POVO EDUCADO E CULTO É POVO LIBERTO
17
DE NOVEMBRO DE 2013
MEIRELLES LIGA
EDUCAÇÃO A GANHOS DE PRODUTIVIDADE
Para o ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, o
salto da economia brasileira, no estágio atual, depende de uma
revolução
educacional.
"Os países onde o professor tem o status mais elevado na
cultura nacional, como Cingapura, Coreia do Sul e Finlândia, são os com maior
nível de aprendizado e os que conseguem atrair os melhores alunos para essa
carreira fundamental ao desenvolvimento", diz ele
247 - A chave para um salto econômico no Brasil é uma revolução
educacional, segundo Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central. Leia
abaixo sua análise:
O Brasil hoje é um país caro, que perde
capacidade exportadora e eleva importações, uma conjuntura insustentável ao
equilíbrio econômico do país. Por isso, é fundamental aprofundar a discussão e
as medidas para elevar nossa produtividade.
Estudo
do Banco Mundial cobrindo 40 anos e 50 países mostrou, de forma inequívoca, a
relação direta do nível de educação com a produtividade e o nível de renda de
um país.
O
progresso da educação brasileira nos últimos anos é inegável. O aumento do
número de estudantes em todos os níveis foi conquista de diversos programas,
mas principalmente do crescimento do investimento em educação.
Em
1995, o Brasil investia 3,7% do PIB em educação, bem abaixo da média da OCDE (grupo
dos países mais desenvolvidos). Hoje, investe 5,2% do PIB, superior à média de
4,8% da OCDE. Mesmo assim, seguimos com níveis de aprendizado abaixo da média
mundial e de países como México e Chile.
Se o
aumento do número de estudantes e do tempo de estudo é essencial, o que eleva
efetivamente a produtividade é o crescimento do nível geral de aprendizado,
isto é, o aumento do desempenho, medido por testes de padrão internacional.
O
estudo citado e a experiência internacional mostram que essa evolução requer
maior foco e investimento no ensino fundamental, melhor capacitação dos
professores, métodos de ensino diferentes e abandono de práticas excessivamente
teóricas.
Os
países onde o professor tem o status mais elevado na cultura nacional, como
Cingapura, Coreia do Sul e Finlândia, são os com maior nível de aprendizado e
os que conseguem atrair os melhores alunos para essa carreira fundamental ao
desenvolvimento.
O
ensino teórico, repetitivo e baseado na memória deve ser substituído pelo
ensino interativo, em linha com os jovens de hoje, com uso de técnicas que
favoreçam o entendimento sobretudo de matemática, ciências e língua portuguesa.
Isso requer mais investimento em equipamentos como computadores, laboratórios,
bibliotecas tradicionais e eletrônicas.
É
imprescindível aumentar o tempo no qual os estudantes estão efetivamente
engajados no aprendizado na aula. Ele não passa de 65% do tempo total nas
melhores regiões do Brasil, contra a média de 88% dos países da pesquisa. O
estudo conclui que, se atingir o nível médio do desempenho educacional dos
países pesquisados, o Brasil pode elevar o PIB em cerca de dois pontos
percentuais.
Em
resumo, o grande salto de produtividade do Brasil, capaz de elevar de forma
sustentável a geração de riqueza e reduzir a desigualdade, passa não só por
investimentos em infraestrutura e reformas fundamentais, mas, principalmente,
pelo aumento da eficácia do processo educacional.