Publicado em 06/11/2013
AÉCIO:
RELUTANTE EM IR
PARA O ABATEDOURO
Três
ratos cegos.
FHC, Aécio e Serra estão parecendo eles, a um
ano das eleições presidenciais.
Podemos
mudar também para quatro ratos cegos,
se
acrescentarmos Alckmin
Por Paulo Nogueira
Pobre PSDB, inteiramente perdido e
vencido pelas circunstâncias.
Um célebre provérbio romano diz:
“Quando você não sabe para onde ir, nenhum vento ajuda.”
Os tucanos não têm a menor idéia sobre
para onde ir. Ou têm idéias confusas e diferentes entre si.
Serra quer ser candidato. É uma das
poucas coisas claras. Mesmo com a extraordinária repulsa que provoca entre
tantos brasileiros, Serra quer mais uma vez tentar a presidência.
FHC não quer Serra. Este é também um
fato da vida. Mas FHC não mandou em Serra nem quando era mais jovem e ocupava a
presidência. Que dirá agora, já entrado nos 80 anos? Poucas vezes se viu, na
alta política brasileira, alguém com tão pouca vocação para mandar como FHC e
nem alguém com tão pouca disposição para obedecer como Serra.
Logo, é jogo de soma zero aí.
E Aécio? Este parece não saber o que
quer. É revelador, a esse respeito, o noticiário da Folha. Ontem, o jornal
disse que FHC e Aécio estavam incomodados com as peregrinações de Serra país
afora em busca de apoio.
Hoje, a mesma Folha – pobres leitores –
diz que Aécio quer que as pessoas deixem Serra em paz para fazer o que quiser.
Se você leu a Folha ontem, saiu dizendo
para os amigos uma coisa. Se leu hoje, está dizendo o oposto. Se leu ontem e
hoje, pode mandar uma queixa para a ombudsman.
Toda essa confusão caótica pode
esconder o seguinte: Aécio, no fundo, não quer ser candidato numa eleição que
ele sabe perdida.
Não chega a ser uma inovação. Serra, em
2006, se esquivou para que Alckmin fosse para o abatedouro.
Serra — agora em fim de linha, até por
força da natureza — entende que não tem nada a perder. Uma candidatura vai
fazê-lo aparecer na televisão em cadeia nacional e afagar sua vaidade
inexpugnável.
Para Aécio, é diferente. Ele é mais
jovem, e talvez prefira não ser submetido em 2014 a um previsível vexame. As
próximas eleições terão dois protagonistas, duas, aliás, Dilma e Marina.
O resto vai ser o resto. Eduardo Campos
afirmou ter dúvidas sobre se Aécio vai adiante. É engraçado, mas a mesma lógica
se aplica a ele mesmo, Campos: faz muito mais sentido vê-lo bater em retirada
em 2014 para se preparar para 2018.
Aécio pode fazer o que Serra fez em
2006, sair de fina e esperar o futuro, de mãos dadas, simbolicamente, com
Campos.
É, na verdade, a decisão mais
inteligente para ele. Ele ficaria relativamente preservado de uma surra que se
afigura histórica para os tucanos.
E teria mais tempo, depois, para ver se
encontra argumentos decentes para que a voz rouca queira conversar com ele.
Sobre o Autor
O jornalista Paulo Nogueira, baseado em
Londres, é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário
do Centro do Mundo.