segunda-feira, 18 de março de 2013


novojornal    Publicado em 18/03/2013

Aécio Neves já é acusado de Malufar


Por conquistar de maneira heterodoxa seu partido para disputar à presidência em 1985, Maluf provocou êxodo partidário dando a vitória a Tancredo

Os métodos adotados pelo então candidato à Presidência da República Paulo Maluf para conseguir a hegemonia em seu partido, a Arena, acabou obrigando seus opositores a abandonar a sigla, montando uma dissidência que depois se consolidaria no PFL, viabilizando a eleição de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral.
Naquela época, aviões carregados de dinheiro viajaram pelo País e diversos cargos em empresas públicas foram loteados nos diversos Estados, para garantir nas convenções estaduais e posteriormente na nacional do partido a vitória de seus apoiadores, viabilizando sua indicação como candidato da Arena à Presidência da República.
A vitória de Tancredo só foi possível devido os votos dos integrantes do Colégio Eleitoral que, discordantes do método adotado, viram em Tancredo a imagem de antítese de Maluf. Imagem igualmente passada para a opinião pública.

Ao contrário de seu avô Tancredo, Aécio vem desde 2004 adotando o mesmo método de Maluf para conquistar sucessivas vitórias nos diversos diretórios estaduais do PSDB, através da entrega de cargos a lideranças partidárias regionais nas diversas empresas do Governo de Minas, principalmente subsidiarias da CEMIG fundadas sem qualquer razão ou viabilidade econômica nos diversos Estados do País.
Totalizam hoje 120 empresas, apenas as pertencentes à CEMIG, com media de 6 cargos de diretoria e 12 no conselho de administração e fiscal em cada, são 2160 cargos considerados de primeiro escalão e com remuneração mínima de  R$ 10 mil reais, ocupados  por indicação de lideranças do PSDB e a políticos derrotados do partido nos diversos Estados.
Calcula-se que em troca da maioria nos diretório, são gastos mensalmente pela CEMIG R$ 21.600 milhões, arrecadados através da mais cara tarifa do País, cobrada da população e empresas mineiras para manter empresas deficitárias como a Light no Rio de Janeiro, onde um diretor chega a receber R$ 60 mil reais por mês.
Na direção da Light estão o ex-deputado Raul Jungmann, de Pernambuco, José Carlos Aleluia, da Bahia, o engenheiro David Zylbersztajn, ex-genro de Fernando Henrique Cardoso.
Não por outro motivo que Aécio Neves lutou contra a redução na tarifa de energia adotada pelo Governo Federal, pois reduziria a arrecadação da CEMIG, inviabilizando o pesado e oneroso esquema montado. Em seu gabinete, em Belo Horizonte, Andréa Neves, irmã de Aécio, administra a distribuição destes cargos.
No final de Janeiro instalou-se enorme pânico ao se descobriu que o sistema de informática que atende Andréa contendo estas informações tinha sido invadido com a retirada de um relatório. Após apuração, constatou-se que o acesso teria partido da Secretaria da Fazenda. No meio político é dado como certo a divulgação deste relatório.
A prática adotada nos conselhos e diretoria das empresas subsidiária da CEMIG repete-se nos diversos cargos de escalões inferiores onde ninguém é nomeado sem indicação política. Também os conselhos de outras empresas estatais de Minas Gerais abrigam lideranças e parentes de caciques do PSDB onde a área de licitação e compras é orientada a atenderem preferencialmente as empresas financiadoras da máquina partidária do PSDB.

Em síntese, Aécio Neves vem a quase dez anos financiando a tomada de Poder no PSDB visando beneficiar e facilitar sua carreira política com o dinheiro do Governo do Estado de Minas Gerais. Trata-se da mesma “esperteza” política adotada por Paulo Maluf, o que lhe rendeu ter seu nome como sinônimo de corrupção e Malufar transformou-se em verbo de levar vantagem indevida, roubar
Fruto da insatisfação com este comportamento heterodoxo de Aécio, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, disse ao senador mineiro que discorda do seu projeto de assumir o controle do PSDB neste ano para preparar o lançamento de sua candidatura presidencial em 2014.
Na terça-feira passada, Alckmin manifestou sua discordância num jantar no apartamento de Aécio em Brasília, na frente de outros cinco governadores tucanos e dos principais dirigentes da sigla.
Alckmin afirmou que Aécio "não precisaria" presidir o PSDB para se viabilizar como candidato e sugeriu que a projeção que ele ganharia no cargo seria prejudicial para suas aspirações presidenciais, ao colocá-lo em atrito permanente com o governo.
Reféns das estruturas partidárias em seus Estados, nenhum outro governador concordou com Alckmin durante o jantar, mas o episódio serviu para expor aos participantes da reunião as dificuldades que Aécio encontrará para unir o partido em torno de seu projeto político. Nos bastidores são unânimes em denunciar o método adotado por Neves para dominar o partido através do chamado “Grupo Mineiro”.
A escolha de Aécio como presidente do PSDB é considerada por seus aliados uma etapa essencial desse projeto, e nos próximos dias eles farão uma nova ofensiva para tentar vencer as resistências dos tucanos paulistas. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o mais entusiasmado cabo eleitoral de Aécio dentro do partido, marcou um encontro com Alckmin neste fim de semana.
Aliados do governador estão incomodados com a centralização das decisões no PSDB por aliados de Aécio e dizem que Alckmin gostaria de ser consultado antes que a sigla definisse sua estratégia. Fernando Henrique quer ouvir os argumentos do governador e vai pedir sua ajuda para apaziguar as relações de Aécio com o ex-governador José Serra, um antigo desafeto do senador mineiro.
Aécio tem procurado ampliar os contatos com o PSDB paulista e telefonou para Serra que não o atendeu. O senador mineiro esperava encontrar Serra num evento partidário marcado para o próximo dia 25 na capital paulista, mas Serra mandou avisar que estará fora do país, e Aécio resolveu então antecipar a conversa. A convenção nacional do PSDB está marcada para 19 de maio.
Aliados de Serra dizem que ele não apoiará a candidatura de Aécio e poderá até abandonar o PSDB se seu grupo não ganhar cargos na burocracia partidária com a renovação da sua direção.
O isolamento poderia ainda levar Serra a trocar o PSDB pelo PPS, sigla que o apoiou em eleições anteriores e agora aponta para a possibilidade de embarcar na caravana do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB).
Na semana passada, Serra disse a interlocutores que não pretende negociar cargos no partido em troca de apoio a Aécio. Ele também afirmou que é "pequena" a possibilidade de deixar o PSDB, mas ressaltou que não há nenhuma decisão tomada.
O Estado de S.Paulo deste domingo informa que o ex-governador José Serra (SP) negou haver um mal-estar entre ele e o senador Aécio Neves (MG), provável candidato do PSDB à Presidência, e afirmou que jamais exigiu cargos na direção do partido para apoiar a candidatura do mineiro.
Porém, reafirmou à reportagem publicada na edição do Estado deste sábado que informara que Serra ameaçou deixar o PSDB caso não tivesse direito a espaço na direção partidária. Três parlamentares tucanos foram ao Congresso ao longo da semana e pediram o cargo de presidente da legenda para o ex-governador, em seu nome.

Malufar: Verbo derivado das ações do político Paulo Maluf. O supra-sumo da Lei de Gérson aplicado à gestão pública. Neologismo que significa esperteza, no pior sentido, a malandragem mais descarada, a roubalheira associada ao empreendedorismo do político. É o salvo-conduto para a safadeza.