terça-feira, 23 de abril de 2013

Publicado em 22/04/2013
Refém da “Gangue dos Castros”
 governo monta farsa no 
Vale do Aço
Governo mineiro está imobilizado pela “Gangue dos Castros”, após receber dossiê com provas da participação de Aécio Neves em crimes desde 1983

Por Marco Aurélio Carone
O esquema criminoso montado pelo secretário de governo do Estado de Minas Gerais, Danilo de Castro, denominado “Gangue dos Castros”, que vinha sendo noticiado apenas por Novojornal há mais de seis anos, finalmente começa a ganhar destaque na imprensa nacional após o assassinato de dois jornalistas, no Vale do Aço.
Porém, operando há mais de uma década junto aos diversos Poderes e instituições do governo mineiro, a organização criminosa detém hoje quase que as totalidades do comando das Polícias Civis e Militares, do Ministério Público e Tribunal de Justiça, além de maioria quase que absoluta na Assembleia Legislativa e no Tribunal de Contas de Minas Gerais.
Desta forma, tornando praticamente impossível qualquer punição de seus membros, principalmente da cúpula das instituições. Diante desta realidade o governo mineiro, de maneira surpreendente com o aparente consentimento do Secretário de Defesa Social, Rômulo Ferras, conhecido anteriormente por sua lisura, como integrante do MPMG, optou por dar satisfação à mídia e à população, através da prisão dos integrantes de menor importância no esquema criminoso, provocando uma enorme insatisfação de seus colegas.
“Estão escolhendo a dedo os peixes pequenos para serem sacrificados, para livrar a cara dos tubarões, a exemplo do que ocorreu no TJMG, onde um funcionário que recebia ordens foi entregue aos leões para salvar quase uma dúzia de desembargadores, verdadeiros culpados pelo esquema de corrupção denunciado”, afirma a correspondência encaminhada ao Novojornal.
Acompanha a correspondência uma cópia do dossiê entregue, segundo informado na mesma, através de Danilo de Castro ao governador Antonio Anastasia, são 1.626 páginas, contendo cópia de sentenças, inquéritos, certidões, perícias, fotos, boletins de ocorrências, autos de apreensões de documentos e drogas.
Em outra parte da correspondência é denunciada a participação de delegados que,segundo informado no documento, foram promovidos a secretário de segurança por manter na gaveta inquéritos que apuravam a participação de diversas autoridades mineiras, dentre elas o ex-governado e atual senador Aécio Neves em crimes, ocorridos de 1983 até os dias de hoje. 
Novojornal, contudo apurou que o dossiê fora elaborado pela considerada “velha guarda”, da Polícia Civil, insatisfeita com o caminho tomado pela corporação. 
O dossiê mostra o que sempre foi de conhecimento de um pequeno grupo do Poder Judiciário, Ministério Público e da área de segurança pública em Minas Gerais o lado escuro do ex-governador e atual senador Aécio Neves, que introduziu hábitos e costumes na sociedade mineira que governou por oito anos, capazes de constranger até mesmo quem o acompanha politicamente.
Fruto de uma década de omissão e convívio com a criminalidade, o Governo de Minas encontra-se imobilizado, frente à cobrança nacional e internacional de medidas enérgicas no combate do que na verdade foi e ainda é seu pilar de sustentação política montado por Danilo de Castro, principal articulador do grupo, junto à Assembléia Legislativa, ao Poder Judiciário, Ministério Publico, Polícia Militar e Civil.
Evidente que dentro das corporações envolvidas ainda existem membros que resistiram e foram afastados por este motivo e podem agora servir a sociedade mineira promovendo o expurgo dos maus integrantes, porém, desde que, a exemplo do ocorrido no Rio de Janeiro, respaldados pelo Ministério da Justiça, Polícia Federal, pela Força Nacional de Segurança Publica e até mesmo pelo Exercito Nacional, pois os principais cargos de comando na Polícia Civil e Militar, no Ministério Publico e Tribunal de Justiça de Minas Gerais encontram-se hoje ocupados por integrantes do grupo criminoso.
Sabidamente liderados no Estado pelo secretário do Governo de Minas Gerais, Danilo de Castro e na região do Vale do Aço pelo Secretário Alexandre Silveira, o grupo criminoso é formado por juízes, desembargadores, promotores, procuradores, membros de alta patente da Policia Militar e delegados da Polícia Civil. Não apenas por cabos, tenente, sargentos, agentes e outros servidores menores da Polícia Civil como o Governo mineiro que mostrar. 
Segundo a mesma correspondência diante da ameaça de prisão e “abandonados por seus companheiros”, em represália pretendem levar consigo outras autoridades.  Como informado o relatado vai de participação em venda de sentenças, assassinatos, assaltos, fraudes, proteção de assaltantes e traficantes de drogas inclusive dentro do sistema prisional de Minas Gerais.
Uma semana antes de morrer, o jornalista Rodrigo Neto apresentou, para a Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de Minas Gerais, uma relação de crimes em Ipatinga e outras cidades da região. Nela estão os nomes dos assassinos.
Novojornal teve acesso e divulga com exclusividade o relatório do Comitê Rodrigo Neto que traz os principais crimes que se encontravam sendo analisados pelo jornalista pouco antes de sua morte.  Sobre um dos crimes, o relativo ao assassinato do soldador Natanael Alves de Abreu, 26 anos, Rodrigo Neto tinha publicado no Novojornal matéria, que já previa o que iria ocorrer, Após publicação desta matéria assim com outras a este respeito,  por determinação do TJMG as mesmas foram retiradas.
Na Assembléia, quando Aécio Neves era governador, um deputado deu um tapa na cara de uma jornalista diretora da Assessoria de Imprensa Parlamentar. Um coronel da guarda do governador fez uma jovem jornalista ajoelhar, com um revólver engatilhado na cabeça.
O presidente da Comissão dos Direitos Humanos da Assembléia Legislativa, deputado Durval Ângelo, apontou a participação de um juiz no extermínio de jornalistas no Vale do Aço, porém indaga-se porque o mesmo não traz a público seu nome e a íntegra do depoimento prestado pelo jornalista Rodrigo Neto na comissão?
A situação é grave e vai além da necessidade de se fazer a justiça tão rogada pelos familiares e pelos amigos dos dois profissionais mortos; assim como no caso Tim Lopes, quando traficantes cariocas popularizaram o termo “micro-ondas”, estamos diante de um verdadeiro atentado à liberdade de imprensa e à democracia.
Mesmo com a instituição comprometida, diante do clamor popular, cinco promotores foram nomeados para acompanhar as investigações da Polícia Civil de Minas Gerais sobre as mortes de dois jornalistas, nas últimas seis semanas, na região do Vale do Aço.
A chefia do Ministério Público designou para os casos os três promotores que atuam nas cidades contíguas de Ipatinga, Coronel Fabriciano e Timóteo, um promotor de BH e a coordenadora do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Defesa dos Direitos Humanos e de Apoio Comunitário, Nívia Silva.
Eles irão acompanhar os trabalhos da polícia, mas estão impedidos de falar sobre as investigações. O motivo alegado é que as investigações ocorrem sob sigilo, segundo a Procuradoria Geral de Justiça. Em razão das mortes dos jornalistas, toda a cúpula da Polícia Civil na região do Vale do Aço foi trocada. Um delegado-corregedor assumiu o comando.
O chefe do 12º Departamento de Polícia Civil da cidade, delegado José Walter da Mota, foi substituído pelo subcorregedor da polícia, Elder D´Ângelo, que vai acumular os dois cargos. Já Irene Angélica Franco, que atuava na Delegacia da Mulher, assumirá o cargo de delegada regional de Ipatinga, que antes era ocupado por Gilberto Simão. Mesmo admitindo relações de policiais com os crimes, Cylton negou que os delegados substituídos tenham participação neles.
Para Robson Sávio, pesquisador do Núcleo de Estudos Sociopolíticos da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), as trocas podem indicar alguma participação ou conivência dos substituídos.
"Uma mudança de chefes da polícia no meio de uma investigação grave não é comum. Aliás, isso indica que outros policiais podem ser afastados. A questão é: se as trocas forem para enterrar o processo ou dar qualquer proteção a esses delegados, o que pode acontecer, aí temos uma situação terrível".
A troca de comando na cúpula da Polícia Civil em Ipatinga, na região do Vale do Aço, não é novidade. Em menos de um ano, essa é a segunda reestruturação em meio a denúncias de envolvimento de policiais em crimes como o tráfico de drogas e assassinatos. Um dos delegados que perderam o cargo, em novembro passado, foi investigado por participação no caso Natanael, um dos crimes sem solução que foi objeto de matéria no Novojornal e estava sendo investigado pelo jornalista Rodrigo Neto, morto em 8 de março.
A chefia do 12° Departamento de Polícia Civil era ocupada até por José Walter da Mota, ele assumira o cargo em dezembro de 2012, menos de um mês depois do até então titular, Walter Felisberto, perder o posto. O delegado estava entre um dos policiais investigados de participação de uma organização criminosa responsável pela morte do soldador Natanael Alves de Abreu, 26 anos.
Ele foi morto a tiros em 28 de outubro, depois de denunciar em matéria do Novojornal  o envolvimento de Felisberto com crimes. A Corregedoria da Polícia Civil chegou a investigar o caso.
Meses antes, em maio, o então delegado regional de Ipatinga João Xingó de Oliveira foi afastado (e se aposentou) após também ser investigado pela corregedoria por relação com o tráfico de drogas e com uma organização criminosa. No lugar dele, entrou o delegado Gilberto Simão, substituído, depois da morte dos jornalistas.
O especialista em segurança pública e coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Ciências Sociais da PUC Minas, Luiz Flávio Sapori, condena a necessidade de constantes trocas de comando. "Isso não pode ser encarado como uma medida rotineira. A troca de delegados que estavam há menos de um ano no cargo é um indício claro de conivência do comando policial local com grupos de extermínio. É uma medida com um caráter punitivo", afirmou o especialista.
A prisão preventiva de dois integrantes da polícia civil que são investigados por envolvimento com o grupo responsável pelo assassinato de dois jornalistas e por mais de 20 homicídios no Vale do Aço não foi suficiente para trazer de volta a segurança a familiares das vítimas e integrantes da imprensa da região.
A dupla foi presa pela força-tarefa composta por policiais de Ipatinga e de Belo Horizonte, na tarde de sexta-feira. Para quem se sente ameaçado pela ação do suposto esquadrão da morte, as investigações, que ontem teriam resultado na prisão de um cabo do 14º Batalhão da PM, não confirmada oficialmente pela Polícia Civil, são apenas o primeiro passo de um longo trabalho.
O fato de um dos presos ser médico-legista trouxe ainda mais suspeitas aos familiares do fotógrafo Walgney Carvalho, de 43 anos, executado no último domingo, em Coronel Fabriciano. “Ele trabalhava para os legistas e para os policiais da perícia, além de entregar fotos e informações para os jornais. Não sei até onde isso pode ter relação com essas prisões”, disse uma parente do repórter fotográfico que pede para não ser identificada.
“Não sei o que pode ter ocorrido com ele. Estamos no escuro, sem saber de nada das investigações. Mesmo com as prisões, ainda não dá para sentir segurança”, disse. Ontem, as duas delegacias permaneceram fechadas.
De acordo com a Comissão de Direitos Humanos (CDH) da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), há pelo menos 20 policiais envolvidos em mais de 20 homicídios denunciados pelo repórter do Jornal Vale do Aço Rodrigo Neto, morto na madrugada de 8 de março, e por seu colega, o fotógrafo Walgney.
“Ainda vai levar tempo para termos segurança para trabalhar. As prisões são um início, mas muito mais terá de ser feito. Não adianta também prender, como se fez antes, e a Justiça não condenar os envolvidos”, declarou ontem um dos participantes do Comitê Rodrigo Neto, formado por jornalistas da região para acompanhar o desenrolar das investigações.
Cinco testemunhas da região foram levadas para locais seguros em outros estados. Uma parente próxima do repórter assassinado, que não quer aparecer por medo de represálias, também declara que as prisões estão longe de lhe devolver a paz. “Ainda mais depois do que aconteceu no último domingo (a morte do fotógrafo).
Estou apavorada. Em pânico. Não sei de nada que possa comprometer a nossa segurança, mas ainda assim a gente perde toda a confiança”, desabafou. De acordo com a mulher, a série de assassinatos e a impossibilidade de contar com a polícia local a obrigaram a ficar exilada e com medo, juntamente com o filho.
Repórteres locais também não consideram que o ambiente tenha melhorado. “Estamos cumprindo nossa obrigação, mas com medo. Não queremos nos expor além da obrigação, porque nossas vidas estão em jogo e não há ninguém que possa assegurá-las, nem mesmo o poder público”, diz um profissional de um dos três jornais diários de Ipatinga.
Apesar de todo o aparato de investigação montado no Vale do Aço e das primeiras prisões, familiares das vítimas de assassinatos denunciados pelo repórter Rodrigo Neto não se sentem livres das ações do que consideram um grupo de extermínio que age na região.
Pior ainda é a situação daqueles cujos crimes não integram os 14 inquéritos investigados pela polícia, já que o jornalista preparava mais matérias sobre vítimas do mesmo grupo criminoso. “Quando colaborei com a polícia, durante as investigações sobre a morte de meu irmão, recebi várias ameaças”, lembra um dos oito irmãos do mototaxista, Diunismar Vital Ferreira, o Juninho, de 41, umas das vítimas dos crimes que Rodrigo Neto ainda iria denunciar nas páginas do jornal em que trabalhava.
“Recebi mensagens no celular de telefones sem identificação que diziam: pare de tentar descobrir o que aconteceu, ou você será o próximo”, lembra. Diante disso, o irmão de Juninho simplesmente parou de se envolver no caso. “Tenho filho. Gostava demais do meu irmão, mas o que pude fazer, já fiz. Meu depoimento está lá (com a polícia). Agora, que eles façam seu trabalho e prendam os assassinos”, cobra.
Juninho foi morto em 2007 em uma padaria da Avenida Macapá, no Bairro Veneza I, no meio de clientes e funcionários. Um motociclista de capacete entrou no estabelecimento e acertou seis dos 11 tiros disparados no seu alvo. Segundo testemunhas, a vítima estava namorando uma mulher que também tinha caso com um capitão da Polícia Militar. Um dia antes de ser assassinado na padaria, a mulher o ameaçou. “Ela disse: ‘De hoje você (Juninho) não passa’”, lembra o irmão da vítima.
O investigador José Cassiano Guarda e o médico-legista da Polícia Civil de Ipatinga José Rafael Miranda Americano seriam os primeiros detidos durante as investigações dos assassinatos do jornalista Rodrigo Neto, no dia 8 de março, e do fotógrafo Walgney Assis Carvalho, no dia 14 deste mês. Os nomes foram revelados pelo jornal "Diário do Aço", mas não foram confirmados pela corporação.
Além de legista, Americano também atua em um hospital da cidade. Ele e José Guarda são lotados na 1ª Delegacia Regional de Ipatinga, mesma unidade onde atuava o delegado Gilberto Simão, substituído pela delegada Irene Angélica Franco. A Polícia Civil confirmou que existem indícios das participações dos dois nas mortes, mas nada será revelado antes dos depoimentos. Os suspeitos já estão recolhidos na Casa de Custódia da corporação, no bairro Horto, na região Leste da capital.
O clima ainda é de preocupação entre os profissionais da imprensa. "Nunca se viu tanta polícia nas ruas. É como se a cidade estivesse sitiada", disse um dos profissionais da imprensa referindo-se às várias blitze da Polícia Militar (PM). Ele pediu para não ser identificado.
Somente em uma avenida, três barreiras policiais foram montadas, ontem e anteontem, em um trecho de cerca de dois quilômetros. O comandante do 14º Batalhão da PM de Ipatinga, tenente-coronel Edvânio Carneiro, disse que as ações são preventivas e "para trazer segurança à população".
O jornalista Rodrigo Neto já havia comunicado às autoridades o risco que estava correndo há pelo menos dois anos. No fim de 2010, ele enviou ao Ministério Público de Ipatinga um e-mail detalhando as ameaças sofridas.
A informação foi confirmada pelo promotor Bruno Jardini, que atua na área criminal da cidade, mas que informou não ser possível localizar a mensagem. "Esse e-mail foi recebido e encaminhado para a PM". O tenente-coronel Edvânio Carneiro desconhecia o comunicado do Ministério Público, pois assumiu a chefia da corporação há dois meses.