Interesse Público
Frederico Vasconcelos
é repórter especial da Folha
O Supremo
colhe suas jabuticabas
Preso à tradição garantista, tribunal
caiu na armadilha que ele mesmo criou.
O texto a seguir, uma
análise sobre os desdobramentos da ação penal do mensalão, é de autoria do
editor deste Blog e foi publicado na edição deste sábado (14/9) na Folha:
A corte parece ter caído numa armadilha que ela própria criou e colhe hoje jabuticabas antigas. A transmissão on-line das sessões levou o homem do povo a acreditar que “finalmente a Justiça chegaria às elites”. Acompanhada como interminável novela, a exposição alimentou especulações sobre pretensões do ministro Joaquim Barbosa a disputar a eleição presidencial.
O mensalão e a impunidade estavam nas faixas das manifestações de rua. Por isso não parece convincente a polêmica entre ministros sobre se decidem preocupados ou não com a opinião pública.
Depois de anos sem o STF condenar à prisão um só político, deve soar como retórica a comparação, no voto de Gilmar Mendes, da condenação de réus do mensalão com a pena de Natan Donadon.
O novo capítulo deverá reforçar o debate político sobre foro privilegiado e isonomia. O STF desmembrou o processo do mensalão tucano, mas negou esse direito aos réus do mensalão petista.
As alfinetadas no STF reacendem a polêmica sobre a conveniência da indicação de ministros pelo presidente da República. Teori Zavascki e Luís Roberto Barroso haviam deixado a imagem, à época das sabatinas, de que não iriam interferir numa ação complexa em fase final. Ambos lideraram a votação pelo prolongamento do processo.
Se a resposta for afirmativa, voltará com vigor renovado a imagem difundida por Joaquim Barbosa de que bons advogados conseguem pautar a agenda do Supremo.