Publicado em 05/12/2013
Lobista ensina tucano a
obter verba para obra da Alstom
No e-mail, Fagali sugeriu, entre outras coisas, que
Aloysio acionasse
o Banco Mundial para angariar recursos para a Linha
4-Amarela do Metrô
Agência Estado
Cópia
de e-mail em posse da Polícia Federal mostra que Jorge Fagali Neto, apontado
como lobista da multinacional francesa Alstom e intermediador de propinas do
cartel de trens, fez sugestões, no fim de 2006, sobre como o governo estadual
deveria agir no setor metroferroviário ao tucano Aloysio Nunes Ferreira, então
coordenador da campanha de José Serra (PSDB) ao comando do Estado.
Uma
dessas sugestões - a busca de dinheiro externo para obras de uma linha do Metrô
- acabou concretizada depois de Serra ser eleito e Aloysio assumir a Casa Civil
do Estado. A obra foi tocada por um consórcio que tinha a Alstom como sócia.
Anexada
nos autos da investigação sobre o cartel suspeitos de atuar nas gestões do PSDB
entre 1998 e 2008, a correspondência é de 26 de setembro daquele ano eleitoral.
Faltavam cinco dias para a votação e as pesquisas demonstravam que Serra
venceria no 1º primeiro turno, o que de fato ocorreu.
Na
ocasião, além de coordenar a campanha de Serra, o hoje senador Aloysio era
secretário de Governo de Gilberto Kassab (PSD) na prefeitura paulistana.
Fagali
é um dos 11 indiciados pela Polícia Federal por suspeita de ilegalidades
envolvendo contratos de energia da Alstom com o governo estadual. Os
investigadores afirmam que ele cometeu os crimes de corrupção, lavagem de
dinheiro e evasão de divisas. Fagali nega.
Antes
de se transformar em consultor do setor metroferroviário, no qual a Alstom
também atua e é suspeita de formar cartel, ele havia sido secretário de
Transportes do governo Luiz Antonio Fleury Filho por um ano: em 1994. Fagali
sucedeu no cargo justamente Aloysio, que foi secretário de Transportes de
Fleury entre 1991 e 1993. Ou seja, Fagali e Aloysio se conhecem "há muitos
anos", nas palavras do próprio senador tucano, segundo quem o e-mail de
2006 foi apenas um "alerta de um amigo" sobre a situação do setor
metroferroviário naquele momento.
O
irmão do consultor, José Jorge Fagali, foi escolhido por Serra para presidir o
Metrô, estatal do governo, cargo que ocuparia entre os anos de 2007 e 2010.
Fagali,
o consultor que mandou o e-mail com as sugestões para Aloysio, está hoje com os
ativos bloqueados na Suíça. São US$ 6,5 milhões travados pela Justiça do país
europeu por suspeita de lavagem de dinheiro.
Mensagem
No
e-mail, Fagali sugeriu, entre outras coisas, que Aloysio acionasse o Banco
Mundial para angariar recursos para a Linha 4-Amarela do Metrô. "Para a
linha 4, acredito ser possível um aditamento ao contrato do Banco
Mundial", escreveu o consultor no e-mail.
Em
abril de 2008, no segundo ano da gestão Serra, o governo assinaria com o Banco
Mundial, conforme sugerido pelo consultor, um aditamento de R$ 95 milhões ao
contrato de R$ 209 milhões de 2002 para a construção da linha 4-Amarela do
Metrô.
O
dinheiro extra foi usado para obras de ampliação da linha e aquisição de
equipamentos, como trens e trilhos. Responsável pela construção da Linha 4, o
consórcio Via Amarela tinha entre seus sócios a Alstom. A multinacional
francesa forneceu toda a infraestrutura dessa linha do Metrô, como sistema de
alimentação de energia e sistemas de controle e de comunicação.
Denunciante
O
e-mail de Fagali ao tucano chegou às mãos da Polícia Federal por meio de uma
ex-funcionária do consultor chamada Edna da Silva Flores. Ela foi secretária
pessoal de Fagali entre 2006 e 2009 e prestou depoimento aos federais no dia 9
de outubro passado.
Edna
declarou que "Fagali trocava e-mails com Aloysio Nunes acerca de
licitações de metrô em SP". Ainda em seu depoimento, a ex-funcionária de
Fagali fala da amizade do consultor com outros políticos, como Serra. Segundo
relatou Edna, Fagali era "muito amigo" do tucano. "Jorge Fagali
Neto (...) viajou com Serra para o Japão com a finalidade de tratar de assuntos
financeiros do metrô de São Paulo", disse no depoimento anexado aos autos
da polícia.
Edna
também relatou ao delegado a relação de Fagali com os irmãos Arthur e Sérgio
Teixeira, também consultores apontados como intermediadores de propinas do
cartel de trens. Sérgio já morreu e Arthur está indiciado sob suspeita de atuar
ilegalmente para as multinacionais do setor metroferroviário.
"Fagali
tinha contato quase diário com Sergio Teixeira e Arthur Teixeira", afirmou
Edna.