quinta-feira, 7 de março de 2013


novojornal    Publicado em 07/03/2013

A ADEMG INFORMA, SAI O IBAD ENTRA O MILENIUM


Por Geraldo Elísio
“Errar é humano o que não se pode é persistir no erro” – Ditado popular brasileiro.

Péssimo aluno em matemática, física, aplicação pura da matemática, química e afins, sempre gostei da história e da geografia. Em razão disto tenho um bom acervo de fitas gravadas, documentos importantes, fotos e é lógico a memória de algumas décadas de trabalho, razão pelo qual estou escrevendo um livro de minhas memórias profissionais. E ao manusear documentos, reli dois livros importantes “1964: A Conquista do Estado”, editora Vozes, em 1981, do cientista político e professor da UFMG. Renê Armande Dreifuss, e “Os Novos Inconfidentes” da igualmente historiadora, pesquisadora e professora da UFMG Heloisa Maria Murgel Stharling. Ambos abordam as atuações do Instituto de Pesquisas Sociais – IPES – e Instituto Brasileiro de Ação Democrática – IBAD – no período que antecedeu e durante o golpe civil militar de 64.
O IBAD foi objeto de uma Comissão Parlamentar de Inquérito instalada no âmbito da Assembleia Legislativa de Minas Gerais sob a acusação de financiar, inclusive com dinheiro estrangeiro, a eleição de parlamentares anticomunistas de todas as esferas do Poder. Entretanto, somente parte da documentação pode ser encontrada na área de registro documental da Assembleia de Minas, sendo que vários depoimentos importantes misteriosamente desapareceram.
A ocasião do manuseio da minha documentação pessoal me fez lembrar igualmente de matéria publicada pelo colega jornalista Leandro Fortes, na revista “Carta Capital”, focalizando o Instituto Milenium, com todo o desenho de ser um “Ibadão”, criado em 1º de março de 2010 em uma reunião de milionários em luxuoso hotel de São Paulo com aplausos gerais da mídia. Chamado Fórum Democracia e Liberdade de Expressão, o primeiro propósito foi o de “luta da civilização ocidental contra o ateísmo comunista e subversão dos valores cristãos”, hoje em crise com a renúncia do Papa Bento XVI. Segundo Leandro Fortes, o evento teve como anfitriões três dos maiores grupos de mídia nacional: Roberto Civita, dono da Editora Abril, Otávio Frias Filho, da Folha de S.Paulo, e Roberto Irineu Marinho, da Globo.
Foi a primeira manifestação do Milenium que tem em seus quadros o célebre Pedro Bial, apresentador do Big Brother Brasil, um programa de futilidades que funciona como uma espécie de criatório para a produção de modelos nuas de consumo masculino, o que condiz pouco com o princípio de “luta da civilização ocidental contra o ateísmo comunista e subversão dos valores cristãos”.
“Millenium funda seus princípios na liberdade dos mercados e no medo do “avanço do comunismo”, hoje personificado nos movimentos bolivarianos de Hugo Chávez, Rafael Correa e Evo Morales. Muitos de seus integrantes atuais engrossaram as marchas da família nos anos 60 e sustentaram a ditadura. Outros tantos, mais jovens, construíram carreiras, principalmente na mídia, e ganharam dinheiro com um discurso tosco de criminalização da esquerda, dos movimentos sociais, de minorias e contra qualquer política social, do Bolsa Família às cotas nas universidades”.
Em uma das reuniões, o “democrata” Arnaldo Jabor arrancou aplausos da platéia ao bradar: “A questão é como impedir politicamente o pensamento de uma velha esquerda que não deveria mais existir no mundo?” Isso, como? A resposta é tão clara como a pergunta: com um golpe”. Arnaldo Jabor é reconhecidamente o único rebelde a favor.
No mesmo evento brilhou ainda Marcelo Madureira, do Casseta & Planeta, “outro exemplo dignificante de “luta da civilização ocidental contra o ateísmo comunista e subversão dos valores cristãos”.
“O símbolo do Millenium é um círculo de sigmas, a letra grega da bandeira integralista”. Meio empresa, meio quartel, o Millenium funciona sob uma impressionante estrutura hierárquica comandada e financiada por medalhões da indústria.  O instituto ganhou este nome em dezembro de 2009 após ser qualificado como Organização Social de Interesse Público (Oscip) pelo Ministério da Justiça. “Bem a tempo de se integrar de corpo e alma à campanha de José Serra, do PSDB, nas eleições presidenciais de 2010”, informou em seu artigo o jornalista Leandro Fortes.  Entre outros jornalistas, o conservador José Neumâne e Euripedes Alcântara, da revista “Veja”, “pregador” de teses marxistas em seu início de carreira na Sala de Imprensa da Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Empresas como a Gerdau, a Localiza (maior locadora de veículos do País) e a Statoil, companhia norueguesa de petróleo são mantenedoras do grupo, entre os máster aparecendo a Suzano, gigante nacional de produção de papel e celulose. No chamado “grupo de apoio” estão a RBS, o Estadão e o Grupo Meio & Mensagem.
“Há ainda uma lista de 25 doadores permanentes, entre os quais, se incluem o vice-presidente das Organizações Globo, João Roberto Marinho, o ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga e o presidente da Coteminas, Josué Gomes da Silva, filho do falecido empresário José Alencar da Silva, vice-presidente da República nos dois mandatos de Lula. O organograma do clube da reação possui também uma “câmara de fundadores e curadores” (22 integrantes, entre eles o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco e o jornalista Pedro Bial), uma “câmara de mantenedores” (14 pessoas) e uma “câmara de instituições” com nove membros. Gente demais para uma simples instituição sem fins lucrativos.
Sempre entre os astros especialmente convidados para eventos estão Marcelo Tas, da Band, e Diogo Mainardi e Reinaldo Azevedo, ambos de “Veja”. Josué está sendo cotado pelo PMDB de Minas como candidato à sucessão de Anastasia. Não sei se vale a penas instalar no Congresso Nacional uma Comissão Parlamentar de Inquérito, cujos papéis não venham a desaparecer ou aguardar que em alguma esquina do futuro outrol René Armand Dreifuss e outra Heloisa Maria Murgel Stharling voltem a contar a repetição da história trocando apenas os nomes, datas e lugares.
Este espaço é permanentemente aberto ao democrático direito de resposta a todas as pessoas e instituições aqui citadas.