13 de junho de 2013
Ao fiador as batatas
DORA KRAMER - O Estado de S.Paulo
É bem mais fácil
falar sobre uma possível substituição da presidente Dilma Rousseff pelo
ex-presidente Luiz Inácio da Silva na eleição de 2014 do que fazer essa ideia
acontecer.
Entre outros
motivos porque a troca seria consequência do fracasso do atual governo e ainda
há muita água para rolar até que se desenhe uma percepção negativa do
eleitorado ou que se delineie no horizonte a recuperação do terreno rumo ao
êxito na reeleição.
Mas, como é o
próprio PT que dissemina a versão sobre a candidatura de Lula dando a entender
que o partido está insatisfeito com o governo e acha que o eleitorado pensa o
mesmo, vamos ao exame da situação com o olhar fixado na realidade.
Esta nos fornece
dados indicativos das dificuldades. Primeiro deles: Lula não tem na pesquisa do
Instituto Datafolha índice de intenção de votos muito superior ao de Dilma (ele
55%, ela 51%) e em São Paulo perderia a eleição estadual para o governador
Geraldo Alckmin por 26% a 42%.
Não está,
portanto, com essa bola toda. Não se confirma o mito de que seria alvo de amor
eterno e indissolúvel por parte do eleitorado; sofre os efeitos das
circunstâncias como qualquer outro político.
Mas, até aí, é o
de menos. Se resolvesse entrar em campanha poderia revelar-se mesmo imbatível.
A dificuldade maior é de outra natureza. Nada a ver com possível resistência da
presidente em ceder o lugar, pois ela o faria se assim fosse pedido alegando
razões de ordem pessoal para não concorrer.
O obstáculo
aparentemente intransponível decorre do fato de que Lula é avalista de Dilma.
E, como todo fiador, é o responsável pelo pagamento da conta. No caso de
fracasso Lula seria o sócio majoritário.
Para construir uma
candidatura como salvador da lavoura teria de partir do princípio de que a
safra foi um fiasco e se apresentar ao público como o único capaz de fazer o
País voltar à situação que tanta saudade provoca. Isso não se faz só com
"estilo". Requer propostas concretas e diversas.
Precisaria necessariamente
se apresentar como antagonista de sua criatura, o que além de uma contradição
em termos na prática trata-se de uma impossibilidade.
As imagens de Lula
e Dilma fundidas no último comercial do PT concebido pelo marqueteiro João
Santana falariam mais que as palavras se estas também não tivessem sido
mescladas na forma de discurso único: um começava a frase, outra a completava e
vice- versa.
A fórmula funciona
na bonança; na adversidade volta-se na forma de prejuízo ao criador.
Mal maior. Com
outras palavras o ministro Aloizio Mercadante disse dias atrás que um pibinho à
toa não dói, se o poder de compra está preservado e o emprego garantido.
Não levou em conta
que baixo crescimento econômico faz doer o bolso do cidadão que transfere a dor
à parte mais sensível do organismo governamental: a avaliação de desempenho com
reflexo nas intenções de votos.
Meia-volta. O
apoio do PSDB ao pedido de perda do mandato do vice-governador Guilherme Afif,
em tramitação na Assembleia Legislativa de São Paulo, é sinal de que passou a
prevalecer no partido ideia de impor o máximo de desgaste possível ao
ex-prefeito Gilberto Kassab.
Ao alimentar o
questionamento ao acúmulo do cargo de vice com o posto de ministro da Micro e
Pequena Empresa, o PSDB quer mostrar que a adesão do PSD ao governo federal
rende mais custos que benefícios.
Até então, tucanos
ligados a José Serra defendiam o direito de Afif à dupla função. Nos últimos
dias, porém, o partido passou a se conduzir conforme concepção do presidente
Aécio Neves que não vê Kassab como santo de sua devoção.