segunda-feira, 25 de novembro de 2013

IMPUNIDADE MINEIRA???

Publicado em 25/11/2013
Aécio quer manter nacionalmente
esquema de impunidade mineira
Acostumado com a subserviência do MP, TJ e Polícia Mineira, 
Aécio afirmou que postura de Cardozo foi “um atentado contra a democracia”

O senador mineiro Aécio Neves (PSDB), possível candidato à Presidência da República, disse nesse sábado (23), que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, precisa esclarecer seu envolvimento no caso que apura as denúncias de cartel de trens em São Paulo. Na sexta-feira, Cardozo afirmou ter sido ele o responsável pelo envio de um relatório contendo informações sobre o suposto esquema e suposto pagamento de propina a deputados do PSDB à Polícia Federal.

Em participação na convenção do PPS, partido aliado do PSDB, Aécio disse que seu partido defende que "qualquer denúncia seja apurada com rigor", independente de qual partido pertença o denunciado. Mas ressalvou que não "pode haver precipitações, pré-julgamentos e muito menos a utilização da estrutura do Estado para um projeto político".

O ministro da Justiça informou ter recebido o texto, elaborado pelo ex-diretor da Siemens Everton Rheinheimer, das mãos do deputado estadual licenciado Simão Pedro (PT), hoje secretário de Serviços da Prefeitura de São Paulo.

Para seus críticos, Aécio tentou exigir de Cardozo o mesmo procedimento que vem ocorrendo em Minas Gerais ao falar; “houve um atentado contra a democracia". "Isso é extremamente grave, o que temos percebido no Brasil é a utilização das instituições de estado para um projeto político. É extremamente grave, jamais aconteceu antes", disse Aécio a jornalistas. "O ministro precisa esclarecer de forma clara qual foi sua participação neste processo já que ele é o comandante da própria Polícia Federal".

Aécio também disse que houve omissão do presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), Vinícius Carvalho. Antigo militante petista, Carvalho trabalhou como chefe de gabinete de Simão Pedro na Assembléia Legislativa paulista e omitiu essa relação em cinco currículos oficiais - inclusive em material entregue aos senadores que aprovaram sua indicação ao cargo. O Cade nega ter enviado as denúncias do ex-executivo da Siemens à Polícia Federal.

"O PSDB está atento para cobrar explicações seja do ministro, seja do presidente do Cade, ou de qualquer pessoa que utilize a estrutura do Estado", disse Aécio.

O ministro José Eduardo Martins Cardozo (Justiça) disse que simplesmente cumpriu o seu papel e dever ao encaminhar para a Polícia Federal relatório que apontava suposto esquema de corrupção envolvendo políticos tucanos em cartel no setor metroferroviário de governos do PSDB em São Paulo, entre 1998 e 2008. Cardozo disse que o relatório, acompanhado de documentos, lhe foi entregue pelo deputado licenciado Simão Pedro (PT), secretário municipal de Serviços da gestão Fernando Haddad (PT).

O relatório não estava assinado, disse o ministro. No entanto o jornal “O Estado de S. Paulo” identificou Everton Rheinhemer, ex-executivo da Siemens, como autor do documento. Ele fez delação premiada na Polícia Federal e na promotoria estadual – em troca do perdão judicial, conta o que diz saber sobre o conluio de multinacionais e propinas para agentes públicos.

"Em junho, aproximadamente, o Simão me procurou e entregou essa documentação com o relatório e pediu-me que encaminhasse à PF. Ali tinha uma característica: era um relatório minucioso em alguns aspectos, acompanhado de cópias de documentos. Adotei o procedimento padrão. Mandei para a PF examinar a plausibilidade."

Cardozo disse que, nesses casos, a PF faz uma análise preliminar antes de decidir que procedimento deve seguir. Como a documentação fazia referência a propinas para políticos e também a cartel de trens – esta parte já sob investigação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) –, a PF em Brasília decidiu enviar a documentação com 16 apensos para a Superintendência Regional da PF em São Paulo, onde é conduzido inquérito sobre o caso.

"Creio que aí se deu uma confusão", diz o ministro. "O delegado (Bráulio Galloni, de Brasília) achou que os documentos eram oriundos do Cade e incluiu esta informação no ofício endereçado à PF em São Paulo. De fato, não foi o Vinícius (Carvalho, presidente do Cade) que fez o encaminhamento à PF. Eu tomei essa medida, porque é meu dever. Aí surgiu esse tiroteio. Se eu não faço isso, vão me acusar de prevaricação. Da mesma forma, se o Cade tivesse recebido (os papéis) também teria que mandar para a PF."

O ministro disse que recebeu o deputado petista em sua residência de São Paulo, em um fim de semana. "Ele disse que queria conversar comigo. O Simão é um cara muito correto, muito sério, me passou a documentação. Ele disse: “preciso que investigue, já há investigações em curso, representei ao Ministério Público Estadual, então estou entregando a você".

Cardozo disse lamentar "que isso (o relatório) tenha vazado, porque pode atingir a imagem de pessoas que muitas vezes não tem nada com os fatos investigados". Ele afirmou que prontamente atenderá, "com o maior prazer", se for convidado para depor na Câmara.

"Quando a PF investiga algum adversário político, tido como adversário do governo, dizem que o ministro está instrumentalizando a PF para os desígnios governamentais. Mas quando a PF investiga aliados do governo, dizem que o ministro perdeu o controle da PF. Não há escapatória." 


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