Publicado em 06/01/2014
Arquivo Alstom
contendo a conta “Neves”
chega em fevereiro
Chegam da Suíça provas de que políticos do
PSDB
receberam propina da multinacional francesa
em troca de contratos na área de energia
O PSDB
começará 2014 da mesma forma que terminou 2013: enrolando em um escândalo de
corrupção. De acordo com promotores, em fevereiro está prevista a chegada ao
Brasil de uma leva de documentos até então em posse de autoridades suíças. Eles
comprovam, segundo os investigadores, o pagamento de propina pela multinacional
francesa Alstom para obtenção de contratos com estatais da área de
energia.
A
papelada inclui registros bancários e movimentações financeiras feitas no país
europeu por suspeitos de se beneficiarem do esquema, como Robson Marinho, chefe
da Casa Civil durante o governo Covas, e Jorge Fagali Neto, ex-diretor dos
Correios do governo Fernando Henrique Cardoso. Até agora, dez pessoas foram
indiciadas pela Polícia Federal. Entre elas está o tucano Andrea Matarazzo,
secretário estadual de José Serra e Mário Covas.
O Ministério Público paulista e
o Ministério Público Federal esperam a nova leva de documentos há três anos. Em
agosto, quando estavam em vias de ser enviados, Robson Marinho e Fagali Neto
ingressaram na Justiça suíça para impedir que as informações sobre suas contas
chegassem às mãos dos responsáveis por investigar o caso no Brasil.
Recentemente, no entanto, o pedido foi negado. Agora só falta a autorização do
juiz do Tribunal Penal de Bellinzona, na Suíça, para que os papéis desembarquem
no País.
Marinho foi alçado por Covas ao
cargo de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado (TCE-SP). No exercício da
função, teria julgado regulares contratos da Alstom em troca de suborno. Além
de viajar com despesas pagas, Marinho recebeu, de acordo com promotores, US$ 1
milhão em propina em uma conta na Suíça, bloqueada pela Justiça. Seu patrimônio
é extenso – inclui até uma ilha em Paraty, no Rio de Janeiro.
Em uma leva de documentos já
enviada, as suas iniciais (RM) aparecem em um memorando da Alstom que
identifica os beneficiários da propina. Os indícios de seu envolvimento chamam
a atenção. Em um trecho do documento em francês, RM aparece como “ex secretaire
du governeur” ou ex-secretário do governador. Já outro diz que o dinheiro é
destinado ao “le tribunal de comptes”, Tribunal de Contas.
O desembarque dos documentos
deve complicar também a situação de Aécio Neves, devido os pagamentos feitos a
um “Neves” e a Jorge Fagali Neto. Ex-secretário de Transportes e diretor dos
Correios na gestão FHC, ele é acusado de usar o seu trânsito no tucanato para
favorecer a Alstom. Para tanto, recebeu da empresa cerca de 7,5 milhões de
euros, no banco Safdié, na Suíça.
O dinheiro, que está bloqueado,
veio de outra conta no país: a Marília, aberta sob o número 18.626 no Multi
Commercial Bank, atual Leumi Private Bank. Como “ISTOÉ” mostrou, ela foi usada
para abastecer o esquema. Pelo envolvimento com a máfia do setor elétrico,
Fagali foi indiciado pela Polícia Federal por corrupção passiva, entre outros
crimes. As informações suíças devem dar mais subsídios às acusações.
Irmão do ex-presidente do Metrô
na gestão Serra, Fagali é alvo de suspeitas de ter operado também na área de
transporte sobre trilhos com a Alstom e também com a multinacional Siemens.
E-mails entregues por uma ex-secretária dele ao MP mostram sua proximidade com
lobistas, servidores paulistas, políticos e empresas envolvidas no esquema
disseminado nas sucessivas gestões do PSDB.
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