de isenção da Lava Jato e que resulta em
um factoide que despertou reação indignada até de juristas inicialmente a favor
da operação, como Walter Maierovitch, um ícone na luta contra o crime
organizado, por meramente ser uma invasão da vida privada de Lula.
Fato 3 – O procurador Carlos Fernando dos Santos, o
mais imprudente dos procuradores da Lava Jato, em entrevista ao Estadão escancara o viés partidário da
operação. “A Força Tarefa Lava Jato ainda pretende demonstrar além de qualquer
dúvida razoável que todo esse esquema se originou dentro das altas esferas do
Governo Federal”.
Se acha assim, que
investigue. Qual a razão para sair apregoando suspeitas?
O bordão anterior de
que “a Lava Jato investiga fatos, e não pessoas” é substituído por insinuações
graves contra as “altas esferas do Governo Federal”, modo pouco sutil de se
referir a Lula.
Qual a razão desse
açodamento? O que teria ocorrido internamente na Lava Jato, para essa mudança
no modus operandi?
Há uma articulação
nítida entre três operações: a Lava Jato, a Zelotes e a do Ministério Público
Estadual de São Paulo. As três visam pegar Lula.
Ao mesmo tempo,
aparentemente houve alguma perda de controle da Lava Jato sobre seus vazadores,
que se comportam como os “radicais, porém sinceros” do regime militar, expondo
questões altamente delicadas no modo de atuação de Moro e seus rapazes.
O caso Solaris
O pepino começou com o
caso Solaris, o edifício que tem o tal tríplex que pretendem atribuir a Lula.
Na investigação sobre
o Bancoop, o MPE de São Paulo já tinha levantado o fato de alguns apartamentos
do edifício estarem em nome de uma lavanderia, a Murray Holding LLC.
A Lava Jato julgou que
estaria ali a pista para pegar Lula já que os apartamentos não vendidos do
Solaris teoricamente deveriam ser de propriedade da OAS. Mesmo já estando sob
investigação do MPE, a Lava Jato se apropriou do tema e tratou de adubar o
terreno com a parceria com veículos, especialmente da Globo.
Acompanhem a
cronologia para entender o pepino que a Lava Jato arrumou para si própria:
27/01/2016 – a Lava Jato vaza para a revista Época (das Organizações Globo) a informação
de que vários apartamentos estavam em nome da Murray Holding, empresa da
holding panamenha Mossack Fonseca. No dia 22 de janeiro, dizia
a matéria, a Polícia Federal captou uma conversa telefônica entre Carolina
Auada e seu pai Ademir Auada, representante da Mossack no qual ele diz estar
picando papéis. Segundo a revista, a queima de arquivos começou depois que a
reportagem tentou entrevistar uma ex-funcionária da Bancoop, Nelci Warken, que
teria transferido imóveis para a Murray (http://glo.bo/1TfPals).
27/01/2016
– chegam à Superintendência da Polícia Federal Ricardo Honório Neto,
Renata Pereira Brito, com prisão temporária decretada. Outras pessoas ligadas à
Mossack não tinham sido encontradas. Segundo a PF, Renata Brito seria
funcionária de confiança da Mossack no Brasil. E Nelci Warken apresentada como
responsável por um tríplex no Condomínio Solaris. A 22a Operação da
Lava Jato mobilizou 80 policiais. Segundo o G1, das Organizações
Globo, “entre os crimes
investigados estão corrupção, fraude, evasão de divisas e lavagem de dinheiro”.
(http://glo.bo/1VcuJ87)
28/01/2016 – o Globo traz uma excelente reportagem
mostrando as ligações da Mossack com ditadores e delatores. Segundo a
reportagem, a Mossack é acusada de financiar ações de terrorismo e corrupção no
Oriente Médio e na África. Na relação de prioridades das polícias mundiais, o
crime de terrorismo ocupa o primeiro lugar. The Economist tratou a empresa como
“líder impressionantemente discreto da indústria de finanças de fachada do
mundo”. Era uma “fábrica de offshores à disposição de empresários e agentes
públicos interessados em ocultar bens no exterior”. Na lista de clientes havia
o ditador sírio Bashar Al-Assad, o líbio Muammar Gaddafi, o presidente do
Zimbabwe Robert Mugabe e três figuras centrais da Lava Jato, Renato Duque,
Pedro Barusco e Mário Goes.
28/01/2016 – No mesmo dia, o DCM publica uma matéria sobre a casa da
família Marinho em Parati (http://bit.ly/1TfQ0yy).
Recupera uma reportagem da Bloomberg de 8 de março de 2012 (http://bloom.bg/242ZsdF).
A
reportagem narra os crimes ambientais da família Marinho.
Duas declarações
chamaram a atenção dos repórteres da Bloomberg:
Da fiscal do CMBio
Graziela Moraes Barros:
“Muitas pessoas dizem que os Marinhos mandam no Brasil.
A casa de praia mostra que a família certamente pensa que está acima da lei”.
De Fernando Amorim
Lavieri, procurador que passou três anos batalhando contra os crimes ambientais
na região: “Os brasileiros ricos conseguem tudo”.
A reportagem pretendia
apenas expor os crimes ambientais dos Marinho.
Mas abriu uma caixa de Pandora,
como se verá a seguir.
29/01/2016 – A revista Época publica matéria alentada dando mais
foco nos negócios nebulosos da Murray. O título já mostrava qual o alvo
perseguido: “Nova fase da Lava Jato mira na OAS, mas pode acertar Lula - MP diz
que todos os apartamentos do condomínio onde ex-presidente tem tríplex
reservado serão investigados” (http://glo.bo/1TfPals).
Segundo a revista, “o
foco na Mossack é outro passo grande dado pela Lava Jato. Criada em 1977 no
Panamá, a Mossack Fonseca tem representações em mais de 40 países. É famosa
pela criação e administração de offshores,
frequentemente usadas como empresas de fachada. O cumprimento do mandado de
busca na sede brasileira da Mossack só se encerrou na quinta-feira – peritos
viraram a madrugada para baixar e-mails e documentos armazenados em serviços de
arquivos virtuais, pelo servidor central da empresa.
A coleta de provas no
local foi igualmente proveitosa.
Além das centenas de offshores nas mensagens e documentos
eletrônicos, os policiais arrecadaram papéis com o nome de clientes, cópias de
passaportes, comprovantes de endereço e nomes da offshore criada. Um pacote
completo.
As apreensões devem motivar algumas centenas de inquéritos e levar a
Operação Lava Jato para um gigantesco canal de lavagem de dinheiro. A apreensão
poderá gerar filhotes por anos”.
Como diriam os garimpeiros, a Lava Jato
“bamburrou” – isto é, descobriu uma verdadeira mina de ouro para suas
investigações.
31/01/2016 – O Estadão reforça as informações sobre a Mossack
Fonseca, informando que autoridades norte-americanas investigam a Mossack por
conta de dois argentinos acusados de desviar dinheiros de estatais argentinas
nos governos Nestor e Cristina Kirchner. Naquele dia, Moro renovou a prisão
temporária de Nelci mas libertou Ricardo Honório Neto e Renata Pereira Brito,
De repente, a Mossack
some do noticiário, que passa a ser invadido por notícias de pedalinho, barcos
de 4 mil reais.
Uma
pesquisa nos sistemas de busca da Folha, Estadão e Globo mostra
que as últimas menções à Murray e à Mossack são de 1o de
fevereiro.
04/02/2016 – O Edifício Solaris sai completamente do
foco da Lava Jato. A Polícia Federal solicita ao juiz Moro para ampliar as
investigações do IPL (Inquérito Policial) que investiga a suposta ocultação de
patrimônio e lavagem de dinheiro da OAS. A solicitação de ampliar o escopo para
outras empresas revelava que havia acontecido algo novo, que fez a Lava Jato
abandonar o tríplex para se concentrar no sítio em Atibaia.
05/02/2016 – Moro manda libertar a publicitária Nelsi
Warken e o empresário Ademir Auada, que havia sido detido sob suspeita de estar
destruindo documentos. A justificativa de Moro é surpreendente:
"Apesar do
contexto de falsificação, ocultação e destruição de provas, (...) na qual um
dos investigados foi surpreendido, em cognição sumária, destruindo quantidade
significativa de provas, a aparente mudança de comportamento dos investigados
não autoriza juízo de que a investigação e a instrução remanescem em
risco", escreveu ele ao justificar a soltura (http://bit.ly/2430pmr).
Ora, a possibilidade de queima de arquivos e de atrapalhar as investigações
foram o mote para a manutenção de todas as prisões preventivas. Como abre mão
desse argumento justamente para um sujeito flagrado eliminando documentos? E
aceita a tese da "aparente mudança de comportamento dos investigados"
para liberta-lo.
A justificativa colide
com informações da própria Lava Jato repassadas à revista Época: “Clientes da
panamenha Mossack Fonseca vão ser investigados para averiguar se faziam parte
do esquema de corrupção na Petrobras ou se cometeram outros
crimes. (...) A empresa panamenha Mossack Fonseca também foi alvo de
buscas, porque foi ela quem criou a offshore Murray. Mas representantes da
Mossack Fonseca atrapalharam os policiais e deletaram arquivos guardados na
nuvem da empresa”.
Á luz das informações
divulgadas até então, não havia lógica na decisão de Moro.
09/02/2016 –
No dia 4 Moro autorizou a PF a ampliar a
investigação do sítio em Atibaia, que deveria ser sigilosa.
No dia
9 o próprio Moro
liberou “inadvertidamente” a informação e os dados do novo inquérito.
11/02/2016 - Excepcional reportagem de Renan Antunes de
Oliveira para o DCM (http://bit.ly/1U0KQHk),
onde pela primeira vez levanta o nome da Agropecuária Veines, proprietária
legal da mansão e da praia dos Marinho.
12/02/2016 – reportagem de Helena Sthephanowitz, no RBA (Rede Brasil Atual), que pega a dica
da Veine e informa que a mansão dos Marinho, em Paraty, é de propriedade de uma
offshore, a Vaincre LLC, controlada pela mesma Murray Holdings LLC, a empresa
dona dos apartamentos em Guarujá (http://bit.ly/1SoRhEw) e
que pertence à Mossack Fonseca.
13/02/2016 – o Viomundo, do Luiz
Carlos Azenha, completa a informação com um levantamento minucioso das ligações
da Mossack Fonseca com a mansão dos Marinho em Paraty (http://bit.ly/1SoRnMA).
Era a peça que faltava
para entender esses movimentos erráticos da Lava Jato. Aparentemente foi para
impedir que viessem à tona os atropelos dos Marinho com a Mossack Fonseca.
O procurador Carlos
Fernando e seus colegas, os delegados federais e o juiz Sérgio Moro trocaram a
possibilidade de desvendar o submundo da lavagem de dinheiro no país pelos
móveis que a OAS comprou para o sítio de Atibaia. Pois, como enfatiza o
procurador, a Lava Jato não investiga pessoas, mas fatos.
Em recente entrevista
ao Globo, o procurador
Carlos Fernando desabafou: “Sempre soubemos que a longo prazo as elites vão
se compor de maneira a reduzir os prejuízos que tiveram com essas
operações”.
O desfecho do caso Mossack Fonseca é um belo CQD (Como Queríamos
Demonstrar).
Como não existe nada
perfeito, assim como no caso do Riocentro a Lava Jato liberou seus radicais
para explodir petardos em Guarujá.
Por açodamento, explodiram em Paraty.
No Riocentro, o
coronel Job conseguiu montar um inquérito isentando a todos.
Em tempo de redes
sociais, impossível.
CORRELAÇÃO DOS FATOS:
Atentado do Riocentro é o nome pelo qual ficou conhecido um frustrado ataque a bomba que seria perpetrado no PavilhãoRio centro, no Rio de Janeiro, na noite de 30 de abril de 1981, por volta das 21 horas, quando ali se realizava um show comemorativo do Dia do Trabalhador, durante o período da ditadura militar no Brasil.
As bombas seriam plantadas pelo sargento Guilherme Pereira do Rosário e pelo então capitão Wilson Dias Machado, hoje coronel, atuando como educador no Colégio Militar de Brasília. Por volta das 21:00 Horas, com o evento já em andamento, uma das bombas explodiu dentro do carro onde estavam os dois militares, no estacionamento do Rio centro. O artefato, que seria instalado no edifício, explodiu antes da hora, matando o sargento e ferindo gravemente o capitão Machado.
Na ocasião o governo culpou radicais da esquerda pelo atentado. Essa hipótese já não tinha sustentação na época e atualmente já se comprovou, inclusive por confissão, que o atentado no Rio centro foi uma tentativa de setores mais radicais do governo (principalmente do CIE e o SNI) de convencer os setores mais moderados do governo de que era necessária uma nova onda de repressão de modo a paralisar a lenta abertura política que estava em andamento.