quinta-feira, 7 de março de 2013

novojornal    Publicado em 07/03/2013

CARA A CARA COM A HISTÓRIA

Geraldo Elísio escreve no "Novojornal". Prêmio Esso Regional de jornalismo, passado e presente embasam as suas análises


Por Geraldo Elísio
“Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. Mas, no que respeita ao universo, ainda não adquiri a certeza absoluta”. - Albert Einstein

Em setembro de 2007, Naomi Klein, jornalista e ativista canadense, publicou o livro “The Shock Doctrine: The Rise of Disaster Capitalism”, em português “A Doutrina do Choque: a Ascensão do Capitalismo de Desastre”, no qual descreveu como as empresas aproveitam dos desastres naturais, das guerras ou outros choques culturais para avançar políticas de liberalizações econômicas. Isso produz empobrecimento das populações, enriquecimento de uma minoria de capitalistas sem escrúpulos e, normalmente, tumultos, os quais o governo apaga com o uso da força. Naomi Klein descreve os procesos com o auxílio de exemplos: o Chile do Pinochet, o Brasil e a Argentina das ditaturas militares, a China das repressões depois dos tumultos da Praça da Paz Celestial.
O trabalho realizado pelo diretor do Novojornal, Marco Aurélio Carone, “A Batalha Final: The Bildeberger Group”, em conjunto com o norte-americano Jim Tucker, segue uma linha na mesma direção a de Klein, evidenciando uma feroz batalha entre ricos e pobres cujo primeiro enunciado dele tomei conhecimento por volta de 1975 ao ler o livro “A Trilateral e a Nova Ordem do Capitalismo Mundial”, de autoria de Teotônio dos Santos, Hugo Assmann e Noan Chonsky. Já se previa a falência das ideologias e o confronto direto entre ricos e pobres.
A queda do Muro de Berlim e o esfacelamento da antiga União Soviética serviu, assim como uma espécie da gás hilariante, para os seguidores do célebre Milton Friedman, para quem os pobres nem mesmo deveriam ter nascido, e Francis Fukuiama que não teve pejo em escrever que “a história acabou”. Entretando, outros fatores surgiram a desmentir Fukuyama e a se contrapor a Friedman no empenho deles com forte adesão da mídia comprada e assustada com a perda de seu antigo domínio, face aos sites, blogs e redes sociais.
A morte do coronel Hugo Chávez, talvez a última contribuição dele à história tem mostrado isto de forma evidente. Multidões incalculáveis choram nas ruas de Caracas a perda do líder. Até onde a história e a experiência nos ensinam, um povo não ama ditadores e de acordo com o sábio chines Confúncio, uma imagem vale por mil palavras. E as imagens que as agências noticiosas divulgam a partir da capital da Venezuela são indicativas de um lamento pela perda de um dirigente que se preocupou com o nacionalismo e optou por contrariar 5% dos extremamente ricos e 25% da classe média de seu país, sem se submeter a nenhum tipo de escândalo, optando por melhorar as condições de vida de 75% dos pobres e miseráveis.
Algum internauta mais afoito pode atribuir a mim tendências favoráveis a Hugo Chávez, eleito pelo voto popular e não um ditador como sempre quiseram fazer crer os mal intencionados. Porém, não acredito que possa existir algum internauta que vá dizer que o ex-presidente Jimmy Carter, dos Estados Unidos da América do Norte, é um marxista convicto ou no mínimo um socialista militante. E é exatamente Carter quem diz:
“Rosalynn (a esposa dele) e eu estendemos nossas condolências à família de Hugo Chávez Frías. Nós conhecemos Hugo Chávez quando ele estava em campanha para presidente em 1998 e o “Centro Carter” foi convidado para observar as eleições pela primeira vez na Venezuela. Voltamos muitas vezes, para as eleições de 2000, e depois para facilitar o diálogo durante o conflito político de 2002-2004. Nós viemos a conhecer um homem que expressa uma visão de mudanças profundas ao seu país para beneficiar principalmente as pessoas que se sentem abandonados e marginalizados. Apesar de não ter concordado com todos os métodos seguidos por seu governo, nunca se duvidou do compromisso de Hugo Chávez em melhorar as vidas de milhões de compatriotas seus companheiros.
Presidente Chávez será lembrado por sua afirmação ousada de autonomia e independência para os governos da América Latina e por suas habilidades de comunicação formidáveis e conexão pessoal com simpatizantes em seu país e no estrangeiro, a quem ele deu esperança e capacitação. Durante seu mandato de 14 anos, Chávez ingressou outros líderes da América Latina e do Caribe para criar novas formas de integração. Taxas de pobreza venezuelanas foram cortadas ao meio, e os milhões recebidos documentos de identificação para a primeira vez que lhes permite participar mais eficazmente na vida econômica e política do seu país.
Ao mesmo tempo, reconhecemos as divisões criadas na unidade para a mudança na Venezuela e da necessidade de reconciliação nacional. Como os venezuelanos, lamentamos o falecimento do presidente Chávez e recordamos seus legados positivos – especialmente os ganhos obtidos para os pobres e vulneráveis – Esperamos que, os líderes políticos do país avancem com a construção de um novo consenso que garanta a igualdade de oportunidades para todos os venezuelanos para participar de todos os aspectos da vida nacional. (sic)” Li a manifestação de Carter no blog do jornalista Paulo Henrique Amorim e entendi ser valiosa a ampliação desta divulgação.
Anteriormente já escrevi que chamar o coronel Hugo Chávez de bolivarista com conotações pejorativas, ou é um equívoco disparatado ou propositadamente mal intencionado. O mínimo que alguns historiadores dizem de Simón Bolívar, o Libertador, é que ele é o George Washington da América do Sul.
Enquanto isto o neoliberalismo de Milton Friedman, que tem os seus inúmeros seguidores no Brasil aninhados na “Casa das Garças”, insistem em não ver o fracasso de sua doutrina varrer a Grécia, a Espanha, Portugal e Itália, chegando agora a vez da França, com uma taxa de desemprego superior a 10%. A segunda potência do euro finalizou 2012 com uma taxa superior a 3 milhões de desempregados, segundo o jornal espanhol “El País”. O triste é que este desemprego atinge em sua maioria os jovens.
É de se pensar qual o modelo a seguir. O implantado por Hugo Chávez, prateado nas ruas de seu país pelo seu povo ou o aconselhado pelo ministro das finanças do Japão, Taro Aso recomendando que em nome do patriotismo os velhos daquela nação abram mãos de cuidados médicos que ampliem a sua taxa de sobrevida. Até agora não me consta que Taro Aso, de 75 anos de idade tenha feito o haraquiri.
Este espaço é permanentemente aberto ao democrático direito de resposta a todas as pessoas e instituições aqui citadas.