26 de fevereiro de 2014
Marqueteiro
cobra na Justiça
dívida do
PSDB de 2010
Gonzalez tenta receber R$ 8,7 milhões da disputa
presidencial de Serra; partido reconhece débito,
mas diz que agora a prioridade é eleger Aécio
Evelson de Freitas/Estadão |
Gonzalez aconselha Serra em debate de TV da campanha
presidencial de 2010
Andreza Matais e Ricardo Brito - O Estado de S. Paulo
A cinco meses do início da campanha eleitoral gratuita no
rádio e na televisão, o PSDB se vê às voltas com uma disputa interna que
envolve R$ 8,7 milhões e opõe o presidente do partido, senador Aécio Neves, e o
ex-governador José Serra. O valor é a atualização de uma dívida que o
marqueteiro Luiz Gonzalez cobrou na Justiça, no início deste mês, por trabalho
que diz ter prestado à campanha de Serra à Presidência em 2010.
No comando
do partido desde maio de 2013, Aécio não determinou o pagamento da dívida, o
que levou Gonzalez a acionar a 2.ª Vara de Execução de Título Extrajudicial
para tentar reaver o valor cobrado dos tucanos há quatro anos. Antes de Aécio,
o PSDB era presidido pelo deputado Sérgio Guerra (PE), que também não autorizou
o pagamento.
Questionado,
o tesoureiro do PSDB, deputado Rodrigo de Castro (MG), aliado de Aécio, se
esquivou. "Quem está com esse assunto é o próprio Aécio", afirmou,
para complementar: "É ele que está acompanhando desde o início essa
questão. Tem que olhar com ele, mesmo".
Procurado pelo Estado,
por meio da assessoria, Aécio não comentou o assunto. Disse que ele está sendo
discutido pelo diretor de Gestão Corporativa do partido, o ex-deputado João
Almeida. Este, por sua vez, afirmou que a prioridade da sigla neste ano é a
campanha de Aécio à Presidência. "Não podemos paralisar o partido para
atender a uma dívida do passado. Tem que continuar tocando. Tem uma campanha
futura.
O bom senso seria pagar depois da campanha", afirmou Almeida.
‘Aporrinhação’.
Ao contrário do tesoureiro, o diretor de
Gestão Corporativa disse que Aécio não tem conhecimento da cobrança. "Não
levei essa aporrinhação a ele ainda. Estou cuidando disso. Quando a intimação
chegar eu vou ter que envolvê-lo." A ação foi protocolada em 6 de
fevereiro. O PSDB ainda não foi notificado pela Justiça.
Vice-presidente executivo do PSDB durante a
campanha de Serra, e atualmente presidente do PSDB no Distrito Federal,
Eduardo Jorge Caldas Pereira afirmou aoEstado que
o partido reconhece a dívida, mas que, no momento, adota o lema "devo, não
nego, pago quando puder". Segundo ele, "se o partido não pagou é
porque não tem dinheiro". "Na prestação de contas a gente reconheceu
a dívida. Se a gente reconheceu a dívida, a gente vai pagar (...) quando tiver
dinheiro."
Em maio do
ano passado, para ter as contas da campanha de Serra aprovadas, o PSDB
apresentou ao Tribunal Superior Eleitoral um documento no qual reconheceu
dívidas no valor nominal de R$ 6 milhões – a dívida nominal com Gonzales é de
R$ 4 milhões. Corrigida pela Justiça do DF, chega a R$ 8,7 milhões. A sigla se
comprometeu a pagá-las. Esse documento foi usado pela defesa de Gonzalez como
prova de que o serviço foi prestado.
Em
fevereiro, a Justiça pediu à empresa de Gonzalez, a Campanhas Comunicação,
autora da ação, que comprovasse os serviços prestados. O documento do PSDB ao
TSE reconhecendo a dívida foi a prova apresentada. O valor total do contrato
com a campanha de Serra foi de R$ 45 milhões no primeiro turno (quase metade do
custo total da campanha, que chegou a R$ 100 milhões, informados ao TSE), e
mais R$ 12 milhões no segundo turno.
Pelo
contrato, a empresa Campanhas Comunicação era responsável por toda a parte de
comunicação da campanha, recebendo o valor ou indicando outras empresas
prestadoras do serviço para pagamento direto do PSDB.
O advogado
de Gonzalez, Eduardo Moreth, disse apenas que "existe um saldo de campanha
que está sendo cobrado judicialmente". Gonzalez não quis falar sobre o
assunto.
Um
dirigente do PSDB ligado a Aécio entende que a dívida deve ser paga pelo
candidato Serra e não pelo partido. "O Gonzalez fez a gente perder a
eleição e ainda quer receber? A campanha é dele. Ele que pague", ironizou.
A direção do partido é mais diplomática. "A campanha é do partido. Não
tem porque o Serra pagar. O Gonzalez se precipitou. Nós iríamos fazer um acordo
após pagar uma dívida ainda da campanha de 2006", afirmou João Almeida.
Em 2006,
Gonzalez fez a campanha de Geraldo Alckmin à Presidência e, ao final, também
recorreu à Justiça para receber metade dos R$ 16 milhões que cobrava em um
acordo em cinco pagamentos. O último será depositado em abril
próximo. / COLABOROU FÁBIO FABRINI