segunda-feira, 4 de março de 2013


novojornal    Publicado em 04/03/2013

MORRENDO DE SILÊNCIO

Por Geraldo Elísio

“Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados”. - 
Millôr Fernandes

A crônica de uma morte anunciada tem se revelado com o declínio da revista Time e outros grandes meios da mídia impressa. Se em Manhattan o prédio da Time Life, modelo para muitas outras publicações, é hoje um império fracionado, o mesmo fenômeno se repete em torno do mundo. Em Minas Gerais, digamos as mídias morrem de silêncio, ignorando a internet e desapercebendo, inclusive os governantes que não dá mais para esconder do público aquilo que, em vez de divulgar eles tentam encobrir. Ou seja, o sonho de que um dia possa circular edições apenas com pequenos anúncios e fotos de sorridentes pessoas a participar de festinhas nas colunas sociais começa a se transformar em pesadelo.
A migração para o digital tem ocorrido de forma mais rápida do que se pensa e tais empresas descobriram muito cedo o novo filão do entertainment e para este nicho estão se mudando. No Brasil um aspecto visível do fenômeno que ocorre é não vermos mais nas ruas grupamentos de pessoas paradas em frente a uma banca de jornais lendo as manchetes do dia. Primeiro por já terem visto na televisão ou escutado no rádio, ambos os veículos com uma mobilidade nunca dantes vista. Segundo pela falta de profundidade das matérias estampadas – questão que já começa a afetar também a mídia eletrônica – levando os consumidores a buscar a verdade na internet.
Os semi oficiosos perdem cada vez mais espaço ao ignorar regras básicas do jornalismo, criando um outro problema paralelo a envolver as escolas de comunicação. Claro, o jornalismo não irá acabar, mas do que nunca o mundo precisa de informação. Mas que tipo de formação está sendo oferecida às novas vocações de jornalistas, principalmente repórteres, diante da realidade que se apresenta. Por atrelamento aos interesses econômicos dos veículos quer seja da mídia impressa ou eletrônica no Brasil, e em especial Minas Gerais, apenas ganham destaque notícias envolvendo o crime e assim mesmo vistas de uma ótica desfocada onde os ditos marginais arcam com todo o peso em detrimento dos policiais que combatem o crime e razões sociológicas que produzem tal quadro. Traduzindo, alguém que se enquadre na figura jurídica do furto famélico – por exemplo um pão – ganha notoriedade de perigo social enquanto os colarinhos brancos e de olhos azuis são vistos num primeiro momento pelo viés da indignação para logo em seguida serem mergulhados no caldo de cultura da condescendência.
Os mais recentes congressos internacionais de jornalismo têm mostrado que na América Latina cresce o número de sites e blogs com um alto grau de informações confiáveis aliadas à interatividade popular, principalmente na fiscalização de assuntos governamentais e outros igualmente polêmicos e perigosos, mas tornando perigoso igualmente para os praticantes de ilícitos a sua ação fora da Lei.
O resultado é que um bom trabalho jornalístico hoje pode ser feito com redações pequenas e a baixo custo diante das facilidades que o mundo da blogosfera oferece. Talvez por esta razão e impulsionados pelo real time vigente na internet os meios tradicionais de comunicação de massa estão ascendendo para o novo suporte, mas não estão sabendo se desvencilhar dos velhos vícios para obter a mesma eficiência dos novos padrões comportamentais.
Por outro lado como sempre ocorre em relação aos produtos eletrônicos, a tendência dos mesmos é cada vez se popularizar mais em termos de aquisições. Basta dizer que um cidadão hoje pode se tornar muito bem informado via celular. Mas os políticos com as suas viseiras ainda vêm isto com desdém aferrados que estão a costumes emblemáticos como o de frau Andréa Goebbels ou “Mãos de Tesoura”, em Minas Gerais. Enquanto floresce um boom do crescimento dos sites e redes sociais as mídias tradicionais apenas se aproveitam disto para aplicar a velha fórmula: “Para publicar custa “x” e para não publicarmos custa “x + y”, mas sem dar oportunidades aos pagantes de perceber que cada vez é mais restrito o custo do silêncio ou o abafado grito para se obter elogios. Evidente, no computo geral quem ganha é o público e isto é muito bom.
Talvez este conjunto de enunciados explique a razão pela qual os dez principais programas da Rede Globo de Televisão têm apresentado significativas quedas de audiência no Ibope, provocando mudanças significativas na Venus Platinada ao início deste ano. E nem é verdade que as pessoas assistem às programações globais na internet. Confúcio, alguns milênios antes de Cristo já dizia que uma imagem vale por mil palavras. Tal exemplo é mais do que significativo.

Herói


O polêmico cineasta Michael Moore não teve dúvidas em afirmar: “Comprovado: Bradley Manning é herói”, tão logo tomou conhecimento de que o soldados os EUA no primeiro dia do seu julgamento em corte marcial  admitiu oficialmente ter feito os vazamentos para os WikiLeaks, destacando-se entre eles o vídeo do helicóptero Apache a partir do qual, por engano soldados americanos  mataram civis iraquianos, inclusive quem se prontificou a socorrer as feridos, insultando as Leis de Genebra que preveem crimes de guerras
Manning aceitou dez das 22 acusações, mas negou a principal delas: ter ajudado o inimigo. É um crime passível de prisão perpétua. As acusações que ele admitiu podem lhe dar 20 anos de cadeia. Mas ainda haverá muitos movimentos. A promotoria deve insistir na tese de que o inimigo foi ajudado.
O soldado Manning alegou em sua defesa que pretendeu estimular o povo norte americano a discutir melhor a política externa do seu país, visto o debate ter ganhado o mundo. Confirmando aspectos acima expostos neste editorial Bradley Manning  antes de contatar Julian Assange, líder dos WikiLeaks, em seu primeiro dia de julgamento trouxe revelações alarmantes sobre imprensa dos EUA: tentou primeiro o New York Times e o Washington Post mas ninguém lhe deu ouvidos. Quem fez e entrou para a história foi o WikiLeaks, o que leva a mídia americana a debater esta barrigada. Manning ao expor um dos horrores do mundo moderno, a Guerra do Iraque, deflagrada a partir do falso argumento de ADMs – Armas de Destruição em Massa – inexistentes é de fato um herói. Maior que Barack Obama, o Premio Nobel da Paz que deflaga guerras e despeja drones como se fosse ele o senhor da vida e da morte. Esperamos que Michael Moore, com o seu talento faça um filme bem elucidativo.

Este espaço é permanentemente aberto ao democrático direito de resposta a todas as pessoas e instituições aqui citadas.

geraldo.elisio@novojornal.com